Férias...

19 dezembro, 2009
Ahm, estou oficialmente de férias desde a última terça-feira... Normalmente, isso deveria ser legal, mas, está sendo péssimo. É engraçado como a gente (eu) quer sempre aquilo que não tem.

Antes, quando eu tinha que acordar cedo todos os dias, rezava para chegar logo o maldito fim do ano, pra eu ter tempo de fazer as coisas que gosto. E agora, eu to aqui, reclamando, estragando a minha coluna e minha vista na frente dessa tela imprestável e me sentindo mórbida e doentia por não ter mais nada pra fazer. E, o pior: insatisfeita! Talvez seja porque eu não goste de fazer nada...

Mar/Morte

14 dezembro, 2009


O mar estava revolto, a tempestade não demoraria a chegar, carregada pelos fortes ventos que uivavam e faziam dançar os cabelos pretos de Natali. O espetáculo de raios, trovões e nuvens negras sempre a encantou, mas havia um encanto a mais quando tudo isso se juntava a um mar raivoso. Sentada ali na areia fria, ela não parecia se importar que as ondas e o pó invadissem seu vestido. Era quase um passatempo observar a maré invadir a praia e tomar seu espaço seco.

Um coco caiu do seu lado, derrubado pelo vento forte e fazendo um barulho seco na areia fofa. Sem da muita importância, ela apenas o pegou e colocou à deriva como se fosse um barco de papel. Viu-o sendo levado pelo vai e vem da correnteza até sumir na imensidão do horizonte cinza. Sentiu inveja. Queria ser assim tão leve a ponto de poder ser levada. Seria mais fácil...

Dando um suspiro de enfado, ela se levantou, desgrudando o pano preto das pernas. Olhou para todos os lados sem muito interesse, apenas pra se certificar que não havia ninguém além dela ali. Não havia. Passou a olhar só para frente e ainda sentiu mais um pouco o vento nos cabelos, levantando um pouco o queixo e fechando os olhos. Abriu os braços sem ver e foi andando lentamente em direção ao mar aberto.

A água estava muito fria, fazendo-a se sentir um pouco desconfortável e a areia lhe fugia dos pés, mas os passos continuaram avante. Vez ou outra alguma tira de alga se enroscava em suas pernas ou algum ‘lixo’ do mar vinha em direção do seu rosto. Ela sempre temera os mistérios do mar, sentia asco das criaturas que imaginava viver por lá. Virou-se tentando calcular a distância da praia, percebendo que já andara bastante. A água lhe batia quase nos ombros e seus dentes se agitavam com o frio. Um fio de pânico percorreu-lhe as entranhas. E o arrependimento...

Tentou voltar, mas já era tarde demais. Uma onda a derrubou, tirando de vez o chão debaixo de seus pés. A água salgada invadiu seu corpo em goles que lhe feriam a garganta. Alguns gritos de socorro ainda saíram de sua boca, mesmo com a certeza de não haver ninguém na praia. Outra onda raivosa rebentou, dessa vez a levando pra bem mais longe, onde não podia mais alcançar a superfície. A última coisa que viu foram seus próprios cabelos como uma nuvem preta no universo verde encardido, antes de não conseguir mais respirar.

Under the Bed

07 dezembro, 2009


O ruído ameaçador vinha de debaixo da cama. Tábata, assustada, se encolhia o mais que podia embaixo do edredom. “É só minha imaginação”, repetia para si mesma, tentado voltar a dormir. Já estava quase se convencendo quando sentiu seu cobertor deslizando e lhe descobrindo devagar. Arriscou segurá-lo, sem sucesso. Alguém o estava puxando! Cobriu a cabeça pateticamente com os braços e gritou. Chamou pela mãe, pelo pai, pelo cachorro. Ninguém respondeu. Um silêncio ameaçador invadiu o escuro, ela se sentiu numa cena horripilante de suspense e ficou esperando o mostro, ou qualquer coisa que fosse, consumar o ato de terror. Mas, nada aconteceu nos minutos seguintes.

O barulho de seus batimentos acelerados era ensurdecedor no quarto calado. Ela tentou pensar em algo lógico que explicasse o ‘fugimento’ do cobertor. Talvez ele só tivesse caído... Lembrou-se das muitas vezes que pensou ter visto e ouvido coisas inexistentes. “É só minha imaginação”, concluiu.

Com alguma coragem, a menina, assustada, foi se sentando no colchão, tentando não fazer barulho. Seus olhos, já acostumados com o escuro, não viram nada de anormal em torno da cama. O cobertor estava no chão. Com um certo alívio, mas cuidadosamente, ela se abaixou e estendeu o braço para pegá-lo. A mão, trêmula, tocou o algodão macio e já ia puxá-lo quando algo se agarrou no antebraço e puxou a garota violentamente. Ouviu-se um grito de horror e um baque de algo se chocando contra o chão. Depois, novamente o silêncio.

Livre pra Sonhar

03 dezembro, 2009


Ela não estava enjoada dos pais, nem do convívio familiar. Não se tratava de rebeldia, nem de desagrado. Era simplesmente o destino. A vida a empurrara porta a fora, fez com que seu quarto cor-de-rosa ficasse pequeno demais para seus sonhos de mulher.

“401”, mostrava o rabisco mal feito na porta branca diante de Hilda. O lugar não a inspirava muito, era estranho... Sentiu um ímpeto de voltar e deixar pra mais tarde. “Você não precisa fazer isso”, se lembrou do que disseram seus pais. Mas, algo mais forte que o receio fez a chave ser colocada na fechadura e girada. Entrou. As malas com toda a sua ‘tralha’ e um colchão foram colocados dentro, ela pisou forçadamente com o pé direito primeiro. “Pra dar sorte”, pensou.

Viu um mundo vazio à sua volta, como uma folha em branco esperando para ser escrita. O desamparo foi o primeiro sentimento... Imediatamente ela sentiu saudade de sua casa, provou do gosto gélido da solidão, teve medo.

Alguma lágrima tentou cair, mas a sua velha e amiga esperança tratou de ampará-la. Com algum esforço, os sonhos guardados começaram timidamente a ganhar forma e logo corriam loucamente pelo cubículo. A imaginação tratou de fazê-la ver quadros nas paredes, uma mobília num canto e até cortinas floridas na única e pequenina janela do aposento. Hilda viu-se cercada por todos os seus desejos e planos, que finalmente puderam mostrar-se a seu coração. Ela quase pode tocar a liberdade, sentiu que era livre, como sempre quisera. Livre pra sonhar! Não pode evitar sorrir pra si mesma. Um misto de emoções (algumas estranhas) invadiu seu peito...

Quis gritar - e gritou. Quis pular - e pulou. O colchão cor-de-rosa era o melhor pula-pula do mundo! Uma música estranha ecoou na sua mente - e ela cantou: “Livre! Livre! Livre! IN-DE-PEN-DEN-TE!”

Alguém bateu na porta: O vizinho debaixo tinha um bebê.

Eu, Eu Mesma e a Crise (Depressiva)

23 novembro, 2009
É sempre de repente, quase gozado. Eu estou lendo um livro ou fazendo qualquer outra coisa banal, quando sinto sua presença a me espiar dum canto qualquer. Não me causa espanto, afinal já há anos que ela me acompanha. Talvez uma espécie de aborrecimento, como quando termina um mês de férias.

Eu finjo indiferença, com a inocente esperança de que ela se vá, mas logo ouço seus pés se escorregando para mais perto de mim. Num lapso de coragem, eu olho seu rosto e encaro seus olhos negros como quem aceita uma sentença. Sem pestanejar, ela tira um par de algemas do bolso e acorrenta seu pulso ao meu. E em seguida, como um trabalhador enfadado que acaba de bater seu ponto, ela se senta preguiçosamente e se põe a fumar um cigarro fedorento.

Como uma raio, uma raiva percorre meu corpo e eu me revolto, me debato, jogo qualquer objeto na direção dela. Grito que saia. Essa cena se forma na minha mente como um sonho, um desejo, mas eu não me movo.

Um grande nó se forma na minha garganta eu não consigo gritar como gostaria e expulsá-la. Nem tampouco dar um pontapé. Eu apenas observo a figura despreocupada e esboço alguma lágrima querendo correr o rosto. O máximo que sou capaz é morder o lábio inferior em sinal de ira. Nossos olhares se encontram e se desafiam durante alguns segundos. Ela para de pitar o cigarro e baixa os olhos, mas se contenta apenas em dar de ombros e dizer baixinho, fingindo piedade: “Você não tem remédio, querida.”

E, tirando um monte de baralhos velhos da manga: “Que tal Truco?”

//A todas as pessoas que comentaram nos últimos posts e que não foram respondidas: Eu estou sem internet em casa. Portanto, talvez eu demore a responder os recados, mas prometo não demorar MUITO. ^^

O Segredo

08 novembro, 2009


O sol escaldante de janeiro se refletia no vidro redondo, fazendo a máquina de chicletes parecer algo divino, cintilante. Ana observava a bolinha vermelha - sua favorita - bem perto da saída apertada. Segurava a moeda de um real, acariciando o desenho da esfinge e imaginando o doce chiclete de framboesa sendo esmagado impiedosamente por seus molares e destilando, por mal, todo o sabor guardado na redoma colorida de açucar. Era uma especie de ritual, que aprendera há alguns dias: O pensamento positivo direcionado. "É preciso imaginar a coisa acontecendo", diziam as pessoas do tal filme.

Vagarosamente estendeu o braço direito e colocou a moeda na pequena abertura, com os olhos apertados pelo esforço de pensar forte. "Click!", a moeda chegara a seu destino. "Plof!", a pequena esfera se depositou na palma da mão de Ana. Olhos abrindo devagar... Bolinha amarela!

Magia Negra

02 novembro, 2009



A festa de Haloween fora o máximo, muita bebida, fantasias inusitadas e música alta. Era quase meia noite quando Hellen resolveu ir para casa. Como prometera aos pais, chegaria mais cedo, pois o local da balada era, propositalmente, bastante ermo e próximo a uma grande floresta de carvalhos. Ela mesma concordava que era assustador e perigoso.

Como a festa ainda não havia terminado, ela chamou um táxi por telefone e esperou sozinha ao lado de fora do casarão barulhento. Depois de 20 minutos com frio e com a paciência já esgotada, ela resolveu seguir a pé. A estrada não ficava tão longe e, chegando lá poderia pegar uma carona ou um ônibus. Helen só precisava passar alguns metros dentro da floresta e isso a atemorizava de algum modo. Já ouvira várias lendas sobre a noite de Haloween, inclusive sobre bruxas e espíritos malignos. “Besteira!”, pensou e foi andando devagar, tentando não fazer muito barulho, seus olhos arregalados vigiavam de uma lado para outro, ela tremia de medo sem perceber.

Faltava pouco... Ela respirou aliviada ao avistar, alguns metros adiante, luzes de faróis dos carros que passavam na estrada: já estava quase saindo da floresta. Foi quando ouviu um som, um tipo de batuque muito animado vindo de outra direção, mais ao lado. Sentiu um pouco de curiosidade e, ao mesmo tempo, muito medo. Tudo o que ela queria era sair daquela floresta escura, mas, quando percebeu seus pés já a levavam na direção do som.

Se aproximou o bastante para contar sete ou oito pessoas pulando e dançando em torno de algo muito luminoso, que deveria ser de uma fogueira. Uma coisa muito quente a invadiu, ela se sentiu leve e muito atraída para mais perto daquele ritual. Mais uma vez sem perceber, já estava há poucos metros e pode ver que todos eram mulheres e vestiam roupas sensuais e esdrúxulas. Elas dançavam num ritmo muito frenético e pareciam estar em transe. Não viu ninguém batucando a música e sentiu uma estranha energia, algo como... MAGIA! Hellen reparou nas expressões sinistramente felizes e sentiu muito medo de ser descoberta ali.

De repente, a dança parou e todas gargalharam muito alto, abrindo a roda num semi-círculo e mostrando o que havia no centro: uma moça nua, que também aparentava estar em transe. Nesse momento, percebeu que todas elas carregavam facas nas mãos e que havia, perto da fogueira, uma grande haste de madeira, em formato de cruz. Só uma palavra veio à sua mente: Sacrifício!

Sentiu uma espécie de náusea e por pouco não desmaiou. Pensou em chamar a polícia, em tentar salvar a garota, mas só conseguiu correr muito. Lágrimas grossas saíam de seus olhos e ela nem percebeu que ia na direção errada... Já tinha corrido muito quando percebeu que estava perdida no coração da floresta. Olhou em volta e só viu escuridão... De repente, começou a ouvir o batuque novamente, mas dessa vez sentiu que estava sendo seguida.

Considerações

29 outubro, 2009
Ali estava ela, dividida ao meio, pensamentos e sentimentos á mil por hora. "Sim? Não? Quem sabe um talvez? Não! 'Talvez' é o fim..." Logo à sua frente, como que provocando, estava a carta. Aquela carta que mudara seu dia, sua semana e que, talvez - se ela dissesse sim -, mudaria sua vida. "Espero sua resposta em 24 horas", dizia o post-scriptum destacado no final da página. "É muito pouco tempo pra uma decisão desse porte", pensou. Suas pernas se debatiam furiosamente num tique de ansiedade.

Na mesma mesa onde repousava o envelope recém aberto, havia um porta-retratos empoeirado, onde ela se via de véu e grinalda ao lado de seu marido. Lembranças vieram à mente daquela mulher vivida, muitas delas acompanhadas de amarguras. Seu casamento já se arrastava há mais de 15 anos e só sobrevivia graças à sua apatia e, talvez, à convenções preconceituosas a respeito de mulheres divorciadas. A vida a dois já não passava de mero compromisso formal: nada de sexo, intimidades, risos e momentos agradáveis. Às vezes ela se perguntava por que ainda dormia ao lado daquele homem estranho.

Mas... mesmo assim. Aceitar seria arriscar demais. Afinal, se ela não tinha amor, pelo menos o conforto financeiro ainda era digno de consideração. Olhou em volta, para o luxo que a rodeava e que, de algum modo, já fazia parte dela. Do fundo de seu coração, considerava impossível sobreviver sem tudo aquilo que compunha seu mundo de dondoca. Apertou o papel, já meio desgastado pelas mãos suadas e, por um milésimo de segundos, conseguiu controlar o ímpeto de amassar, jogar no lixo e acabar com aquela insensatez. Ao invés disso, jogou a cabeça pesadamente sobre escrivaninha, num ato de desespero e dúvida.

À mesma hora do dia seguinte, só havia uma pessoa na linha de partida do trem que ia para Londres. Um tipo bem apessoado, meio grisalho, atlético e elegante. Parecia ter perdido a condução ou então aguardar alguma companhia retardatária. Os olhos tristes e cansados fitavam os dois tickets de embarque na palma da mão com perceptível desapontamento. Duas horas depois, algum sortudo acharia um deles, abandonado cuidadosamente sobre o banco de cimento.

//Ah... É bom estar de volta! Lay novo... O bege me persegue!
Quero agradecer a todas que comentaram no meu último post. Senti saudades dessa amizade, mesmo que tenha sido breve o distanciamento.

Distimia

19 outubro, 2009
"Eu nem sei porque me sinto assim
Vem de repente, um anjo triste perto de mim"

O sol parecia queimar a minha pele de propósito, como se zombasse do meu ridículo dia ruim. Algumas pessoas paradas na calçada conversavam ou olhavam alguma virtrine; alguém me perguntou como chegar à loja x, minha boca respondeu mecânicamente: "vá direto e dobre alí". Estranhamente, tudo parecia estar num mundo paralelo ao meu, as vozes entravam por meus ouvidos e se transformavam em ecos distantes. A maldita bolha me envolveu denovo na sua névoa sombria. Eu me sentia leve e pesada ao mesmo tempo, como se estivesse caminhando em saltos pela crosta lunar.

"Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor"

Um vazio intenso e frio era tudo o que existia ali dentro. Lá fora, a vida se movia como num sonho brilhante, inacessivel e contrastante com meu universo preto-e-branco. Quase todos os meus sentimentos deixaram de existir, como numa falência múltipla e os que restaram ocuparam todos os espaços vazios... Medo, culpa, desesperança. Enquanto eu caminhava para casa, pensava no meu futuro e presente, fazendo uma equação louca em busca de respostas. "Futuro? Futuro?" A minha propria existência se projetou na minha mente como uma disforme massa, tão maleável a ponto de escorrer entre os meus dedos. "Quem roubou minha serotonina?" Meus olhos choraram lágrimas secas.

"Só me deixe aqui quieto... Isso passa
amanhã é um outro dia, não é?"
(Via láctea - Legião Urbana)

Frescuras de Mulher

16 outubro, 2009
Dia cheio! Jéssica subiu as escadas do apartamento ainda limpando as lágrimas que insistiam em manchar seu rosto de vermelho. Pegou o molho de chaves na bolsa e logo estava na sala, onde se jogou pesadamente no sofá. Ouviu sons de televisor vindos do quarto e sentiu-se aliviada por não estar só em casa. Até se animou a andar até o outro cômodo onde André, seu marido, assistia a um jogo de futebol. Pareceu não perceber a presença da mulher, que se aproximou, intencionando abraçá-lo.

-Amor...
-Hum?-respondeu ele, secamente, fazendo um gesto incomodado de 'chega pra lá'.
-Sabe, meu dia não foi dos melhores - continuou ela, persistente.
-É mesm... Olha o gol, olha o gol!!

O jovem casal vivia sob o mesmo teto há quase três anos e podia-se dizer que eram felizes. Porém, há três ou quatro meses, Jéssica andava meio triste, cabisbaixa e às vezes dizia sentir-se deprimida. André percebeu a mudança da mulher, mas não deu muita bola, achava que era pura 'frescura de mulher' ou algum teatrinho pra chamar a atenção. Seus amigos sempre lhe diziam que as mulheres eram assim mesmo e que não se preocupasse. Reforçavam a tese contando seus próprios casos domésticos.

-Amor... - Algumas lágrimas voltaram a cair de seus olhos.
-Oi? - sem tirar os olhos da TV.
-Olhe pra mim! - Ela virou a cabeça dele suavemente em direção a seu rosto.
-O que foi?! Será que eu não tenho nem mais o direito de assistir meu futebol em paz? - Fez um gesto brusco, se desvencilhando das mãos dela.
-Eu só queria conversar...
-Você não pode esperar um pouco? - Gritou ele, muito irritado.

Jéssica não respondeu, apenas se levantou em silêncio e lágrimas e saiu do quarto. André se sentiu aliviado por finalmente poder ver seu time jogar. Logo que a partida terminasse, pediria desculpas à esposa manhosa e tudo ficaria bem...

Fim do jogo! A partida tinha sido emocionante, decidida em favor do seu time nos últimos segundo de acréscimo. Satisfeito, ele foi até a cozinha beliscar algo na geladeira e aproveitar pra embromar a mulher. Mas, Jéssica não estava na cozinha... nem na sala! Talvez ela tivesse saído ou ido ao banheiro. Foi conferir por via das dúvidas.

“Amor... Você está aí?". Ouviu sons de chuveiro ligado e abriu a porta, que estava destrancada. Lá estava ela, mas não como ele imaginava. Havia muito sangue no chão do box, formando uma pequena piscina vermelha que envolvia o corpo seminu dobrado no chão. A água fria do chuveiro caía sobre o colo que apoiava o pulso rasgado. Uma navalha enferrujada repousava entre os dedos de Jéssica.

André agiu mecanicamente como se aquela cena fizesse parte de um sonho. Desligou o chuveiro e tocou o pescoço de sua esposa em busca de batimentos. Nada... Ficou paralisado um instante, olhando o rosto pálido e molhado. Ainda havia sons de televisor no apartamento do 3º andar quando alguém pulou da janela.

Vida de Cupido

14 outubro, 2009


"Próximo!"
Gritou o auto-falante. Pedro entrou pela pequena porta em forma de coração, que logo se fechou atrás de si. Sentada atrás de uma pilha de papéis estava uma mulher corpulenta com enormes óculos pendurados no nariz puntudo.
-Más notícias pra você seu fanfarrão!-disse ela, com os olhos no teto.
-Quero novidades, tá?- Respondeu o cupido, com seu cigarro no canto da boca.
-Pra começar, onde está seu uniforme?
-Você chama aquela fralda nojenta de uniforme? Eu não sou bebê!
Ela deu de ombros, passando as mãos sobre a pilha de papéis
-Você tem 3187 advertências... Se eu fosse você cuidaria melhor de seu cargo...
-Dispenso seus conselhos! Vamos ao que interessa. Passa logo a parafernália.
-Estou falando sério, seu bunda-mole! Voce sabe muito bem o que acontece com Anjos desobedientes, não é?
Ele engoliu seco, passando as mãos pelos cachos
-Talvez o Limbo não seja tão mal...
-Não se esqueça de que Ele ouve tudo...
-Deixa de lenga-lenga, mulher! Tem mais 9 000 anjos na fila, sabia?
-Sei... Bem, aqui está seu roteiro - disse, entregando-lhe um pequeno papel cor-de-rosa.
-Onde estão as flechas?
-Aqui... Mas, olha. Vê se não desperdiça. Sua pontaria é uma das piores...
-Eu sou um anjo, não um arqueiro.
Encaminhou-se para um pequeno compartimento vermelho, onde foi fechado por uma porta de vidro. Aproveitou para fazer um gesto obceno enquanto a mulher apertava o botão escrito UTT (última tecnologia em teletransporte).

O papel dizia: "Encontro acidental na Av. Coelho Gordo às 2:00h em ponto". E lá estava ele, pitando seu cigarrinho numa nuvem fofa, com meia hora de adiantamento para cobrir qualquer imprevisto. "Como se o 'excepcional' Destino deixasse escapar alguma coisa", pensou ele, com ironia, mal-humor e resquícios de inveja. Enquanto esperava, pegou uma das flechas que carregava e ficou observado seu brilho cor-de-rosa. "E pensar que até música já fizeram contra nós... Esses humanos folgados que nem são capazes de arranjar um par romântico sozinhos... Onde Ele estava com a cabeça quando inventou tais criaturas?? Se fosse eu..." Teria completado seu devaneio, não fosse um barulho seco de uma trombada. "São eles!"

Parecendo não ter muita prática, posicionou no arco a flecha que já segurava, mirou e "blim!". Acertou em cheio a moça, que logo se apaixonou perdidamente pelo rapaz que catava seus livros pelo asfalto. O Próximo passo, foi fazer o mesmo com o garoto, que deu um pouco mais de trabalho, sendo necessárias três flechas. “Tudo bem... Ao menos só desperdicei duas". Sorriu de contentamento e olhou o relógio para marcar seu novo recorde. Mas, algo estava errado... Ainda eram 1:40h!

"Essa não..." Sentiu uma pontada no coraçãozinho de anjo."Flechei o casal errado? Só pode ser brincadeira...". Começou a chorar e roer unhas. Sabia que errar de casal era um crime gravíssimo, previsto na constituição do céu. Já ouvira muitas histórias de casais que não eram pra se apaixonar e terminaram em tragédia. Romeu e Julieta era um dos casos mais famosos... Diziam boatos que o cupido distraído foi condenado a mais de 100 anos como estátua de chafariz.

Com os nervos à flor da pele, decidiu esperar até as 2 h. Quem sabe o Destino (aquele maldito pregador de peças) não se distraiu dessa vez? Mas, para seu desespero, depois de vinte minutos, lá estava o casal certo. “Estou mesmo perdido”, pensou, aflito, arrancando alguns fios louros da cabeça. Como quem vai pra forca, cumpriu sua última tarefa de cupido e foi voando devagar para o céu, onde no mínimo, perderia suas asas prateadas.

Esperou novamente na fila, cabisbaixo. Havia 20 cupidos à sua frente. Pensou se algum deles também tinha cometido um erro como o dele... "Claro que não... Afinal, EU sou o verdadeiro cupido burro ". Sua vez chegou 'voando' e logo estava diante da mulher gorda com olhar de deboche.
-Eu não disse?? Olhe só o que você fez!
Enquanto ela remexia algo debaixo da mesa, Pedro começou a balbuciar desculpas.
-Você tinha raz...
"SURPRESA!"
Num instante, apareceu um bolo enorme e vários anjos saíram de todos os cantos.
-Parabéns pra você... -Cantaram todos
Ele não entendeu nada, mas ficou feliz assim mesmo.
-Obrigada gente... Eu nem lembrava que fazia aniversário...
-Sopre as velinhas!!
Ele soprou e, do nada surgiu um presente enorme, acompanhado de um pequeno bilhete:

"Peço desculpas pela pegadinha, querido amigo.
Feliz aniversário!
Ass: Destino"

Misteriosamente, a gigantesca caixa estava vazia, não havia presente nenhum...
"Ironia do Destino", pensou rindo.

O Cravo e a Rosa

27 setembro, 2009
Debaixo da sacada duma casa rica qualquer, havia um jardim de inverno onde várias flores conviviam juntas e encantavam os transeuntes. Entre elas, uma rosa grená e um cravo amarelo, amantes desde a última primavera. O namoro dava gosto de se ver, ambos viviam um para o outro, exalando perfumes apaixonados e trocando juras de amor eterno.

Todas as flores eram simpáticas ao casal, exceto um par de orquídeas que vivia no parapeito da janela. Era antiga a rincha entre orquídeas e rosas, ambas almejando o título de rainha das flores. Mas, como estava apaixonada e feliz, a rosa esbanjava esplendor e beleza, deixando a rival em papel coadjuvante e cheia de inveja.

Pois que a inveja transformou a rincha em ódio e o ódio em intriga. Logo espalhou-se a fofoca de que um certo cravo amarelo andava arrastando as pétalas para a maria-sem-vergonha, que por sua vez já não tinha uma fama muito respeitável. A rosa, geniosa como ela só, ficou furiosa ao ouvir tais rumores e logo tratou de se vingar: Deixou-se beijar pelo beija-flor garanhão que sempre a galanteava, provocando a ira do amante traído.

Foi então que começou a discussão. Muitas ofensas foram trocadas entre o casal, traição era uma acusação grave. As margaridas bem que tentaram apartar a briga, mas nem foram ouvidas em meio a tanta mágoa e decepção. Ambos estavam com o coração partido e seriam capazes de tudo em nome da raiva e do ciúme.

A rosa foi a primeira a apelar para a violência, usando seus espinhos para ferir quem a tinha ferido. O cravo, meio desnorteado pelo golpe, deu-lhe uma sacudidela, fazendo cair várias pétalas. A briga só parou quando ele já sangrava. A rosa, meio despedaçada, sentiu o remorso imediatamente ao ver o estado em que se encontrava seu amor. "O que eu fiz?", desesperou-se. Pediu desculpas e prometeu cuidar dos ferimentos, mas já era tarde. O cravo, moribundo, desmaiou para a morte e única coisa que ela pode fazer foi chorar, murchando logo depois, para a alegria de quem tinha causado aquilo tudo.

E, finalmente, as orquídeas conquistaram a majestade. A rosa, murcha, foi arrancada junto a seu amor, como Romeu e Julieta. As outras flores, muito tristes prometeram nunca esquecer daquele lindo amor e para isso compuseram uma linda cantiga, que seria por muitos anos cantada em centenas de jardins pelo mundo...

"O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada,
O cravo saiu ferido,
E a rosa despedaçada.

O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar,
O cravo teve um desmaio,
E a rosa pô-se a chorar. "

// Já contei pra vocês que trabalho numa floricultura? Pois que nesta semana o que não faltam lá são rosas e cravos. Amo flores, elas me inspiram literalmente! Espero que tenham gostado...

Desencanto

23 setembro, 2009


“E viveram felizes para sempre...”

Cinderela repetia a frase com deboche enquanto tentava abotoar o apertado corpete cravejado de diamantes. Depois de dez anos de “felizes para sempre”, já estava difícil manter o corpinho de modelagem 38, que infelizmente era a de todos os seus vestidos de festa. O baile daquela noite era o décimo daquele mês, seus pezinhos calejados pelo cristal do sapato já não aguentavam mais dançar a maldita música romântica de sempre, ela não via a hora de inventarem um jeito mais prático de príncipes encontrarem princesas. Estava muito mal-humorada naquele dia, mas deveria estar linda e sorridente para ser exibida ao lado do seu marido na festa. Mulheres serviam, dentre outras poucas coisas, para isso.

Depois de muito sufoco para vestir as sete anáguas e ajeitar o penteado (sem chapinha), a famosa Cinderela estava pronta. Seu marido já a esperava na carruagem, impaciente. Disse meia dúzia de murmúrios pela demora e chamou o chofer para guiá-los através da floresta escura. Eles não costumavam conversar muito e portanto a viagem foi silenciosa. Até demais! Ela bem que gostaria de lhe contar sobre sua rotina, seus filhos e sobre os livros que lia, mas não era comum que maridos desses esse tipo de abertura às esposas.

Chegando ao palácio onde aconteceria o evento, ambos se encaminharam para entrada do salão. Ele a levando pela cintura como mandava a etiqueta da época, ela sorridente e cândida, como mandava o teatrinho que sempre representava nessas ocasiões. A recepção foi calorosa e a noite prometia ser longa. Havia muitos quitutes reais, a música era boa e belíssimos vestidos farfalhavam naquele recinto, tudo muito requintado. Mas, para aquela princesa enfadada, era só mais uma festa estranha com gente esquisita.

Em certo momento, foi deixada a sós com outras mulheres que não conhecia. O assunto entre elas era a escolha daquela noite. O noivo tinha péssima fama de ser mulherengo, fanfarrão e carrancudo, mas mesmo assim era considerado o príncipe encantado da vez, todas as solteiras queriam ser escolhidas. Passou pela sua cabeça a noite em que fora escolhida por causa do sapato de cristal. Lembrou-se da ilusão que também tinha a respeito de “príncipes encantados”. Só depois veio a saber que eles não existiam, mas apenas faziam parte das fantasias de moça virgem. Todo o romantismo e perfeição não passavam de meros sonhos bobos, dissolvidos ao primeiro contato com a realidade: Homens eram todos iguais.

Pensou em dizer algo às jovens iludidas, tentar abrir seus olhos, mas, refletindo mais um pouco, preferiu não apagar o brilho daqueles olhares: Elas também tinham o direito de esperar seu príncipe encantado e viver a emoção e se casar com ele. Mesmo que o encantamento terminasse à meia-noite.

Pais Separados

14 setembro, 2009

"Que não seja imortal posto que é chama..."


Eu sempre achei bem normal essa coisa de pais separados, nunca tive preconceitos nem medos a respeito disso. Mas, tudo é diferente quando a família em questão é de uma amiga, colega, qualquer uma que não a sua. Não que agora eu esteja com medo, mas estou vendo as coisas por um ângulo diferente: O de quem sente na pele. A separação, afinal, tem lá seu peso sentimental. Sorte que eu já esperava por isso e não estou sofrendo agora por ilusões quebradas. Há tempos que a harmonia e o amor estão em falta. E eu já sou madura o bastante para aceitar que é possível errar na escolha de um cônjuge e que não existe obrigação de sustentar uma relação quando não há felicidade. Essas coisas eu fui aprendendo com a vida, seja ouvindo brigas por trás da porta, seja sentindo a falta de paz no meu lar, ou mesmo com meus próprios namoros. A vida e os amores, afinal são assim.

"Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto..."

Que Deus me ajude a não ter medo.

Cúmplices

10 setembro, 2009
Quebrando a monotonia da paisagem do parque, que sempre ficava vazio aos domingos, duas moças caminhavam tranquilamente entre os canteiros. Eram melhores amigas desde a infância e trocavam confidências a respeito de tudo que se passava em suas vidas. O assunto do dia era o rapaz com quem uma delas pensava em namorar firme. Nada parecia haver de mais importante naquele momento além do papo agradável e cheio de confissões. Tanto que passaram despercebidos os movimentos de uma sombra por tras de uma touceira.

Como que vindo do céu, um homem avançou rápidamente e agarrou a garota mais próxima, tapando sua boca e apontando uma arma para sua cabeça. "Quero dinheiro", dizia ele. Parecia drogado. A acompanhante da vítima soltou um gritinho agudo e, para surpresa do bandido, atirou o que tinha nas mãos: seu celular, que ainda era daqueles antigos e pesadões. O aparelho bateu na testa do marginal, fazendo-o se desequilibrar, libertando a sua refém, chorosa e paralisada de medo. A arma, por sua vez, foi parar na grama e, logo depois, nas mãos da amiga-heroína, que, noutro reflexo impensado, deu dois tiros sem mira. Um deles acertou o agressor.

As duas amigas se abraçaram e choraram pelo susto e adrenalina. Apesar do barulho, ninguém mais apareceu na cena, continuavam a sós com o suposto morto naquele parque deserto. Ainda sem recobrar o fôlego depois do que tinham acabado de passar, surgiu uma dúvida no ar: O que vai acontecer quando descobrirem o 'cadáver'? Sabiam que existia legítima defesa, mas, naquele momento de angústia, só conseguiram se imaginar, com pavor, dentro de uma cela lotada, condenadas por assassinato.

O rio que passava por alí perto foi a primeira e única opção a ser pensada. O corpo pesava bastante, mas, sem muita dificuldade, foi lançado na água marrom, afundando rápidamente.
A arma, já limpa pela barra de uma saia, também foi jogada.

Como nos tempos de infância, quando aprontavam travessuras secretas, as duas seguiram, cautelosas, para alguma lanchonete mais distânte possivel dali. O sentimento era de alívio e cumplicididade. Desde então, houve entre elas algo maior, que as uniu por muitos anos além da amizade: Um segredo.

Aprender Com a Vida

25 agosto, 2009
"É só você que tem a cura pro vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi..."

Nostalgia é uma das palavras que me definem. Meu coração sente saudade o tempo todo do passado. Me lembro da minha infância, dos aniversários, das fantasias pueris, da adolescência conturbada, dos excessos da depressão, do primeiro beijo. Tudo isso pesa quando eu tento me definir como alguém feliz, normal ou satisfeita. A pessoa que escreve aqui agora não é a mesma de anos trás. As experiências vividas, ano após ano, fase após fase, modificaram e modificam meu EU. É como um quebra-cabeça que a cada nova peça vai se tornando uma figura diferente.

Sentir nostalgia é uma forma de homenagear o passado, de olhar pra trás e recordar os sentimentos, as cores, o gosto das experiências que hoje não passam de páginas viradas sujeitas às traças do esquecimento. O melhor que isso pode nos acrescentar é poder ver tudo por um ângulo diferente, já sem as ilusões e sentimentos à flor da pele que em certas ocasiões nos impedem de ver a verdade às vezes tão óbvia. Isso se chama" aprender com a vida".

Abduzida

16 agosto, 2009
Já passavam das quatro da madrugada, era a noite mais fria do ano; a garota magricela dormia profundamente debaixo de seu macio edredom. De repente, um barulho violento de janela se abrindo à força interrompeu aquele sono e, num segundo, não havia mais ninguém na cama. De pé ao lado da cabeceira e muito assustada,  ela tremia, pelo frio e pelo medo. Uma luz forte e piscante invadia o quarto, e logo duas criaturas escorregaram para dentro. Os dois homenzinhos feios pareciam feitos de massa de modelar alaranjada; as cabeças eram ovais, carecas e grandes demais para o corpo. Bocas e Narizes eram quase imperceptíveis, o que dava a impressão de não existirem naqueles rostos. Em compensação, os olhos eram enormes e brilhantes. Pareciam muito frágeis, com seus corpos magros e altos demais. Era possível ver as costelas quando respiravam, estavam nus e sem armas.

Ela sentia que eles queriam pegá-la, e essa ideia a aterrorizava de tal forma que teve vontade de chorar. Mas não chorou, correu. Gritou muito, mas já não havia ninguém em sua casa. "Será que todos foram abduzidos?" Sentiu muita raiva e o pavor aumentou consideravelmente, só conseguiu pensar no banheiro. Correu para lá e trancou a porta. Sentada no vaso sanitário, começou a chorar muito. Desejava que aquilo fosse um pesadelo, queria seus pais de volta, se sentia sozinha e tinha muito medo.

Engoliu seco quando ouviu barulhos estranhos próximos de onde estava: eles a procuravam pareciam ter encontrado. Prendeu a respiração, o pânico tomou conta de seu corpo. Viu na porta a chave se virar lentamente, destrancando. Pensou em segurá-la e impedir que abrisse, mas só conseguiu correr para o box. Ouviu o barulho familiar de porta sendo aberta e as duas sombras se aproximaram por trás da cortina. Seu coração batia freneticamente. Uma mão alaranjada invadiu sua proteção e logo ela estava cara-a-cara com seus raptores. Achou-os tão terríveis quanto nos filmes de terror e gritou. Fechou os olhos quando sentiu agarrarem-na pelos pés. Foi puxada violentamente, como numa rasteira e sua cabeça bateu forte contra o piso. Meio atordoada pela queda, ela se sentiu arrastar rapidamente, um liquido quente molhava seu cabelo. A última coisa que viu foi a luz piscante, meio embaçada.

Príncipes, Princesas... e Eu!

20 julho, 2009
Era pra ser domingo. Eu, como sempre tentando aproveitar os últimos vestígios de sono e na expectativa de não ser ainda segunda-feira... E não era mesmo! Depois de muitos cochilos atormentados, eu resolvi me levantar logo e acabar com o suplício. Sentei na cama e me espreguicei, já tentando localizar minha pantufa. Ainda meio zonza, percebi que o ambiente estava um pouco... Diferente!

A primeira surpresa foi quanto à mobília escura e pesada, muito diferente de meus móveis marfins. E... Onde estava meu computador?! "Jesus Sacramentado!" Fiquei tentando lembrar se tinha bebido na noite anterior, mas não... Eu não bebo! Resolvi me deitar de novo, é claro que era mais um sonho maluco. Cobri a minha cabeça com o cobertor (que não era meu edredom listrado) e apertei forte os olhos tentando dormir no sonho pra acordar na realidade. Não tinha muita lógica, mas foi a única coisa que consegui pensar.

Foi aí que escutei um ruído forte de porta se abrindo. Arregalei os olhos mesmo estando cobertos, mas não me movi. Passos delicados faziam barulho no assoalho, alguém parecia murmurar baixinho enquanto mexia em alguma coisa. Era uma mulher... Mas quem? Meu pensamento foi cortado ao meio por uma mão que puxou sorrateiramente meu abrigo macio.
_Sabia que já estava acordada!

Acho que fiz a cara mais assustada do mundo, mas a moça, vestida em trajes de empregada, não pareceu notar. Engoli seco imaginando que ela ainda não tinha reparado que eu não era a pessoa que ela pensava que eu era... O que ela ia fazer se percebesse? Enquanto ela limpava a lareira (isso mesmo, lareira!), eu fui escorregando da cama sutilmente, na esperança de conseguir fugir antes que ela reparasse em mim... Eu vestia um camisolão branco feito de seda que me servia perfeitamente apesar de ser bastante comprido, mas não reparei muito nisso... E levei um belo tombo quando tropecei na renda. A garota, que deveria ter uns 15 anos, no máximo, olhou assustada na minha direção e correu ao meu socorro...

_Tome mais cuidado! Você podia ter quebrado uma perna, sabia?
Eu me levantei esperando a reação dela, mas o que recebi foi um belo puxão de cabelo. E logo apareceu uma escova... Haviam cabelos lisos e longos na minha cabeça, que pareciam ser bem familiares à moça. Ela os penteava distraidamente.

Olhando melhor em volta, eu pude perceber grandes janelas de madeira, paredes muito altas e um tapete bastante bordado junto à porta. A lareira estava acesa agora e foi quando me dei conta de que estava muito frio. Haviam candelabros por toda a parte. Depois de fazer um penteado bastante complexo, a empregada foi até o armário gigantesco e me trouxe um vestido florido que vinha acompanhado de várias anáguas.
_Vista isso e desça para comer, princesa.

Princesa? EU? Aquilo estava cada vez mais confuso! Onde eu estava? Esse sonho esquisito estava indo longe demais... A menina saiu apressada e fechou delicadamente a enorme porta, me deixando sozinha naquele museu. Eu, ainda de camisola, fui correndo até a janela, na expectativa de uma fuga, mas logo desisti. A paisagem lá fora era de um enorme pátio gramado, seguido por uma mata fechada e, logo depois pelo mar. Seria impossível fugir dali. Além do mais, meu quarto parecia estar na mais alta torre de um castelo rústico e forte.

Voltei à cama e tentei vestir aquela roupa, era melhor não causar desconfiança... Saí do quarto por um corredor que mais parecia um labirinto. O que me guiou até a parte inferior foi o cheiro de bolo mais delicioso que já tinha sentido: Eu estava com fome.

Logo que cheguei à sala onde estava a enorme mesa, uma cadeira se moveu e imaginei que era um convite à me sentar. Tentei disfarçar o tempo todo a minha surpresa e me sentei frente à um verdadeiro banquete real. Acho que nunca comi tão bem em toda a minha vida, era tudo muito delicioso e farto. Não havia mais ninguém na sala além de uma senhora gorda que, imaginei, era a cozinheira. Eu achei melhor não dizer nada.

De repente, a mesma garota do quarto apareceu, cochichando ao ouvido da gorda. Esta, se retirou, me deixando só... E livre! Disfarçadamente me levantei sem fazer barulho e procurei a porta para a saída. Era melhor sair dali logo, antes que percebessem que havia alguma coisa errada com a "princesa". De novo não consegui... Antes que eu pudesse me aproximar da porta, surgiram dois rapazes que pareciam estar fantasiados de Robin Hood. Eles estavam suados e carregavam enormes arcos. Não vi flechas.

Eu me afastei um pouco, tentando não ser vista, mas um deles me percebeu e sorriu um sorriso perfeito e com covinhas. Dei de volta um aceno tímido de medo. Senti um comichão no estômago quando percebi que ele se aproximava... Era o rapaz mais lindo que eu já tinha visto! Uma mistura de Galã de cinema e príncipe de contos-de-fadas: Seus olhos eram castanhos, assim como os cabelos lisos, que chegavam ao ombro. O rosto era anguloso e o queixo bem largo. Tinha a pele mais lisa que de muitas moças que eu conhecia, sem um fiapo de barba sequer. Como era de se esperar, era alto e forte. Meio que por impulso, olhei pra minha mão e vi uma aliança dourada... Será?! Fiquei esperando pra ver o que aconteceria, quem sabe um beijo ou um abraço encantado?

Mas o que recebi foi uma violenta sacudidela:
_Acorde! Ele gritava, com uma expressão desesperada de quem tenta ressussitar um cadáver.
Senti minha cabeça balançar como se fosse cair no chão, achei que ia morrer.

De repente, tudo sumiu, e minha vista ficou escura por milésimos de segundos. Meus olhos ficaram muito pesados e tive que fazer força para abri-los denovo. Devagar, meu quarto antigo foi reaparecendo... Minha mãe ainda gritava e parecia impaciente.
_Acorde! Onde está a escova de cabelo? Estou atrasada para a igreja!
_No... Guar...daroupa.

É, não era segunda-feira. Me lembrei de ter ficado acordada até de madrugada com insônia e de ter tomado alguma coisa pra dormir. Olhei para meu dedo e só tinha mesmo a velha aliança de compromisso. Ainda bem... Voltei a dormir.

Desfoque Gaussiano

16 julho, 2009
Acho tão bonita a palavra lembrança... Parece sinonima de algo especial e importante. Me remete à fotos antigas, à sorrisos e emoções. Tem gente que guarda verdadeiros álbuns fotográficos na memória: Conheço pessoas que não esquecem detalhes de roupas, outras que se lembram de cada palavra dita numa ocasião especial. Eu não sou dessas! Esqueço de rostos, de nomes, de palavras... Minhas lembranças são como sonhos confusos.

Na minha cabeça só existem pedaços inacabados de cenas desfocadas e sem coerência, nada de detalhes, cores, fatos. Apenas um emaranhado de sentimentos que, quando provocados, vêm à tona trazendo um tipo de nostalgia confusa. É meio estranho de entender... Por exemplo, quando sinto cheiro de melancia, me lembro da minha infância, de quando eu era muito pequena. Isso me desperta certa saudade, mas nenhuma cena, nenhum rosto, nada específico vem à minha mente... Só um sentimento peculiar. É engraçado. Às vezes pareço meio vazia por não ter lembranças vivas, mas de certo modo eu gosto disso e me sinto muito ligada ao meu passado. São tantas coisas que me trazem emoções diferentes! Músicas, cheiros, algum bilhete velho... Não é como se lembrar do que comi ontem no almoço, é... mágico. E, de certa forma, meio triste, pois me dou conta do quão efêmera é a vida. Tudo passa! A vontade que dá é de se agarrar ao hoje com unhas e dentes pra não deixá-lo ir embora. Bate até um medo meio fantástico... Quem eu serei daqui há uns anos? Quem estará à minha volta? Coisas de gente maluca e sentimentalista como eu... Acho que não sou o tipo de pessoa que ri do passado, mas sou daquelas que ao lembrar, sorriem melancolicamente... Que chato!

Macaquinhos

Escolas... Não vou mentir, sempre detestei! Desde o jardim de infância até hoje, no ensino superior. Muitas vezes desejei que todas elas (principalmente a minha) voasse pelos ares e já pensei em várias planos malignos... É claro que a maneira mais simples de todas seria colocar umas 250 bananas de dinamite em qualquer canto e acioná-las durante à noite. E aí... BOOOM! Mas, pensando melhor, eu cheguei à conclusão de isso só nos renderia alguns meses de recesso. Logo eles construiriam novas escolas e teríamos que voltar a frequentá-las. Então... Isso não resolveria o caso.

Certo dia, depois de pensar em vários outros planos mirabolantes para nunca mais ter que ir à aula, eu e meu stress empacamos em duas perguntinhas: Ir à escola é essencial? Existe algum propósito além do de receber aquele TAL pedaço de papel? Sinceramente, eu acho que 50% do que aprendemos lá não acrescenta em nada na nossa vida. Além do mais, tem gente que depois de 20 estudando ainda não tem nada na cabeça. Não sei se todo mundo já se deu conta, mas escola não ensina a viver nem a ter educação. Pensando nisso, a minha ideia é seguinte: E se aprendêssemos só o que é útil? Ao invés daquelas baboseiras que não servem pra nada além de encher linhas de caderno, ocuparíamos as nossas mentes (e nosso tempo) com o essencial e o que poderá ser aplicado na vida. Nada de fórmulas idiotas e decoreba.

Essa ideia não eliminaria as escolas totalmente, mas ao menos diminuiria e muito o tempo que perdemos adquirindo instruções desinteressantes. Sim, saberíamos o Be-A-Ba, a matemática e algumas coisitas mas, mas o mais importante de tudo seria o conhecimento de mundo, o amor ao próximo e a formação de opinião. E, logo que soubéssemos qual é a nossa vocação, aprenderíamos também uma profissão.

Não sei se eu ia gostar de escola se as coisas fossem assim, acho que não resolveria meu caso, pois meus problema está na convivência com as pessoas. Mas, ao menos seria um incentivo a mais, não só pra mim, como pra todos os estudantes enfadados do Brasil. Estudar finalmente seria algo atraente e todos veriam a sua importância. Ninguém ia querer matar aula ou usar drogas ao invés de ir à escola, visto que todos enxergariam seu próprio futuro nos estudos. Ah! E nada de escolas particulares! Todos teriam acesso ao ensino de qualidade, já que o tempo que demoramos para nos formar diminuiria e o governo investiria menos em cada aluno e mais na qualidade como um todo.

Seria realmente muito bom, heim? Doce utopia! Eu e você sabemos que não dá pra contar com o governo, muito menos pra melhorar a educação. Eles dizem que sim, gostariam de um país melhor e bla bla bla... Só que pra eles não interessa que os brasileiros tenham conhecimento, eles querem cidadãos-macaquinhos: Nada vejo, nada ouço, nada FALO... Burros como uma porta! Se formos pensar direitinho, até que tem lógica essa linha de raciocínio... Imagina se um Brasil inteligente, bem informado e com opinião própria ia eleger representantes tão corruptos?! Claro que não! A festa ia acabar, neh, gente? Então, melhor deixar como está... Milhões de analfabetos, outros milhões de pessoas sem opinião própria e mais uns trilhões de mal-informados. Assim a nossa pátria adorada (salve, salve!) vai caminhando, lado a lado com a ignorância... Que país é esse, heim?


Sorte de Hoje

09 julho, 2009
"Quando as pessoas falam, ouça com atenção. A maioria das pessoas nunca ouve ."

Outro dia eu estava vagabundeando pela net e pesquisando coisas aleatórias no Pai Google, quando me deparei com o seguinte trecho: "Como fazer amigos". Lógico que me interessei... Essas fórmulas mágicas de felicidade instantânea sempre me divertem! Cliquei no tal link e, dentre as dicas INFALÍVEIS, uma me chamou a atenção, era mais ou menos assim: "Quando conversar com alguém, sempre olhe nos olhos e demonstre atenção ao que o outro diz." Sei lá mas me pareceu bem coerente...

Nesses dias de hoje em que tudo gira em torno de interesses egoístas, a tendência é nos sentirmos sós e céticos quanto às intenções alheias. A verdade mesmo é que ninguém se importa com o outro, as pessoas só conversam porque querem ser ouvidas e não para trocarem ideias e experiências como deveria ser. Todos querem ser ouvidos, mas ninguém o é, já que cada um está preocupado apenas com as suas próprias ideias, problemas e opiniões, o que torna simples diálogos em disputas frenéticas pela vez de falar. Isso só demonstra a enorme carência das pessoas de hoje em se expressar e se sentir importantes. E aí é que entra a tal dica INFALÍVEL: Pra ter amigos, é preciso ter um Quê de psicanalista. Afinal, em qualquer coisa que se queira ter sucesso, o conselho é sempre inovar e ter o que os outros não têm, e com as relações interpessoais não é diferente. Como diz o ditado, na terra dos cegos, quem tem olho é rei. E na terra das línguas nervosas, quem tem dois ouvidos (e os usa) também é.

Possibilidades e Expectativas

07 julho, 2009
"Amando incondicionalmente, você aprende a codificar o futuro somente como uma possibilidade e não uma expectativa. Uma expectativa, quando não se realiza, gera frustração. Uma possibilidade, mesmo quando não acontece, continua sendo uma possibilidade. Vivendo hoje e planejando o amanhã."
(Lair Ribeiro)

Esse trecho aí chamou muito a minha atenção quando eu estava dando uma olhada no livro "A Essência do Amor". Frustrações constantes são um obstáculo a mais para a pobresinha da minha auto-estima... Sou extremaente perfeccionista e anciosa, uma lástima!

Amarrando as Chuteiras

02 julho, 2009

Uma noite dessas, eu sonhei que levava vários tiros, entre eles um fatal. Parecia tão real o momento do último disparo, consigo lembrar ainda da cena de desespero: Eu pedia por favor ao marginal que não me matasse, mas ele não teve piedade e apontou a arma pro meu rosto... Acho que eu morri, não tenho certeza pois foi quando acordei suando em bicas e chorando. Acendi a luz pra ter certeza de que estava no meu quarto, inteira e logo pude suspirar aliviada... Tinha sido só mais um pesadelo. Voltei a dormir com dificuldade, a ideia de morte estava fixa em minha mente. Sobretudo parecia muito irônico aquele meu desespero diante do fim iminente, eu não me lembrava de ser tão apegada à vida assim. Sem contar que o sonho trazia outras circunstâncias terríveis, como a morte de pessoas queridas... Porque eu imploraria pela vida daquela forma? Parece meio esquisito fazer tantas divagações acerca de um pesadelo bobo, mas às tantas da noite e ainda meio zonza pelas horas de sono, a importância real das coisas não fazia o menor sentido. Além do mais, sei lá, mas esse sonho parecia fazer algum sentido pra mim, como uma lição de vida ou coisa parecida (e essas coisas me assustam). Mas aí eu acabei dormindo de novo e não cheguei a conclusão nenhuma, como era de se esperar.

Pois que hoje, me deparando com esse tema fúnebre, a primeira coisa que me veio à mente foi esse episódio imaginário (mas muito real por meu gosto). Será que eu me comportaria daquela forma se tivesse que enfrentar a morte cara-a-cara? Eu teria tanto medo assim? Pra falar a verdade, bate um medinho só de pensar, mas acho que esse medo é mais da dor do que da morte em si. Talvez seja um medo parecido com aquele de minutos antes de arrancar um dente ou de tomar uma injeção. Tem gente que não tem medo dessas coisas, mas eu tenho, e muito! Acho que se alguém me apontasse uma arma eu ficaria pensando naquela bala perfurando meus órgãos e não no que aconteceria depois. A morte, morte mesmo é muito abstrata para nós, acho que foge ao nosso entendimento. Talvez não seja mesmo pra compreendermos, talvez não haja nada além da perda de nossos corpitchus... Quem saberá? A única coisa certa é que todos passaremos por isso, seja bom ou ruim. E, enquanto o grande momento não chega, acho que eu, como qualquer outra pessoa, estarei refém dos meus instintos pró-vida que talvez me farão implorar algum dia para permanecer aqui, mesmo que isso não faça o menor sentido. Afinal, antes de um homo sapiens pensante, há aqui dentro um ser humano frágil e cheio de heranças genéticas dos homens das cavernas que enfrentavam mamutes gigantes e feras implacáveis. Imagina se eles não tivessem medo de morrer?!

O Que Eles Querem Dizer?

Todos os dias quando chego em casa, à noite, a primeira coisa que faço é dizer oi pro meu gatinho... Ele sempre mia, como se tivesse correspondendo o "oi". Mas, sabendo que gatos são interesseiros e maliciosos, eu sempre pensei que esse miadinho significava que ele queria alguma coisa. Aí eu resolvi dar uma pesquisadinha de leve sobre o assunto e descobri que os gatos se comunicam conosco o tempo todo e que eles se expressam de várias formas diferentes pra nos dizer o que querem. Pensando nisso, eu resolvi criar um pequeno dicionário miauês-português. Se será útil eu não sei, só sei que ficou muito fofo e engrçadinho:

Miado Curto: "Olá!"
Miados Múltiplos : "Olá!!! Tudo bem? Tudo bem? Olá!"
Miado em tom médio: "Só um pedacinho, vai?"
Ronronado suave: "To carente..."
Ronronado grave: "Que sujeira é essa??"
Ronronado agudo: "AAAI... Ta doendo!!"
Murúrio: "Oh vida... Oh azar..."

E há também a linguagem corporal:

Cauda ereta: "Oba, oba, oba!"
Cauda curvada: "Vem que cê vai ver, vem?"
Cauda com pelo eriçado: "Opa!"
Cauda balançando: "Que saco!"
Costas arqueadas para cima: "Vixi!"
Cheirar o rosto: "Cara, craxá..."
Olhos piscando: "Tô peixonado..."
Orelhas para trás: "O QUE??"
Orelhas para trás e deitadas: "Ai, que medinho..."
Passar a cabeça e cauda em uma pessoa: "E aí, meu brother?"
Barriga virada para cima: "Adolo voxê..."
Corpo encostado no chão e orelhas
abaixadas: "Sim, mestre?"
Corpo agachado e com a cauda enrolada ao seu
redor: "Eu mordo, heim?"

Fonte: www.vitaraca.com.br

Fast-Friends

29 junho, 2009

Amigos virtuais, quem não tem? Eu tenho e já tive grandes companhias via teclado. Quem diria que algum dia isso seria tão comum? Se alguém cantasse essa pedra há uns... ham, 50 anos atrás, no mínimo ia ser considerado maluco ou pareciro do Ziza. Se pararmos pra pensar, é mesmo meio fantástica essa história de amizade cibernética. Nem tanto por podermos nos comunicar, mas pelo fato de passarmos também sentimentos via cabo. Pra muita gente ainda não faz o menor sentido ter afeto por alguém que nunca vimos ou tocamos... Mal sabem o quanto um pobre coração é vulnerável! Até mesmo letrinhas são capazes de fazê-lo cair nas armadilhas do amor e da afeição.

Porém, até onde isso é bom, seguro ou... 'maneiro'? Na minha opinião, amizade nunca faz mal, desde que saudável e sincera. Mas, como saber se alguém é sincero na internet? Meio difícil, mas não impossivel. A dica que sempre dou quando me perguntam é: "cozinhar" bastante um contato antes de ter maiores intimidades com ele. Não ter pressa e sempre analizar o que a outra pessoa diz é essencial, porque a maioria das pessoas que procuram vítimas na internet não gosta de esperar muito, vão logo direto ao ponto. Por isso, se você perceber que a amizade com um contato está avançando rápido demais, tome cuidado! Vale muito a perspicácia de cada um e até um certo sexto sentido. O mais importante é nunca se arriscar.

Voltando ao assunto SENTIMENTOS, está claro pra mim que eles não têm mesmo fronteiras. Eu já amei pela internet e tenho certeza que muita gente também. Acho que, sabendo administar bem essa ferramenta, é possivel encontar aquele par perfeito que você, lá no fundo, sabe que anda por aí. Isto porque aqui não nos dividimos por cidades, países e etnias, mas por afinidades. Acho que por isso é tão atraente, pela possibilidade de realmente conversar com alguém que tenha tudo a ver com o que pensamos, com o que gostamos ou fazemos. Não que isso substitua a emoção de fazer uma nova amizade ao modo tradicional, mas vejo como uma facilidde a mais que a tecnologia nos rouxe. Enfim, pode-se dizer que estamos na era dos fast-friends.

Hope?

21 junho, 2009

Eu ando meio perdida por aí, nem tenho postado muito aqui (com certeza é um problema). Já estou cansada de falar de minhas dificuldades, a minha vida não tem sido das mais doces... Pra piorar ontem fui ao médico e errei o horário em mais de uma hora depois de ter esperado um mês inteiro por essa consulta. Estou pensando em procurar o CAPS daqui da cidade, mas (admito) não tenho coragem ainda... Tenho vergonha de precisar dessas coisas. Além do mais, a cada médico novo eu perco mais a esperança, eu não consigo expor as coisas como eu realmente as sinto. Às vezes eu tenho muito medo... Medo de que? Do futuro, principalmente. Será que eu vou ser uma fracassada pra sempre? Já não estou mais aguentando ir à faculdade... Não sei o que vai ser de mim.

'E a minha reputação, onde fica?'

14 junho, 2009

R E P U T A Ç Ã O. Chega a ser descabida a importância dada a essa palavrinha. A cada minuto alguém perde um fio de felicidade para não feri-la. Oportunidades, desejos, CRIATIVIDADE. Quanta coisa desperdiçada! É como trocar ouro por lixo, sinceridade por hipocrisia. Sei lá, se estou sendo dramática, mas acho que a liberdade é tão mais... livre! Imaginemos um mundo onde as pessoas se deixassem ser como são e não ligassem para os possíveis olhares de reprovação. Perfeito? Não, colorido. "O diferente é lindo".

Bom, devo lembrar que existem certos seres que vivem para, pela e da aparência. Talvez para essas pessoas valha a pena abrir mão da liberdade... Vazio por vazio, fica-se com ele mesmo! Mas apesar desse tipo ser mais comum do que imaginamos, prefiro exclui-lo da minha dissertação.

Quero falar da reputação como a vejo: Uma corrente. Daquelas de desenho animado com uma bola no final. Uma boa metáfora, não? Carregar máscaras me parece um fardo bem pesado. E o tal do "o que vão pensar de mim" então? Nada mais cruel! Quem nunca viveu esse dilema? Até a Xuxa ou sei lá... Bin Laden! Na verdade pensamos nisso o tempo todo. Até eu escrevendo esse texto estou pensando nisso: "Eu escrevo bem?". É como um vício. Ninguém sai ileso. Seria hipocrisia minha dizer o contrário. Só que... não sei, me parece meio irônico: No fundo ninguém está nem aí pra ninguém mesmo! Nós mesmos não nos importamos com os outros tanto quanto nos importamos com o que os outros pensam de nós. Porque então ficamos tão presos à nossa imagem perante a sociedade? Freud explica?

Nem eu. Só sei que (acho) é bem melhor ouvir o coração e ser fiel a nós mesmos. Afinal, ninguém merece mais consideração nesse mundo. No fundo nós somos os nossos melhores críticos, pois somente nós sabemos o que sentimos, por quais experiências passamos e porque, afinal, tomamos certas atitudes. Literalmente sentimos na pele o peso das nossas escolhas e consequências. Somos os únicos capazes de ser justos com nós mesmos. "O que eu penso de mim?", afinal, é bem mais coerente do que parece.

INsociável

07 junho, 2009
Eu já devo ter dito isso aqui e com certeza vou repetir mais n vezes... Mas é verdade: eu odeio falar de coisas mórbidas e tristes aqui. Eu gostaria de esbanjar felicidade, opinar sobre algo polêmico, escrever coisas engraçadas e interessantes. Sério!

Uma vez eu li uma fábula sobre bolos de esterco, vasos de flores e presentes. A moral era: "A gente pode dar o que tem".

Hoje meu coração está oco. No trajeto de ônibus do aniversário em que eu estava até em casa, eu estive pensando no incômodo que será levantar mais um dia amanhã. Acho que eu queria que o tempo parasse pra sempre enquanto eu estivesse dormindo. No fundo é assim que eu me sinto: congelada. É engraçado, como se eu não fizesse parte de tudo. Como se eu fosse um tipo de atriz coadjuvante que não faz a menor falta pro andamento perfeito da peça. Você não faz ideia de como é ruim se sentir assim! Eu já deveria ter me acostumado, porque é um sentimento bem persistente, já me acompanha faz tempo. Mas não. Dói mais a cada dia.

Na faculdade, as coisas não tem sido diferentes, eu fico sempre à parte, porém prestando atenção a tudo e morrendo de inveja: eles têm uns aos outros, mesmo que superficialmente. Eu nunca tenho ninguém, sou sempre diferente como uma peça de quebra-cabeça que não se encaixa em nenhuma parte da figura. Não sei se as pessoas se dão conta disso, mesmo assim eu tenho muita vergonha, vivo sempre como se estivesse num beco-sem-saída, sempre me escondendo, tentando provar que sou normal, que não há nada de errado. Eu queria mesmo que não houvesse.

Loser

06 junho, 2009
Foi ontem. Fazia muito tempo que não sentia o sangue ferver nas veias. As lágrimas insistiam em molhar meu rosto. Meus olhos, vermelhos, só sabiam rever a cena e a humilhação em qualquer ponto da avenida que olhassem. A face desfigurada pelo choro tentava se esconder nas sombras de árvores no caminho: Eu não queria dar explicações.

1... 2... "Inspira... Calma!" 3... 4... "Vai passar, vai passar!" 5... "Já chega de chorar, chega!"

A dor da injustiça, a raiva! Porque as pessoas são assim, sempre fazendo eu me sentir desamparada e envergonhada? Os palavrões que eu devia ter dito, as frases que foram abafadas pelo calor do momento formavam uma rolha que parecia presa na minha garganta. Eu sempre achei que fosse reagir em momentos como esse. Eu sempre vi isso nos filmes. Mas eu fracassei, eu me deixei na mão. Aquela pessoa corajosa que apareceria quando fosse preciso nunca existiu dentro de mim. Sim, eu me sentia ridícula e medíocre. Eu gostaria de saber ferir, mas ao invés disso fui mais uma vez dominada e vencida pelas minhas próprias emoções.

Mundo à Parte

03 junho, 2009
Ah... O maravilhoso planeta virtual! A vida ao alcance do dedo indicador: amigos, escolhas, dinheiro e até amor. Podemos tudo aqui. Sim, tudo mesmo! Inclusive, é claro, ser o que e como quisermos. Tudo aquilo que não somos capazes de ser enquanto carne e osso está ao alcance de nossos personagens feitos de bits e palavras. Fingimos inconscientemente que queremos apenas nos retratar, mas, no fundo, construímos verdadeiros alter egos sempre que criamos um novo perfil na sociedade virtual da vez.

We Heart It


Muita gente critica esse tipo de comportamento, dizem que se trata de hipocrisia e até, segundo os mais exagerados, um tipo de falsidade ideológica. Pode até ser, mas é indiscutível a atração que este universo tem sobre nós, pobres mortais. Talvez por vivermos num mundo real sem graça nem encanto, talvez por sermos inseguros e despreparados demais para enfrentar as nossas próprias realidades. A verdade é que a Internet acaba sendo o passaporte para a terra do nunca de céu cor-de-rosa, onde é possível ter 1 000 000 de amigos, um nome escrito com ph e aquela pele que só o photoshop pode dar.

Quem não preferiria esse mundo mágico a viver na feiura da vida real, correndo riscos, se decepcionando e, o pior, sem um x no canto da tela que termine com tudo quando tudo começar a encher o saco?

Sobre Certos Amigos

18 maio, 2009


Sei lá, soa meio irônico eu falar sobre amigos... Essa é uma palavra que anda meio desaparecida do meu vocabulário. Aliás, sempre esteve! Eu nunca tive 'turminha' e nunca chamei ninguém de MINHA BEST (Até porque, neh? Fala sério...) nem nada.

 É claro que, como todo ser humano vivente no MUNDO existiram momentos em que percebia que na verdade sempre tive muitos amigos, como por exemplo quando tinha prova em dupla no ensino médio (Só pra esclarecer: eu era Nerd) de matemática. Lembro até hoje do desespero que era pra decidirem quem ia fazer comigo, alguns chegavam a me implorar. Dava até pra ficar comovida com tantos sorrisos gentis e olhares de "Eu sempre soube que você era legal, juro!". Existem pessoas (pobres tolinhos iludidos) que ainda caem nesse tipo de bajulação interesseira, mas eu aqui nunca! Aproveitava a oportunidade pra me divertir distribuindo NÃOs. Hauahauahau! Como eu sou má, heim? Pois é, mas não tem a menor graça... É muito chato isso de amizade interesseira. Ou então eu sou uma snobe recalcada e só falei tudo isso por inveja de você que vive rodeada de... ham... AMIGOS. Seja lá como for, a conclusão é a seguinte: Quantidade não é qualidade. E qualidade é coisa bem rara mesmo por aí... Falei!

O Importante é Ser Você?

16 maio, 2009
"Tira a máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro jeito de ser"



É estranho como as pessoas se importam com aquela tal imagem que têm para a sociedade... Logo ESSA sociedade, que de perfeita não tem nada! Ao contrário do que deveria ser, todo mundo se esforça para ser comum e normal quando na verdade ninguém o é. Então usam máscaras, se desviam de suas virtudes mais puras e de seus sonhos. Se tornam indiferentes à voz dos próprios corações e perdem suas essências. E no fim, ninguém é o que é, são uma multidão de mascarados e vivem diáriamente o medo de serem descobertas as sua verdadeiras feições.

Porque desse dicurso? Estou magoada com meus pais, que me pediram delicadamente pra não ser eu. Meu pai me disse: "Quem você acha que é pra querer ser diferente?" Eu pergunto: Será que querer ser diferente é algo assim tão... VIP? Eu não tenho esse direito? Eu disse pra ele que não era questão de QUERER, mas de SER. Minha vida não é fácil, eu não pedi pra ser como sou. A desculpa deles é sempre a mesma: "Você tem que prestar contas à sociedade, existem regras." Bom, eu não mato, não jogo lixo na rua, voto sempre que tem eleições, ajudo velhinhos a atravessarem a rua, dou moeda a mendigos, respeito as leis de trânsito e não furo fila em banco. Não é o bastante? Eu ainda tenho que me comprometer a abrir mão de mim mesma? Tenho que deixar de lado meus conceitos, preconceitos, ambições e desejos?

Sinto muito... Mas não vai dar mesmo! Não é de tudo porque não quero, mas acho que meu coração é grande demais pra caber atrás de uma máscara...

"Somos todos diferentes
Atrás dos olhos
Não há motivo pra se esconder"

Causa Perdida

16 abril, 2009
Há muito tempo que procuro uma certa música... Não sabia o nome dela e ainda pensava que era do Blur, quendo na verdade é do Beck (nada a ver, mas tudo bem). Pois que ontem eu resolvi procurar no Youtube, eu me lembrava um pouco do clipe. E achei! É linda! Baixei pra mim e procurei a tradução. Até hoje não conheci ninguém que gostasse de Beck, meu gostos geralmente são meio... diferentes! Mesmo asssim, vou colocar a música aqui, em homenagem a essa descoberta magnanime:

Cena do clipe - Google
Lost Cause
Causa Perdida

Your sorry eyes cut through the bone
Seu olhar triste atravessa os ossos
Make it hard to leave you alone
Torna difícil te deixar sozinho
Leave you here wearing your wounds
Te deixar aqui vestindo suas humilhações (seus ferimentos)
Waving your guns at somebody new
Apontando suas armas para um novo alguém

Baby you're a lost, baby you're a lost
Querido vc está perdido, querido vc está perdido
Baby you're a lost cause
Querido vc é uma causa perdida

There's too many people you used to know
Há muitas pessoas que vc costumava conhecer
They see you coming, they see you go
Eles vêem vc chegando, eles vêem vc ir
They know your secrets, and you know theirs
Eles sabem seus segredos, e vc sabe os deles
This town is crazy, nobody cares
Essa cidade é louca, ninguém se importa

I'm tired of fighting, I'm tired of fighting
Eu estou cansado de lutar, eu estou cansado de lutar
Fighting for a lost cause
Lutar por uma causa perdida

There's a place you are going
Há um lugar onde vc está indo
You ain't never been before
Que vc nunca esteve lá antes
No one laughing at your back now
Ninguém ri pelas suas costas agora
No one's standing at your door
Ninguém está esperando na sua porta
That's what you thought love was for
Vc pensou que o amor era para isso

I'm tired of fighting, I'm tired of fighting
Eu estou cansado de lutar, eu estou cansado de lutar
Fighting for a lost cause
Lutar por uma causa perdida

É linda ou não é? Se ficou curioso, baixe pra você e depois me conte.
O vídeoclipe também é legalzinho.

Bom, continuando o post, eu esqueci de contar que essa semana assisti o filme Crepusculo... Aquele, parente do Harry Potter, que foi a sensação do momento há uns dias atrás. Que dizer? Até que é legalzinho, é bem romântico, sinistro na medida certa (se é que existe medida pra isso) e tem uma histórinha intrigante. É essencialmente EMO, a trilha sonora não me deixa mentir. Isso sem falar nas caras pálidas, cabelos tingidos e no ambiente triste. Iamgino que as miguxas devem ter amado, neah? Enfim, não é o tipo de filme que marcaria minha vida, mas até que me distraiu.
E Paramore não é tão ruim assim! :D

Hoje é dia de terapia. Tem sido tão difícil! Não consigo me expressar em palavras... Às vezes me falta muito a esperança. Morro de medo de ficar assim pro resto da vida. Queria ser normal um dia...

Bom, acabou me tempo de distração por hoje... Ótimo dia pra você!

Scissorhands

11 abril, 2009

Eu queria hoje falar de um filme que eu assisti pela décima vez ontem... Acho que todo mundo já viu: Edward
Mãos de Tesouras! Ah, gente! É tão lindo que fui obrigada a alugar quando vi na locadora. Uma história tão apaixonante dessa (e com um penteado desse) merece ser vista umas 2000 vezes. E o mais lindo (ou nem tanto) de tudo, é a lição: As pessoas são mesmo péssimas! Ás vezes me sinto uma Edward... Um doce monstro que as pessoas só se aproximam por algum interesse, mas, que no final das contas continua sendo um monstro e sozinho. No final dá vontade de adotar um JOHNNY DEPP também! :D

Hoje terei que estudar, pois tenho ferozes provas e trabalhos me esperando nessa semana. Só Deus sabe como estou desanimada com a faculdade... Mas eu tenho que tentar!