Mar/Morte

14 dezembro, 2009


O mar estava revolto, a tempestade não demoraria a chegar, carregada pelos fortes ventos que uivavam e faziam dançar os cabelos pretos de Natali. O espetáculo de raios, trovões e nuvens negras sempre a encantou, mas havia um encanto a mais quando tudo isso se juntava a um mar raivoso. Sentada ali na areia fria, ela não parecia se importar que as ondas e o pó invadissem seu vestido. Era quase um passatempo observar a maré invadir a praia e tomar seu espaço seco.

Um coco caiu do seu lado, derrubado pelo vento forte e fazendo um barulho seco na areia fofa. Sem da muita importância, ela apenas o pegou e colocou à deriva como se fosse um barco de papel. Viu-o sendo levado pelo vai e vem da correnteza até sumir na imensidão do horizonte cinza. Sentiu inveja. Queria ser assim tão leve a ponto de poder ser levada. Seria mais fácil...

Dando um suspiro de enfado, ela se levantou, desgrudando o pano preto das pernas. Olhou para todos os lados sem muito interesse, apenas pra se certificar que não havia ninguém além dela ali. Não havia. Passou a olhar só para frente e ainda sentiu mais um pouco o vento nos cabelos, levantando um pouco o queixo e fechando os olhos. Abriu os braços sem ver e foi andando lentamente em direção ao mar aberto.

A água estava muito fria, fazendo-a se sentir um pouco desconfortável e a areia lhe fugia dos pés, mas os passos continuaram avante. Vez ou outra alguma tira de alga se enroscava em suas pernas ou algum ‘lixo’ do mar vinha em direção do seu rosto. Ela sempre temera os mistérios do mar, sentia asco das criaturas que imaginava viver por lá. Virou-se tentando calcular a distância da praia, percebendo que já andara bastante. A água lhe batia quase nos ombros e seus dentes se agitavam com o frio. Um fio de pânico percorreu-lhe as entranhas. E o arrependimento...

Tentou voltar, mas já era tarde demais. Uma onda a derrubou, tirando de vez o chão debaixo de seus pés. A água salgada invadiu seu corpo em goles que lhe feriam a garganta. Alguns gritos de socorro ainda saíram de sua boca, mesmo com a certeza de não haver ninguém na praia. Outra onda raivosa rebentou, dessa vez a levando pra bem mais longe, onde não podia mais alcançar a superfície. A última coisa que viu foram seus próprios cabelos como uma nuvem preta no universo verde encardido, antes de não conseguir mais respirar.