Aprender Com a Vida

25 agosto, 2009
"É só você que tem a cura pro vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi..."

Nostalgia é uma das palavras que me definem. Meu coração sente saudade o tempo todo do passado. Me lembro da minha infância, dos aniversários, das fantasias pueris, da adolescência conturbada, dos excessos da depressão, do primeiro beijo. Tudo isso pesa quando eu tento me definir como alguém feliz, normal ou satisfeita. A pessoa que escreve aqui agora não é a mesma de anos trás. As experiências vividas, ano após ano, fase após fase, modificaram e modificam meu EU. É como um quebra-cabeça que a cada nova peça vai se tornando uma figura diferente.

Sentir nostalgia é uma forma de homenagear o passado, de olhar pra trás e recordar os sentimentos, as cores, o gosto das experiências que hoje não passam de páginas viradas sujeitas às traças do esquecimento. O melhor que isso pode nos acrescentar é poder ver tudo por um ângulo diferente, já sem as ilusões e sentimentos à flor da pele que em certas ocasiões nos impedem de ver a verdade às vezes tão óbvia. Isso se chama" aprender com a vida".

Abduzida

16 agosto, 2009
Já passavam das quatro da madrugada, era a noite mais fria do ano; a garota magricela dormia profundamente debaixo de seu macio edredom. De repente, um barulho violento de janela se abrindo à força interrompeu aquele sono e, num segundo, não havia mais ninguém na cama. De pé ao lado da cabeceira e muito assustada,  ela tremia, pelo frio e pelo medo. Uma luz forte e piscante invadia o quarto, e logo duas criaturas escorregaram para dentro. Os dois homenzinhos feios pareciam feitos de massa de modelar alaranjada; as cabeças eram ovais, carecas e grandes demais para o corpo. Bocas e Narizes eram quase imperceptíveis, o que dava a impressão de não existirem naqueles rostos. Em compensação, os olhos eram enormes e brilhantes. Pareciam muito frágeis, com seus corpos magros e altos demais. Era possível ver as costelas quando respiravam, estavam nus e sem armas.

Ela sentia que eles queriam pegá-la, e essa ideia a aterrorizava de tal forma que teve vontade de chorar. Mas não chorou, correu. Gritou muito, mas já não havia ninguém em sua casa. "Será que todos foram abduzidos?" Sentiu muita raiva e o pavor aumentou consideravelmente, só conseguiu pensar no banheiro. Correu para lá e trancou a porta. Sentada no vaso sanitário, começou a chorar muito. Desejava que aquilo fosse um pesadelo, queria seus pais de volta, se sentia sozinha e tinha muito medo.

Engoliu seco quando ouviu barulhos estranhos próximos de onde estava: eles a procuravam pareciam ter encontrado. Prendeu a respiração, o pânico tomou conta de seu corpo. Viu na porta a chave se virar lentamente, destrancando. Pensou em segurá-la e impedir que abrisse, mas só conseguiu correr para o box. Ouviu o barulho familiar de porta sendo aberta e as duas sombras se aproximaram por trás da cortina. Seu coração batia freneticamente. Uma mão alaranjada invadiu sua proteção e logo ela estava cara-a-cara com seus raptores. Achou-os tão terríveis quanto nos filmes de terror e gritou. Fechou os olhos quando sentiu agarrarem-na pelos pés. Foi puxada violentamente, como numa rasteira e sua cabeça bateu forte contra o piso. Meio atordoada pela queda, ela se sentiu arrastar rapidamente, um liquido quente molhava seu cabelo. A última coisa que viu foi a luz piscante, meio embaçada.