Platônica

27 dezembro, 2011
We Heart It


Em dias chuvosos como hoje, arde um pouco a saudade daqueles tempos em que a sua companhia iluminava meus dias e me fazia sonhar e sorrir como uma criança. Não sei se você um dia imaginou uma coisa dessas, mas sempre te considerei como um sonho de amiga. A nossa antiga afeição me lembra marshmallows cor de rosa e cheiro de livro novo, me animava, me inspirava. E eu me sinto tão piegas sentindo saudades assim que chega a doer. Queria que fosse como antes e poder te mandar um e-mail de natal contando que torci o pé e mal pude andar no momento do amigo secreto; queria rir denovo com você pelo MSN; queria ter tido a oportunidade de ter sido mais íntima e contar segredos. Às vezes as lágrimas chegam a comichar querendo saltar das maçãs do rosto. Não pense que eu não me sinto confusa com este sentimento tão estranho, pois sempre me julguei completamente capaz de dizer ao meu coração o que sentir e por quem. E juro que essa consideração latente, essa saudade tão doce são emoções totalmente desobedientes à minha vontade. Seu eu pudesse esqueceria e assim não precisaria mais te procurar e nem sentir a pontada macia do desdém que talvez você até destile sem querer, mas que dói como se fosse malvadamente de propósito. E é um pouco por isto que escrevo e me exponho dessa maneira, porque eu já sei que não tem mais volta e preciso exorcizar essa insistência em sentir falta de algo que já virou pó há muito tempo. Eu não deveria ter me apegado assim e mal me reconheço tendo esta espécie de estima platônica. Gosto das lembranças, mas não gosto da melancolia que elas trazem, então, se pudesse, embrulharia tudo junto e jogaria ao mar. Não sei se as palavras servem exatamente a esse propósito -talvez o contrário-, mas tentar não arranca pedaços, não é mesmo?  Não precisa se dar ao trabalho de tentar entender, nem isso eu espero mais... Se pudesse pedir algo, seria que saísse da minha vida como poeira mágica, da mesma forma que acabou o que existia entre nós. Não sei se você se importa, mas ajudaria muito.

Sem ressentimentos e com amor,
Sua antiga amiga.

Medo

09 outubro, 2011
"E o teu medo de ter medo de ter medo
Não faz da minha força confusão."


We Hearti it


Tenho medo, do fundo da minha alma temo, me preocupo. Temo coisas estúpidas, temo não estar vivendo, temo viver, temo morrer. É mais como se pesadas correntes estivessem sempre puxando meu coração para baixo, para o vazio e solidão. Não sei o que pode haver nesse mundo reservado para uma pessoa tão covarde e neurótica assim, e por isto também temo futuro. Às vezes essa angústia ultrapassa os níveis suportáveis e então eu passo também a temer a loucura e desgraça, que parecem sempre estar espreitando por trás das cortinas.

Estimulada

07 outubro, 2011
We Heart It


Emoções são coisas engraçadas que o ser-humano tem... Quase sempre me pego sentindo coisas que não sei explicar, influenciada pelos sentidos e lembranças que são especiais e tocam fundo num lugar diferente, nem sempre de forma alegre, pra falar a verdade, na maioria das vezes com melancolia, ou uma espécie de saudade. Como eu já disse não se explicar só sei que sinto e que busco estes sentimentos, eles me trazem esperança e brilho ao coração.

Com certeza estou agindo com inocência e algum gênio do marketing já tenha conseguido enlatar emoções, como se artificializaram os sabores das frutas; talvez eu seja só mais uma alma hipnotizada no meio da massa sendo 'estimulada'. Mas, não gosto de pensar assim, pois as emoções fazem eu me sentir especial, e a vida já é tão amarga e difícil, que dirá sem a magia e os sonhos que alimentam o coração! Não, prefiro assim...

Infinitamente

04 outubro, 2011
Google

Não é sempre, mas há momentos na vida que me empurram pra dentro... Acho que essa a melhor definição, pois me sinto meio como um molusco, desejosa da proteção de uma concha dura e escura. Percebo que me enganei pensando que seu fizesse tudo do modo certo, o destino seria mais justo e complacente; me assustei ao sentir o soco desferido, eu não esperava. Aprendi que não basta fazer o melhor possivel, não basta tentar seguir o bom caminho, não basta ter boas intenções, ainda é preciso ser forte para se levantar após os nocautes do acaso, e não há a quem reclamar que se está sangrando ou que não é justo; A vida simplemnte passa, como uma manada de animais ferozes e a as vezes deixa cadáveres pisoteados, mas nunca olha para trás, nem se importa, apenas segue infinitamente.

Nova 'Eu'

03 outubro, 2011


Eu sempre tive mania de limpeza, de achar mais fácil começar tudo denovo do que continuar no mesmo pé e isso inclui ser um pouco precipitada às vezes. Mas, ultimamente eu andava carregando tanto lixo e alimentando tantas considerações e preocupações inúteis e falsas, que acho que foi uma ótima escolha ter apagado literalmente tudo. Preciso aprender a importar com o que for realmente significante, com o que preencher meu coração de fato; não meu ego, não minha carência afetiva, mas EU, no sentido mais amplo possível que um blog pode abranger. Quero me abrir para mim, ter prazer em escrever e não pensar muito em agradar Sicrano ou Fulana, porque eu não estava mais me reconhecendo debaixo de todas aquelas máscaras, estava aceitando uma existência enfadonha, rasa que nunca foi de verdade a minha. Eu sou franca, sou vivaz, sou amorosa e sarcástica. E eu quero redescobrir esses Eu's nos textos que escrever e desejo do fundo do coração não me preocupar mais do que com os erros de ortografia e coesão, porque este EU perfeccionista não quero alimentar... Esse monstrinho!

Caminho do Amor

26 agosto, 2011


"Eu vou dar em quê nessa vida, afinal?"

Ultimamente, essa questão vem martelando na minha mente mais do que nunca... É difícil viver sem saber ao certo o que esperar e desejar do futuro, um ser humano precisa de objetivos palpáveis, propósitos. E eu, por mais que às vezes desejasse ser outra cosia, sou um ser humano...

Quando eu era bem pequena, minha mãe me ensinou a dizer bonitinho que iria ser diplomata quando crescesse. Mesmo sem compreender o que um diplomata faz, a palavra soava bonita e eu deduzi ser algo importante... Então, como muitas crianças imaginam-se bailarinas ou astronautas, eu passei boa parte da infância a sonhar em ser diplomata, um disparate infantil que com o tempo foi apagando-se, mas que deixou um objetivo inconsciente: eu deveria ser grande e ter uma carreira de nome belo e imponente .

Observando as mulheres da geração da minha avó, sempre tive uma péssima impressão de suas vidas de donas de casa, cuidando de filhos e da casa e sustentando a família pelo lado mais rebaixado e infeliz. Eu via o mundo delas como opressivo e pequeno demais para uma existência satisfatória, tinha certeza de que jamais seguiria esse caminho, eu tinha certeza de que seria mais importante. Assim, eu não tive empenho nenhum em cozinhar, limpar, pois estas constituíam coisas humilhantes destinadas a outro tipo de pessoa, não a mim, que teria uma história muito mais significante. Acabei aprendendo os afazeres mais tarde, mas sem nunca me interessar ou achar que fossem dignos.

Pois bem, hoje eu estou aqui, sem emprego de nome bonito e sem a menor perspectiva de ter uma carreira tal qual de diplomata - que acabei descobrindo o que significa. Aprendi algumas coisas importantes com os pequenos baldes gelados que a vida despejou em mim...

Uma delas foi a ter uma nova visão sobre aquelas mulheres que tanto julguei. Entendi que o amor é capaz de tornar qualquer trabalho em um sentido para a vida e que os afazeres domésticos exalam dedicação pelos filhos, pelo marido e não apenas opressão e tristeza. Todas as pessoas nasceram com um objetivo e não é uma ocupação humilde que as torna menos importantes e sim se fazem aquilo do melhor modo que podem ou não. Hoje eu admiro muito minhas avós e tias-avós, e não sinto o menor receio de um dia a vida me colocar na mesma situação que elas viveram, pois sei que sou capaz de dar o melhor de mim e assim meu coração estará preenchido, fazendo o que for.

Esta história não ajuda muito com a tal necessidade humana de ter um objetivo, pois na verdade não sei ainda o que desejo ser mais tarde. A única coisa que concluo é que estaria feliz sendo útil e um instrumento do amor, como hoje reconheço que as pessoas que citei foram. É uma direção, mesmo que enevoada e bifurcada. E eu vou seguindo, cheia de boas intenções, esforço e esperança. É o melhor que posso fazer agora e portanto sinto que está bem por hoje, pelo menos enquanto o destino não resolve direito as coisas.

Forte

16 agosto, 2011


Em certas circunstâncias, a vida de repente parece nos empurrar para dentro de uma betoneira, que chacoalha, chacoalha... Ficamos tontos, machucados, trêmulos e sem forças; experimentamos o medo e a falta de fé. Não é sempre que conseguimos perceber, mas estes momentos costumam nos colocar entre duas difíceis possibilidades:  nos quebrarmos em pedaços beeem pequenos e impossiveis de colar denovo...

...ou virar concreto.

Meu Pai

14 agosto, 2011


Meu pai nunca foi um pai clichê... Pelo menos ele nunca jogou futebol comigo!E ele nunca foi o tipo que se esforça ao máximo para ser cálido e doce. Talvez porque ele seja bastante como eu (ou eu como ele), meio seco, rabugento-fingido, porém com um coração enorme e bastante dificuldade em dizer não. Já cansou de prometer: ‘Não faço mais nada pra fulano... ’ Mas acabava fazendo quando precisavam dele. Esse é meu pai.

Meu pai não venceu na vida, mas com ele eu aprendi que é possível viver com pouco e hoje esse é um dos meus principais valores: simplicidade, que na verdade nós não escolhemos ter, mas no fim percebemos que  nos faz ser mais fortes a atentos às pequenas alegrias.

Meu pai não está sempre certo, nem é capaz de dar jeito em qualquer problema, mas o simples fato de estar perto dele, me faz pensar que tudo está em seu lugar e tem jeito... Ele me ensinou muito sobre o destino e as coisas 'maiores'.

Meu pai não tem curso superior, mas ele me ensinou a fazer um bom café, a respeitar os outros, a ter afinidade com as coisas da natureza, a replantar uma muda. Ele me ensinou a ter minha própria opinião e a gostar dos livros, me ensinou a ver as horas e a escolher boas cenouras... Esse é meu pai.

Meu pai é aquele pai que não dá bola pra datas comemorativas e a espécie de pessoa que a gente se sente meio patético dizendo ‘eu te amo’, porque em todos esses anos acho que eu aprendi com ele uma coisa meio por conta-própria: Que palavras às vezes enfeitam, mas o que importa mesmo são as ações.

Climax

09 agosto, 2011

Já percebeu como a vida espelha aqueles filmes clichês? O mocinho-pobre-coitado geralmente só precisa aguentar um pouquinho as mazelas da trama, até passar o climax da história; e então tudo começa a caminhar para um suave final feliz...

Eu quero dizer é que nenhuma fase ruim dura pra sempre, ninguém morre de amor ou de decepção, propriamente ditos a não ser que esteja disposto a fazer o trabalho sujo.

Por isso eu às vezes digo pra mim mesma: “Hei, você já sabe que vai sobreviver, então pára com esse medo absurdo do futuro, please!”. E eu paro. De verdade, estou ficando craque em ser obediente.

Into The Wild - Na Natureza Selvagem

22 julho, 2011

 "A felicidade não é real  a menos que seja compartilhada"

Em 1990, Chris Maccandles, depois de se formar com boas notas em direito, foge inesperadamente do convívio com família e amigos, doa seu dinheiro, queima seus documentos, muda de nome e se torna um viajante/andarilho totalmente às margens da sociedade. Seu destino? Ao Alasca, onde pretende viver uma aventura selvagem, de autoconhecimento e solidão. Porém, cerca de quatro meses após ter finalmente alcançado seu desígnio, seu corpo é encontrado em decomposição por caçadores em um ônibus abandonado. Ah, sim: A história é real!

Quem escreveu o livro foi um repórter e alpinista que havia feito um artigo sobre a morte de Chris na época. Portanto, trata-se de um trabalho meio investigativo em que o autor juntou as peças do quebra-cabeça para tentar (mos) entender os verdadeiros motivos que levaram o garoto a se isolar dessa maneira e perecer. Mas, mesmo com esse tom meio jornalístico, a narrativa, que não seguiu muito bem uma ordem cronológica, em nenhum momento perdeu a emoção e a sensibilidade que a história inspira.

No prólogo o autor sugere que cada leitor tire suas conclusões sobre esse desconcertante personagem. Eu, particularmente, admiro quem tenha peito de seguir seus objetivos até onde eles forem levar, ainda que esse lugar seja a morte... E, mesmo a história sendo baseada num fim trágico, percebemos claramente que Chris não foi um suicida, foi apenas um garoto que levava as coisas a serio demais e queria entender melhor a si mesmo e aos outros. Ao menos ele teve coragem de fazer o que queria, e sua vida, mesmo curta, deve ter valido à pena. É o que eu acho.

O filme, que assisti antes de ler, é bastante fiel ao livro, apenas o foco talvez seja diferente,  mais romanceado, digamos assim. Além do mais, mostra paisagens lindas e inspiradoras e a trilha sonora foi feita pelo Eddie Vedder (e foi por isso que eu decidi assistir, confesso) e é maravilhosa. Enfim, eu sou muito suspeita para falar, mas... é perfeito!




Até o clipe vale à pena! :)

Agora Sim!

12 março, 2011
Liberdade é ter força e humildade 
pra seguir o próprio destino.


Estava aqui pensando como tenho aprendido nesses últimos meses, parece até que voltei aos tempos de escola, à infância, quando uma coisa diferente é descoberta por dia, apenas com a utilidade de ser interessante e nova. Voltei a ser criança de um jeito que na verdade nunca fui: sem medo e com muita vontade de fazer amigos.

Muitas coisas que eu batia o pé pra defender, têm se dissolvido como açucar, dia após dia; agora não torço mais o nariz pro verso que diz "prefiro ser uma metamorfose ambulante". Porque é isso que eu tenho sido, graças a meu bom poder superior, Deus.

Descobri muitas coisas que não enxergava ou me recusava a entender e a praticar: como é bom pedir desculpas; pra que realmente serve o orgulho (pra nada); o que realmente significa ser livre.

Perdi o medo de olhar e entender meus defeitos e minhas fraquezas, e agora me sinto mais forte que o Popeye, capaz de tudo, pois agora sei que posso me ensinar a ser uma pessoa melhor praticando a força, a perseverança a humildade. Assim como se aprende matemática, é possível se habituar a sofrer menos e a machucar menos, exercitando as qualidades boas, principalmente o amor e a serenidade.

Acho que perdi alguma coisa, porque na vida não existe a escolha de abraçar tudo, algo se subtrai sempre. Ainda não contabilizei isso, mas sinto falta das minha histórias sem compromisso, elas não brotam mais com tanta frequência da minha nova mente. Centenas de descobertas por segundo não deixam muito espaço pra fantasias e divagações, nem tampouco consigo prender tudo isso em palavras. Não sei se aquele dom vai voltar um dia, talvez ele não me pertencesse afinal. Em contrapartida, eu estou feliz e cheia de coisas reais pra compartilhar, pequenos segredos, diga-se. Deixei um pouco o medo de falar de mim, acho que é isso. Meus personagens fictícios perderam sua utilidade e se foram... Sentirei saudades, mas não tristeza. Estou feliz, muito feliz, obrigada.
Definitivamente, textos programados não funcionam pra mim... Era pra entrar algo que escrevi na semana do carnaval hoje, mas eu sou tão de lua que tive que escrever outro... Meu blog deveria se chamar doce coração, porque é um espelho vivo das minhas 'arritmias' criativas... Ta aí, gostei! ;P

Transparente

06 março, 2011
"Desculpe, eu sou ruim com as palavras..."

Verdadeiramente, nunca disse essa frase, mas nem consigo contar quantas vezes ela surgiu na minha mente, traduzida por olhar patético, implorante que a pessoa tenha entendido o que eu tentei dizer.

Acontece que não nasci com supremo dom da comunicação, vim ao mundo pra criar, executar, construir... E que outro venda tudo isso!

O engraçado é que no tenho o menor problema em me comunicar normalmente, pedir um pão-de-queijo na padaria ou conversar sobre a coleção de primavera com o vendedor da loja de calçados; essas coisas faço com simpatia e até conquisto muitas amizades. Meu dilema começa quando preciso calcular palavras, limitar a espontaneidade, tomar cuidado pra não falar demais nem de menos.

Nem gosto de lembrar da minha curta carreira de atriz, feliz da vida e serelepe entre as coxias e o palco nos ensaios, mas duramente reprovada num teste para um filme por esquecer totalmente como se falava. Quanto a isso, posso pelo menos dizer que tentei contornar o problema... No teatro, fazia exercícios incansáveis para o 'bem falar' e me saía muito bem neles, era divertido! O que me faz pensar que meu 'probleminha' não está propriamente na fala, o que ocorre é que não sei dissimular, omitir. Quando tento, as frases tomam vida própria e parece que seu passatempo preferido é me deixar em saias justas.

Frequentemente, quando me meto a 'promotora', embolo palavras, dou voltas e mais voltas, sem, no entanto, chegar ao ponto principal. E, os esperados "o que?", devido à minha fala macarrônica são sempre um agravante à ansiedade e frustração frente a essa tão aparente limitação.

Quando mais nova, me culpava muito por ser assim, tentava mudar, ser menos 'transparente'. Hoje, ainda tento, mas já chego a pensar se o defeito é mesmo meu ou se as pessoas é que se acostumam rápido demais a ser desonestas umas com as outras. Se é estranho ouvir a verdade e ser espontâneo, acho que alguma coisa bem maior está fora de lugar... E arrisco a dizer que não é a minha língua!

Salvador de Estrelas

20 fevereiro, 2011


No litoral de alguma cidadezinha pacata, vivia um velho e famoso escritor, que se inspirava no mar e tinha o hábito de, todas as manhãs passear pela orla deserta e, à tarde escrever lindas histórias.

Certo dia, no seu passeio solitário, ele avistou mais adiante o que parecia ser alguém jogando coisas ao mar. Curioso como alguém que se interessa por tudo nessa vida, ele apertou o passo para ter com a figura que nunca vira antes por ali.

Chegando mais perto, pode perceber que se tratava de um rapaz e que o que ele atirava eram estrelas de volta às ondas. Achando aquilo totalmente estúpido, sentiu-se obrigado a interpelá-lo: –Meu garoto, o que acha que está fazendo?

–O que parece que estou fazendo? –O jovem ofegava um pouco e parecia chateado por ser interrompido.– Estou salvando essas estrelas do ressecamento. –E pegou mais uma e mais outra.

O escritor pos as mãos sobre os olhos, fazendo força para olhar ao longe. E, até onde podia enxergar, havia estrelas na areia.

–Mas, há milhares delas... Você acha que seu esforço fará alguma diferença?

O rapaz pegou mais uma, olhou por um segundo para os tentáculos alaranjados e a jogou ao mar: – Pra essa, eu fiz.

O velho deixou o garoto em paz e continuou seu caminho. Naquela tarde, não escreveu história alguma, mas, na manhã seguinte, como em todas as outras que se seguiram, passou também a salvar estrelas.
Essa história foi contada numa palestra que assisti no sábado e agora recontada pelas minhas palavras. Achei muito comovente a lição dela. Nos dias de hoje, quando tudo e todos viram números, o valor de cada vida acaba sendo esquecido... Isso é algo realmente triste, pois muitas coisas preciosas se perdem, engolidas pela lei cruel 'do que é mais importante'.

Fim é fim.

16 fevereiro, 2011
"Como dizer a uma pessoa que ela não cabe mais na sua vida? Rápida, doce ou calmamente?
Talvez ele já saiba, talvez entre em choque, talvez me chinge ou beije meus pés em pranto. Essa última eu considero com uma meia careta, pois não sou chegada a humilhações... 

Tudo ficaria tão mais fácil se ele concordasse comigo, que as coisas não são mais como deveriam ser, e que, sim, é mesmo hora de terminar! Queria não ter que dizer que suas conversas me enfadam e que eu não sinto mais atração física por ele... Seria ótimo se homens fossem sensíveis ao ponto de reparar nesses 'detalhes.' E, se ele fosse maduro o bastante, nós até poderíamos continuar como amigos, dar as mãos e dizer que foi bom enquanto durou... Que sonho! Até parece que eu esqueci quem é meu namorado... certamente vai ser difícil e mais dramático possivel..."

–Já acordou, Maria? –Um homem de roupão entra no quarto com uma bandeja de café da manhã.

"Bandido! Ele já sabe que pretendo terminar... Agora vai tentar me chantagear com mimos. Mas de hoje não passa!"

–Como foi a noite? –Ele acomoda as bandeja na cama e passa manteiga  numa torradinha.

–Ahm... Foi boa. Esse iogurte é de que?

–Morango... Você não gosta, esqueci.

–Tudo bem, eu tomo café mesmo. –Ela percebe que o namorado para de comer e a encara, sério.– O que foi? A manteiga está ruim?

–Não, a manteiga está ótima... É só que... Eu tenho algo serio a dizer...

–O que é?

–Sabe, você é uma pessoa maravilhosa. Mas... As coisas não tem sido como deveriam ser... E eu sinto que te chateio com meus assuntos.

Ela fica paralisada com a xícara a meio caminho da boca: –M-mas...

–Bem, eu acho que deveríamos dar um tempo...

–Você está terminando comigo? –A voz saiu meio rouca.

–Bem... Sim. Acho que é a hora.

–O que?? Você tem outra por acaso??

–N-não! Achei que você entenderia...

–Entender o que? Que você tem outra e agora que me largar?! –Ela aumentou muito o tom da voz e começou a chorar.

–Eu não...

–Reginaldo, você é um canalha!

–Nós podemos ser amigos... Foi bom enquanto durou.

–Para com essa conversa mole, seu cachorro! –A essa altura o iogurte e todos os itens da bandeja já manchavam os lençóis. Maria, estérica, se preparava pra rasgar um travesseiro. Assustado e apenas com sua torrada mordida a salvo, ele se levanta para sair do quarto.

–Onde você vai?? Ligar para a vagaba e dizer que serviço está feito?

–Eu já disse que não tem ninguém! Você é louca... Eu vou embora.

–Não me deixe, por favor!!! –Ela correu e agarrou as pernas dele, chorando e gritando.

Só pra salientar que dar e receber um pé na bunda são situações dramáticamente distintas... Inspirado no tema da semana do Blorkutando.

Be Cool

09 fevereiro, 2011

Assim como as formigas, nós vivemos de forma coletiva. Desse modo, é praticamente impossivel fugir da convívio com um ou mais grupos de pessoas durante nossa curta vida. Mas, acho que, diferente de outras sociedades na natureza, nossa convivência 'forçada' não é sempre benéfica para todos. Mesmo que lá no nosso âmago saibamos que somo exatamente como deveríamos ser, a tal sociedade do lado de fora e seus estereótipos impossíveis de serem alcançados às vezes  coloca na nossa pobre mente a vontade perigosa de ser uma outra pessoa: Mais magra, mais bonita, mais 'por dentro', mais rica, etc. Mesmo que não faça o menor sentido, a necessidade de pertender a alguma 'elite' cresce dentro de nós. É difícil resistir a isso, por mais que sejamos seguros de nós, a impressão é a de que nadamos contra uma forte correnteza.

Estudamos pra ser ricos e bonitos, esse parece ser o objetivo de todas as pessoas; enquanto isso, 'desaprendemos' coisas que eram importantes no passado e que esperamos nunca voltarem a ser. Mas, quem sabe o dia de amanhã? Bem, digo que onde moro, sobram advogados e faltam jardineiros. Pra mim, parece muito simples que quando todos vão em direção a uma só porta, alguém certamente irá ficar do lado de fora. Mas, em geral as pessoas fecham os olhos pra muitas coisas simples, como por exemplo que não se mede o valor de ninguém pelo colarinho ou que é muito injusto eu ter um milhão na conta e explorar meus funcionários. A sociedade tem muitos vícios sem sentido, muitas opiniões formadas na idade da pedra e que ainda imperam, dentre elas esse enorme egoísmo e a idéia fixa de que eu só ganho se o outro perder. Não sei se eu vou viver pra ver esse estigma mudando, mas acho mesmo que não seja tão difícil assim transformar esse 'mundo dos espertos' no 'mundo do melhor pra todos'. Basta primeira e simplesmente querer.

Hum, comecei falando de uma coisa e terminei num assunto diferente, mas são coisas muito ligadas, eu acho. Ah é: voltei minha gente! De cara nova e tudo, mas não esperem nenhuma revolução, porque eu continuo em marcha lenta.
Estive olhando meus comentários passados, e vi que algumas pessoas me indicaram pra selos e eu nem tchun. Me desculpem, ok? Eu gosto de selos sim, mas é que esqueço ou fico jogando pra frente... Aqui alguns amigos que me indicaram: Penso logo blogo, Level Up, Cheio de Segredos, Surtos Talvez Lúcidos, Violetas que Plantei, Isso é Só Um Sonho e Guria. Alguns eu ainda posto, mas fica aí a satisfação e obrigada por terem lembrado de mim.

Quem se Importa?

12 janeiro, 2011


O ronco incômodo da máquina invadiu a janela de Sarah ainda de manhã cedinho. Todos os moradores já sabiam das modificações previstas para a pequena rua de paralelepípedos. Especulava-se que os próximos planos seriam grandes edifícios no lugar das casinhas de telhado que ainda não tinham virado sobrados.

Sarah parecia ser a única a olhar tudo aquilo com maus olhos, a não achar tanta vantagem assim em morar numa grande metrópole. E, naquela manhã, para sua infelicidade, parecia que tudo ia começar de verdade. A menina foi até a janela observar os montes de terra sendo assentados. Desanimada, ela imaginou o futuro próximo da sua querida ruazinha pacata, o barulho dos tratores parecia até um prenúncio das buzinas e fumaça que fariam parte do seu dia-a-dia logo logo.

Distraída, ela se assustou de repente com o chiado de um megafone: “Atenção! As obras de nivelamento serão suspensas a partir de agora até a retirada das árvores como previsto. Obrigado.” Uma raiva misturada com tristeza passou como uma sombra pelo coraçãozinho de oito anos. Como assim iam arrancar as árvores da sua rua? Isso não era justo! Se queriam tirar as pedrinhas que tirassem, mas o seu verde, não! Foi correndo pra calçada de pijama e tudo, viu o cara do megafone num canto conversando com os pedreiros e o abordou sem nenhuma vergonha, como era de sua natureza espevitada.

–Hei, com licença?

O rapaz abaixou-se e respondeu delicadamente: –Sim, mocinha?

–Bem, é que... Essas árvores aqui –abriu os bracinhos apontando– não podem ser arrancadas!

Ele riu, como se ela tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo: –E porque não?– desafiou.

–Porque elas são importantes, oras! Você não sabia que devemos proteger a natureza?

–Olha, eu sei que te ensinam na escola que a natureza é importante... Mas o progresso é muito melhor para nós, sabia? Essa rua aqui vai ser muito mais movimentada depois do asfalto, o comércio vai crescer, pode até abrir um mercado perto da sua casa. Não é legal?

–Não! Eu não gosto do barulho nem da sujeira que vêm do progresso... Essas árvores fazem sombra para nós e colorem o cinza que vem da metrópole. Eu não quero viver numa selva de pedra! –ela fez bico e cara de choro.

–Calma, não precisa chorar... Onde você mora, menininha?– Ela apontou a casinha da esquina. –É melhor você voltar ou pode cair num buraco. O tio precisa trabalhar, está bem?– A delicadeza sumiu da voz dele, se transformando em impaciência.

Sarah obedeceu ao moço, segura de que as pobres árvores seriam arrancadas de qualquer jeito. Resolveu que odiava as pessoas do progresso, principalmente homens com megafone. Voltou para a cama triste e fechou a janela pra não ouvir o barulho, que daquele dia em diante, nunca mais parou.
Ai gente, juro que tentei diminuir esse texto, mas não deu jeito! Faz tempo que queria falar sobre meio ambiente e ontem, vendo as notícias sobre as enchentes em São Paulo (aquela cidade absurdamente grande e horrivel), tive essa idéia. Fico imaginando até quando esse planetinha vai nos suportar... 

I Promise

03 janeiro, 2011
"Então ela olhou para trás e viu que não era bem assim de nunca ter se arrependido..."

Faz tempo que tenho tentado "arrumar" meu porão interior, aquele onde ficam guardadas todas as lembranças e de onde às vezes saem monstrinhos e coisas esquisitas que não gosto nem um pouco! Me disseram esses dias, que lembranças e pensamentos vêm e vão e que valia à pena tentar observá-los, saber de onde saem e pra onde vão. Talvez ajudasse a não ter tanto medo daqueles cantinhos mais escuros, a saber onde estão escondidos os camaleões e baratas e quem sabe até a conseguir matá-los com uma vassoura - ou então domesticá-los!

Isso ainda não consegui, confesso. Talvez meus pensamentos não gostem muito de ser analisados... Mas, enquanto assitia meus slides de passado -como quem assiste a um filme de terror-, pude reparar alguns erros que nunca tinha visto direito...

Pois bem, eu estava ali observando as lembranças, e descobri que muitas e muitas vezes fui preguiçosa demais e isso custou algumas dezenas de amigos e momentos alegres que me fizeram muita falta. Também vi que, por puro comodismo, perdi muitas 24 horas odiando, reclamando e sendo infeliz enquanto a vida passava leve e solta pela janela... Como se ser infeliz me tornasse especial e não apenas infeliz.

Por isso, nesse novo ano, que pra mim começa depois do meu aniversário, eu prometo ser menos preguiçosa. Não vou ter preguiça de rir, de atender a campainha, de pedir um telefone, de mandar alguém se ferrar, de fazer uma comida saudável, de alugar um filme, de aceitar um convite. Acho que 21 anos de nãos já são mais do que bastantes pro resto da minha vida, por isso, eu não quero mais desistir também, de nada nem de ninguém...

Nem que seja só por hoje, ou só por agora, eu prometo sem dedo cruzado.
Domingo próximo, faço 21 anos e isso significa que mais sete anos se passaram e outros sete começam. Sete é um número importante, sabe? Acho que esperança nunca faz mal, muito menos pensamento super positivo. E desejo a mesma coisas pra vocês nesse 2011, pensamento positivo, pois com esperança a gente consegue tudo, não é mesmo? Tudo de bom e obrigada pela companhia incansável nessas quase 80 postagens que fiz em 2010!

Dentro de Casa

02 janeiro, 2011
Capítulo VI – O que ficou

Toda a calma e paz que aquele jardim transmitia, saiu caminhando atrás dos passos das duas meninas, tão jovens e tão fortes dentro de si mesmas.

A Sra. Que por sua vez, se encontrava sozinha e receosa pelo que encontraria dentro da caixinha amarela, limitou-se a se sentar no banco salpicado de rose e depois de vários segundos se passarem, criou coragem para abrir a caixinha – que talvez fosse o grande tesouro da filha que perdeu para si mesma.

Retirou a tampa devagar, sentido uma enorme tristeza. Ali dentro, encontrou algumas fotos envelhecidas, suas mãos tremiam quando pegou uma delas, onde um bebê bonito e loiro sorria.

Remexeu toda a caixa, observando com atenção cada detalhe das fotografias.
No fundo da caixa, encontrou um bilhete.
A caligrafia redonda e muito clara deixava as certezas do quanto fora difícil escrever aquele bilhete, todo manchado com algumas lágrimas.

Dizia simplesmente:

- Tive eu, que aprender a viver sem você, sem quase ninguém e eu mudei e me transformei de pequenina a muito alta e esguia e você não viu. Eu fui triste e feliz e você não soube. Queria que soubesse que amo esse lugar, acho-o o mais belo e calmo de todo canto por onde já estive e sinto que não tenha me desejado por perto. Mas eu já entendo, a vida é mesmo cheia disso, não existem sempre finais felizes.

Ainda releu o pequeno bilhetinho antes de recolocar tudo novamente dentro da caixinha amarela. Sentia-se terrivelmente triste e desapontada consigo mesma, mas conseguiu sorrir vendo a força, determinação da própria filha que abandonara. Por fim, limpou as lágrimas que lhe sujavam a pouca maquiagem que passara e voltou para a bonita casa onde morava, levando consigo o que, por fim, merecera.
Fim da história que inventei com a Tati.
Espero que tenham gostado, pois foi muito difícil bolar esse final... rsrsrsr!