Pré-Derrota

23 abril, 2010
Depois de muitos rodeios na tentativa de se convencer que era o melhor caminho, Alice decidiu pelo não. Não estava pronta, não era o momento, não! Não ainda...

Apertando a carta surrada, virou novamente as costas para a grande porta de vidro, sentindo uma espécie de aperto no peito. Olhou meio indecisa para o papel, lendo pela milésima vez “Carta de Recomendação”. Amassou-a num impulso de raiva pela coragem que não tinha, se arrependendo em seguida. Em casa passaria um ferro, pensou, enquanto se afastava, sentindo o peso da pré-derrota.

Do outro lado da rua, alguém esperava para atravessar. Alice nem reparou na garota comum, sem nada de especial. Mal sabia que aquela garota, que talvez nem tivesse um currículo tão bom, agarraria a sua tão sonhada chance.

/* Chances, chances... quem nunca amarelou? Todos sabemos quanto é bom o gosto de conseguir ir além dos nossos limites, mas o caminho até lá não é nada fácil. Às vezes chega a ser árduo! Devo manifestar minha compreensão à Alice, principalmente porque a derrota de nunca ter tentando é muito mais dolorosa... */

O Mundo Lá Fora

16 abril, 2010

“Fique aí, fique aí...”

A moça franzina metida num tailleur prendia a respiração, tentando conter a lagriminha danada que insistia em ameaçar pular para fora de seu olho direito. Imaginava o quão seu rosto deveria estar vermelho; o que aconteceria se ela desandasse a chorar ali? Quem era aquele homem pra falar daquele jeito? Uma avalanche de pensamentos desordenados que não a ajudavam em nada.

-Espero que eu tenha sido claro - terminou finalmente o homem engravatado à sua frente, com ar impessoal demais.
-Sim senhor - ela disse antes de se dirigir meio apressada para a porta.

No corredor, ela não resistiu... Desabou literalmente com papéis e tudo, manchando algum documento importante na sua choradeira.

Solidão... Mara se sentia só e desamparada naquele mundo em que ela era apenas mais uma peça descartável e sem importância. Aquelas palavras duras que acabara de ouvir pareciam dirigidas a um robô ou objeto programado sem sentimentos, não a uma pessoa. Pessoas erram e sentem dor. Pessoas merecem respeito à dignidade. Mara era uma pessoa, mas se sentia um lixo.

-O que foi? - Alguém saído duma das tantas portas se assustou, vendo-a estirada no azulejo branco.
-Nada, eu só caí...

Olha eu aí, heim? Que saudade...
Enfim, esse texto aí expressa meu total
medo do 'mundo lá fora'. Tantas pessoas brilhantes desistem de seus sonhos por
encotrarem pelo caminho gente incompreensiva e arrogante! Não compreendo como
alguns se poem tão acima quando na verdade todos nós vamos pro mesmo lugar...
Sei lá... Odeio muito tudo isso!
Beijos e obrigada pelos comentários no
último post. Talvez eu demore (mais ainda!?) pra respondê-los, mas estou
realmente muito grata!

Sonho Mágico

03 abril, 2010

Fazia frio, mas a pequena lareira improvisada esquentava um pouco os corpos gelados encolhidos pelo carpete. Lá fora, a neve caía em pequenos flocos e se acumulava no parapeito da janela. Mia, sentada num canto, assistia a lenha se encolhendo e estalando ao poder das labaredas dançantes. Quieta e concentrada, a garota esforçava-se para ‘ver’ algo no fogo, como era possível em seus livros de princesas, magos e encantamentos. Mia acreditava em magia, no ‘tudo é possível’. Sonhava com o dia em que aprenderia a dizer palavras poderosas capazes dos mais inimagináveis truques.

Naquele momento, o mais conveniente seria que algum alimento surgisse na mesa vazia de sua família ou então que aquela fome que castigava sua barriga desaparecesse. Seria bom também que houvesse cobertores para todos os seus irmãos e que seu pai se curasse da bebida. A pequena menina pensava em tudo isso com um sorriso no rosto, como se fosse algo que apenas dependesse do futuro, do tempo necessário até ela dominar a magia.

Assim, com os olhinhos apertados, ela persistia na árdua tarefa de ‘ler’ o fogo. O primeiro passo, segundo seus doces contos de fadas.