Estávamos olhando as estrelas, ou melhor, alguma estrela que vez por outra aparecia entre as nuvens. O céu estava nublado e parecendo assustadoramente mais próximo, mas nem por isso menos bonito. Aquela sensação boa e sinistra de estar olhando para o infinito se completava com o farfalhar das árvores e com o escuro da varanda. Ventava.
Acho que falávamos de pessoas, de amor, como se conversássemos com nós mesmos na verdade. Às vezes acho estranha a sintonia que nós temos, como numa amizade tão profunda que até pensamentos são compartilhados. Não estávamos felizes, talvez um pouco angustiados pela lua encoberta e o vinho não me fizera bem.
–Pois é, existem pessoas que só fingem que amam porque precisam sustentar uma bandeira, uma aparência...
– Ele disse essas palavras com uma calma suspirosa, como se alguma tristeza estivesse escondida no tom tranquilo.
–Você não me ama?
–A pergunta saiu sozinha da minha boca, sem mágoa, sem perspectivas. Por um instante, fiquei surpresa com minha própria sinceridade e coragem. Percebi que não tinha medo da resposta, que, por mais que eu soubesse o quanto minha vida seria vazia sem ele, eu aceitaria se a resposta fosse ‘
Pra falar a verdade, não...’. Não entendi direito o que se passava, uma estranha sensação de desapego.
Não sei se foi de propósito, mas ele ficou em silêncio um pouco, com olhos vazios para o céu. Eu fiquei olhando sua expressão meio lívida, pra ver a resposta saindo da boca.
–Amo, sim. - Ele disse expontâneamente, mas com convicção.
–Hum...