Presente de Grego

28 outubro, 2010


Aniversário de 18 anos é aquela coisa neh? Maioridade, nova vida, milhões de promessas, inclusive a do final da 'vida mansa', início da dureza, da obrigação de decidir quem você será afinal.

A aniversariante, sentada sozinha na cama, admira sorrindo os presentes que ganhou, entre eles vários porta-retratos e caixinhas de música. Ela pega uma delas com curiosidade (quem sabe não tem uma bailarina dentro?) a fim de ouvir a musiquinha, que deveria ser Pour Elise. Mas, a mãe aparece na porta de repente, com um sorriso estranho no rosto, as mãos escondendo algo nas costas.

–Tenho um presente pra você, querida! –e, finalmente, mostra o embrulho vermelho e cintilante, algumas lágrimas começam a empoçar o olho esquerdo.– Abra!

–T-tudo bem, mamãe, obrigada...

A recém-adulta pega nas mãos a caixa bonita, achando meio estranha a cerimônia de entrega. Pensa se não é a chave de um carro ou uma passagem pra Londres, quem sabe? Desfaz devagar o laço também vermelho, o coração acelera um pouquinho. Finalmente abre a caixa... E o susto:

–Mas, o que é isso? –ela se levanta da cama, os olhos arregalados de surpresa.

–Ora filhinha... –a mãe começa a chorar de verdade ainda com o sorriso estranho no rosto.– São os planos e sonhos que fiz especialmente pra minha princesinha! Você bem sabe que não pude realizar muita coisa na minha vida, mas tenho certeza de que você poderá.

Espantada, a garota observa um pouco os sonhos e planos dentro da caixa. Acha-os bonitos até... Mas, nessa altura do campeonato, ela já tinha seus próprios e se sentiu extremamente triste frente à ideia de abandoná-los. Também sentiu uma pontada no peito ao pensar em decepcionar a mãe, que certamente sonhava vê-la realizando-os.

Pensou que era muita crueldade ela ser obrigada a fazer uma escolha dessas, não concordou que aquilo podia ser chamado de 'presente'. Mas, também não parecia lógico que a mãe queria seu mal...

Por fim, deu um sorriso amarelo e abraçou com carinho a pessoa que mais amava no mundo.

–Obrigada, mamãe, foi o melhor presente do mundo! –e fechou novamente a caixa, escondendo uma lagriminha no canto do olho.– Que tal comermos bolo agora?

Acho que não preciso dizer o quanto é frustrante quando alguém tenta fazer planos por mim. Sei lá, me parece muita prepotência pensar conhecer a felicidade dos outros, não? Acho difícil alguém conhecer a própria! Enfim... Fica o desabafo de última hora!

Obs: Tem uma brincadeira muito legal no blog da Rebeca, achei divertida e participei :) Olha lá!

Vingança em Dobro

22 outubro, 2010


"Made In France"... Bruna bem sabia o que essas três palavrinhas significavam. Muito além da tradução para o português, aquela expressão queria dizer "Caro e sofisticado", o que aumentava mais a divertida sensação de vingança.

Com ar de deboche, ela fez biquinho tentando dizer o nome do perfume, enquanto examinava despreocupadamente o vidro preto e bonito. Olhou em volta para o quarto arrumado do irmão, para as janelas que acabara de fechar e calculou, com um pingo de maldade, o tempo que demoraria até alguém conseguir dormir ali denovo...

"Talvez uns dois dias", ela riu-se com jeito malvado e resolveu sentir o cheiro. Arrancou a tampa e encostou o nariz na borda brilhante e fria do frasco. Sinceramente não gostou da fragrância e aumentou a conta que fizera há pouco.

Observou e alisou mais um vez o pequeno tesouro do irmão, leu de novo "Made in france" no rótulo, brincou de jogar de uma mão para a outra, colocou-o contra a luz, percebeu que estava quase cheio... Definitivamente, era ótima a sensação de estar manipulando algo de valor, como se ela fosse realmente poderosa e esperta.

Então, fez um muxoxo para o vidro, olhou pela última vez com carinho sarcástico e jogou o objeto com toda força contra o azulejo do quarto. O liquido espirrou um pouco e depois escorreu de uma vez só de dentro do vidro espatifado, formando uma bola incolor e espelhada no chão. Ela ficou um tempo observando o cheiro caro evaporar-se e tomar conta do ambiente. Pensou que, definitivamente, perfumes franceses não a agradavam! Saiu de fininho, tapando o nariz e fechou a porta atrás de si.

A Sensação

18 outubro, 2010
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.
(Leoni - Temporada das Flores
)



De repente, eu acordei. E foi como se finalmente eu tivesse dormido uma boa noite de sono e as nuvens negras tivessem sido levadas pelo vento durante meu descanso.

Algo diferente havia dentro de mim, como uma vontade de sorrir e de falar com as pessoas, de descobrir coisas. Percebei que não me sentia mais aborrecida. Aquela sensação boa de ver a vida como uma grande aventura voltou pro meu coração, EU voltei, forte e renovada como um brotinho verde que sai da terra.

Vi o sol dourado entre as folhas, o contorno nítido das montanhas, senti a brisa da manhã a me revigorar passando pelo meu rosto. Ri pra mim mesma como quem dá saudosas boas vindas e me prometi que nunca, nunca mais me deixaria fugir denovo pra dentro das sombras, eu amava a sensação de me ter de volta.

De Fora

15 outubro, 2010

Vera colocou um pedaço de bolo na boca e pensou que o alto do Morro Incofidência era mesmo um lugar legal pra um piquenique. Dali podiam ver metade da cidade, comparar as casinhas, os prédios, decidir quais eram mais bonitas e coloridas. A amiga acompanhante, que olhava meio hipnotizada pra algum ponto começou a falar de repente:

–Sabe de uma coisa? Se eu pudesse ter um único dom, acho que já sei qual escolheria.
–Qual? –Vera perguntou, mais por educação que por interesse.
–O dom de ver meus problemas de fora...
–Como assim? –achando muito chato o dom que a outra escolhera.
–Eu veria o tamanho verdadeiro deles...

Com a boca cheia, Vera fez cara de quem entendeu, sem querer continuar o assunto sobre problemas. Verificou se ainda tinha suco na jarra e fingiu estar concentrada numa abelha que pousava na borda.

–Vê aquela estradinha pequenininha perto da igreja?- Insistiu a garota, na defesa de seu 'dom'.
–É a avenida principal...
–Pois é... Daqui podemos percorrê-la com apenas uma virada de olhos.
–Mas, ela parece enorme quando estamos dentro...
–Exatamente! – Sorriu, triunfante.


Estava pensando exatamente nisso hoje de manhã... Os problemas dos outros parecem sempre tão sem importância comparados aos nossos! Lembrei da tal da Antropologia e do meu professor dizendo que o outro serve sempre como seu próprio espelho. Então percebi que as pessoas também não dão muita importância pros meus problemas... Ou então EU dou muita e os enxergo de maneira distorcida. Nada a ver? Desculpe, é que eu estou lendo O Mundo de Sofia, rs!

Fotossíntese

13 outubro, 2010
Mundos são lugares particulares feitos de pessoas que se encaixem em você por um determinado lado. Algumas pessoas fazem parte de vários mundos seus, outras são como personagens de livros e só existem na sua vida quando você está no mundo a qual ela pertence.

Ultimamente, meus mundos têm se chocado violentamente, algumas pessoas têm debandado de alguns deles, outras têm se intrometido onde não lhes convêm. Penso que a minha vida inteira foi feita de big-bangs, eu nunca consegui manter meus mundos ilesos por muito tempo, alguns sempre se destruíam e outros imediatamente eram formados. E nesses fenômenos, muitas pessoas não se salvam e simplesmente desaparem da minha vida... Isso é o que realmente é triste.

Acho que por isso hoje eu estou tão cansada, sem vontade de entrar em mais mundo nenhum, querendo escolher um planetinha escuro onde ficar morando sozinha para sempre, sem ter que explodir mais ninguém, nem ter que conviver com aqueles seres hostis que sempre saem de algum canto...

Mas, acho que isso não é possivel, alguém disse que a vida é uma interdependência. Maldita inter sei lá o que! Acho que eu me daria bem como platinha autótrofa... Eu faria minha própria fotossíntese e afinal seria feliz, vivendo apenas de sol, água e minha queria terra, elemento terra.

Juro que não bebi nem fumei nada quando fiz esse texto. "Parece cocaína, mas é só tristeza.", já dizia Renato.