Indiferença de Cada Dia

29 julho, 2010

–O meu maior erro foi...

Pela primeira vez desde que começou a arrumar a mala, a garota encara o rapaz num misto de curiosidade e ironia.

–Por favor, Marissa! –ele titubeia.

Ela vira os olhos e recomeça seu trabalho.
–O seu maior erro foi... –insiste com ar de enfado.

–Por Deus, eu não sei! Não sei por que você está me deixando assim! –ele coça a barba, ela sabe que é um sinal de ansiedade. Ri-se por conhecer tanto aquele homem, suas manias, seus gostos. Estavam juntos há 4 anos! Era mesmo uma pena terminar assim...

–O que eu fiz hoje depois do almoço? –ela se levanta e encara os olhos castanhos. Ele tenta agarrá-la desesperadamente e lhe dar um beijo.

–Me solte! Responda! –ela vira o rosto e o empurra de levinho.

–Que droga de importância isso tem? –ele grita e arranca alguns fios da cabeça.

–Você não sabe, não é? –os olhos duros se desmancham em lágrimas–. Nós passamos o dia todo juntos e você nem o menos se lembra que depois do almoço eu fiquei horas e horas lendo aquele livro –apontou para a capa vermelha sobre a cama–, que você me deu de presente.

Ele olha o livro e se lembra vagamente dela dizendo que ia ler. Mas a sua memória seletiva logo excluiu o fato, substituiu pelo telefonema que tinha que receber, pelos amigos que encontraria, pelo jantar importante que teria daí a dois dias. Percebeu qual foi seu maior erro, que cometeu durante anos e anos.

Ela termina de fazer a mala, está chorando. Ele pensa em ainda pedir que ela fique, mas não o faz. Prefere lhe dar um abraço de alento como tantas vezes fez e beija uma das bochechas molhadas.

–Eu sempre soube que você não se contentava com pouco –diz baixinho–. Sinto muito por não te merecer... –E dá as costas, indo pra bem longe da porta de saída.

Hoje eu descobri uma coisa muito importante: eu não sabia usar o travessão (ainda não sei, mas já comecei a aprender pelo menos)! Acho que muita gente também tem dúvidas, usa hifen no lugar ou não sabe colocar direito na frase. Quer aprender? Aqui tem uma boa explicação com exemplos.

Ilusão Preferida

27 julho, 2010


Eu corro pelo campo, sentindo o vento e o sol que se misturam tão bem na primavera. Há flores roxas, brancas e pequeninas amarelas que vez por outra roçavam pela minha mão e eram agarradas e depois soltas ao ar. Descubro que a liberdade tem mesmo cheiro de ar fresco. Paro pra observar o céu azul, decifrar as formas brancas e macias das nuvens como se esse fosse o maior dilema a ser resolvido no mundo; volto a correr quando quero, tiro os sapatos, sujo as mãos na terra, pulo, descanso, sento, cantarolo desafinada, solto os cabelos. E eu não tenho medo, nem de que esse momento se acabe. Eu não tenho medo de nada, sou livre.

"O que fazer para abandonar a história que nos contaram?
Repetí-la em voz alta nos seus menores detalhes. E, à medida que contamos, nos despedimos do que já fomos e abrimos espaço para um mundo novo, desconhecido" - O Zahir

À Seco

19 julho, 2010

A garota senta-se na beira do lago, espeta o espelho d’água com a ponta do dedão cor-de-rosa. Um frio percorre-lhe a espinha, afunda o pé inteiro e cria uma correnteza, sente alguns peixes escorregarem pela sola. Vê uma pequena flor amarela nascida na margem, toca-lhe as pétalas. ”Que lindo, não?”, ela pensa, no fundo tentando convencer-se. A verdade era que nada daquilo tinha a cor devida, nem mesmo azul do céu. O mundo parecia às vezes tão pálido e estático que ela mal tinha vontade de respirar. Sentiu ímpetos de chorar. “Seria bom”, pensou com o rosto seco e um sorriso amarelo espelhado nas águas agora turvas.

Eis que tenho perdido pouco a pouco a capacidade de chorar... Tem dias que me pareço um outono seco e fosco. Isso é triste, eu acho.

Obrigada pela companhia de todos :) Adoro ler meus blogs seguidos, vocês são muito sensíveis, sabiam? hahaha! Que patético ¬¬

Ótima primeira semana de férias! :*

Caps Look

15 julho, 2010
Tlac tlac tlac... Alguém teclava nervosamente, incomodando o sono de Joice, que se revirava na cama com o travesseiro sobre a cabeça. O barulho parecia ter o poder de entrar na sua mente e ecoar como irritantes sinos.

_Já chega! – gritou pra ser ouvida e pulou da cama bem capaz de esganar alguém.Pisando forte, ela foi até a sala e empurrou a porta com toda violência e estrondo.

_Olha aqui, Ângela! Isso são horas de... Ângela? – A sala estava vazia e sem o menor sinal do zumbido de vida de seu computador. Estava desligado, apagado, e silencioso... Exceto pelo insistente tlac tlac que continuava a tamborilar na sua mente.

Chegou mais perto, devagar, com medo. Tocou no monitor, que estava frio, o gabinete idem... Não podia ser! Engoliu seco e puxou com receio a tábua que sustentava o teclado. Não esperava ver nada, mas para seu espanto suas mãos tremiam, o barulho aumentava exponencialmente, fazendo doer seus ouvidos.

Não viu nada de anormal nas teclas pretas, mas um segundo depois uma luzinha amarela se pronunciou: “Caps Look”! Joice arregalou os olhos, beliscou-se, piscou várias vezes, não era sonho! A luz oscilava como uma sirene, ficando mais forte a cada segundo. A garota, meio hipnotizada ficou olhando o brilho crescer. “Estou louca!”, pensou, com cansaço, o suor escorria das têmporas. Percebeu sem espanto que algumas letras se movimentavam e depois todo o alfabeto dançava freneticamente. Sentiu seus olhos se revirarem, uma espécie de ira cansada se injetava em sua espinha.

Num acesso de loucura, pôs-se a socar o computador, machucando a mão sem se importar. Jogou com violência o monitor no chão, chutou. Pegou qualquer coisa e martelou o teclado até quebrá-lo, mordeu os fios, atirou algumas peças contra a parede. Sentia uma raiva incontrolável.

Por fim, admirou a débil sucata morta no chão da sala. Sua mão ensanguentava, mas o alívio era tudo o que sentia. Respirou satisfeita e voltou para a cama em silêncio.