Eu, Eu Mesma e a Crise (Depressiva)

23 novembro, 2009
É sempre de repente, quase gozado. Eu estou lendo um livro ou fazendo qualquer outra coisa banal, quando sinto sua presença a me espiar dum canto qualquer. Não me causa espanto, afinal já há anos que ela me acompanha. Talvez uma espécie de aborrecimento, como quando termina um mês de férias.

Eu finjo indiferença, com a inocente esperança de que ela se vá, mas logo ouço seus pés se escorregando para mais perto de mim. Num lapso de coragem, eu olho seu rosto e encaro seus olhos negros como quem aceita uma sentença. Sem pestanejar, ela tira um par de algemas do bolso e acorrenta seu pulso ao meu. E em seguida, como um trabalhador enfadado que acaba de bater seu ponto, ela se senta preguiçosamente e se põe a fumar um cigarro fedorento.

Como uma raio, uma raiva percorre meu corpo e eu me revolto, me debato, jogo qualquer objeto na direção dela. Grito que saia. Essa cena se forma na minha mente como um sonho, um desejo, mas eu não me movo.

Um grande nó se forma na minha garganta eu não consigo gritar como gostaria e expulsá-la. Nem tampouco dar um pontapé. Eu apenas observo a figura despreocupada e esboço alguma lágrima querendo correr o rosto. O máximo que sou capaz é morder o lábio inferior em sinal de ira. Nossos olhares se encontram e se desafiam durante alguns segundos. Ela para de pitar o cigarro e baixa os olhos, mas se contenta apenas em dar de ombros e dizer baixinho, fingindo piedade: “Você não tem remédio, querida.”

E, tirando um monte de baralhos velhos da manga: “Que tal Truco?”

//A todas as pessoas que comentaram nos últimos posts e que não foram respondidas: Eu estou sem internet em casa. Portanto, talvez eu demore a responder os recados, mas prometo não demorar MUITO. ^^