Cúmplices

10 setembro, 2009
Quebrando a monotonia da paisagem do parque, que sempre ficava vazio aos domingos, duas moças caminhavam tranquilamente entre os canteiros. Eram melhores amigas desde a infância e trocavam confidências a respeito de tudo que se passava em suas vidas. O assunto do dia era o rapaz com quem uma delas pensava em namorar firme. Nada parecia haver de mais importante naquele momento além do papo agradável e cheio de confissões. Tanto que passaram despercebidos os movimentos de uma sombra por tras de uma touceira.

Como que vindo do céu, um homem avançou rápidamente e agarrou a garota mais próxima, tapando sua boca e apontando uma arma para sua cabeça. "Quero dinheiro", dizia ele. Parecia drogado. A acompanhante da vítima soltou um gritinho agudo e, para surpresa do bandido, atirou o que tinha nas mãos: seu celular, que ainda era daqueles antigos e pesadões. O aparelho bateu na testa do marginal, fazendo-o se desequilibrar, libertando a sua refém, chorosa e paralisada de medo. A arma, por sua vez, foi parar na grama e, logo depois, nas mãos da amiga-heroína, que, noutro reflexo impensado, deu dois tiros sem mira. Um deles acertou o agressor.

As duas amigas se abraçaram e choraram pelo susto e adrenalina. Apesar do barulho, ninguém mais apareceu na cena, continuavam a sós com o suposto morto naquele parque deserto. Ainda sem recobrar o fôlego depois do que tinham acabado de passar, surgiu uma dúvida no ar: O que vai acontecer quando descobrirem o 'cadáver'? Sabiam que existia legítima defesa, mas, naquele momento de angústia, só conseguiram se imaginar, com pavor, dentro de uma cela lotada, condenadas por assassinato.

O rio que passava por alí perto foi a primeira e única opção a ser pensada. O corpo pesava bastante, mas, sem muita dificuldade, foi lançado na água marrom, afundando rápidamente.
A arma, já limpa pela barra de uma saia, também foi jogada.

Como nos tempos de infância, quando aprontavam travessuras secretas, as duas seguiram, cautelosas, para alguma lanchonete mais distânte possivel dali. O sentimento era de alívio e cumplicididade. Desde então, houve entre elas algo maior, que as uniu por muitos anos além da amizade: Um segredo.