Dia Branco

27 fevereiro, 2010


Naquele dia o céu estava tão branco que parecia feito de açúcar... E como isso agradava àquela garota! Dias brancos tinham o poder de lhe retomar sentimentos passados, como se todos os seus dias felizes, tristes - marcados, tivessem sido brancos. E, por isso, ela se sentia feliz, inspirada, às vezes triste. Mas, quem disse que a tristeza é de todo ruim? Naquela branquidão, até a melancolia tinha seu tom suavizado para o aconchegante. Como se a vida fosse um daqueles filmes românticos em rosa pastel...

/* Definitivamente os dias brancos foram feitos para mim! Se eu pudesse desejar algo nesse mundo, seria ter dias brancos ao menos 200 vezes por ano (com o perdão dos amantes do sol). */

A medida de 'Amar'

25 fevereiro, 2010



“Sabe, eu te amo...”

Aquelas quatro palavrinhas ecoavam insistentemente na mente de Carla, às vezes mescladas à lembrança recente daqueles olhos, tão brilhantes e sinceros.

Agora que via Henrique lá longe, dobrando a esquina, meio cabisbaixo, ela podia raciocinar direito. As pernas ainda tremiam um pouquinho e o coração faltava pouco pra bater normalmente, mas o gostinho amargo do arrependimento, ou, talvez, da culpa, ainda estava acentuado em sua boca.

Em contrapartida, ela repetia insistentemente pra si mesma que fizera a coisa certa. Era quase uma questão ideológica pra ela: “Eu te amo” não é coisa que se diga sem ter certeza! Mesmo que ela também não tivesse certeza que não amasse...

Afinal, qual é a medida certa de ‘amar’? Isso ela não sabia, mas julgava que saberia quando o momento mágico acontecesse.

O tão aclamado amor não podia ser assim, tão simplesmente, numa ruela qualquer e muito menos declarado como uma puxada de assunto banal e tímida. E onde estavam a sensação de flutuar, as flores cor-de-rosa e a poesia? E as tais borboletas no estômago?

É, porque o máximo que ela sentiu foi uma alegriazinha de leve, vá lá uma tremurazinha ou um friozinho no estômago.

Ah! E teve também aquela vontadezinha de dizer ‘eu também’, mas que morreu no silêncio, assim como aquele primeiro beijo daquele que poderia ter sido o seu primeiro amor - mas não foi!

/* Alguém assistia Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha) quando passava no SBT? Lembro de um episdio em que o namorado da Rory (filha) disse que a amava, mas ela não disse 'eu também'. Eles chegaram a terminar por causa disso, ela ficou na fossa, enfim...

Acho que não esxiste regra nenhuma pra expor sentimentos. As pessoas já têm tantos problemas com isso, pra que complicar mais?

Te amo pode significar muita coisa, tudo depende de como e por quem é dito. Cabe às pessoas saberem interpretar, coisa que, acho, não é difícil...
*/

O Ritual da Lua

20 fevereiro, 2010


“vrijheid forever ever ever
vliegen naar de maan oh!”

Diana dançou e repetiu as palavras mágicas por 10 vezes num tom de voz crescente e animado, como descrito no ‘Ritual da Lua’, da página 141. A brincadeira misteriosa até que era um bom exercício, mas já estava ficando cansativa demais e monótona. Lembrando-se que estava na hora da novela, ela jogou o velho livro num canto e seguiu para a sala de estar.

A luz da lua cheia que entrava pela janela branqueava quase totalmente a sala do apartamento. Ela parou um instante, admirada, mas deu de ombros e ligou a TV, jogando-se no sofá.

Já quase dormia quando sentiu uma espécie de formigamento por todo o corpo. Levantou-se pra tomar algo, mas, ao abrir a geladeira, quase desmaiou por uma dor insuportável no estômago. Seguiram-se, então, efeitos inexplicáveis e desagradáveis. A sensação era de que várias coisas saíam de seu corpo e outras entravam, num ritmo apressado e doloroso, que a faziam rasgar as próprias roupas e rolar pelo azulejo frio da cozinha.

Depois que tudo acabou, o suor molhava cada parte do seu corpo. Diana, admirada por ainda estar viva, se sentia estranha, como se agora ocupasse mais espaço. Algo duro lhe doía nas costas e sua visão estava turva. Virou-se desajeitadamente e viu a lua pela fresta dum basculante. Num repente, sentiu- se levitar e depois ganhar muita velocidade. A vidraça da sala se quebrou com o choque de seu corpo nu, que mergulhou e depois ascendeu na noite em direção à luz.

A Ponte Que Cai

17 fevereiro, 2010



Não me lembro direito como, mas quando me dei conta, estava numa ponte feita de madeira podre e inconsistente, que ligava duas margens muito distantes, separadas por um profundo precipício. Lá embaixo, havia um mundo desconhecido e escuro, que me causava arrepios. Atrás, a parte sólida e confortável de onde eu partira e à frente algo ainda desconhecido, mas muito atraente e colorido.

Andava às vezes dividida entre ir em frente ou voltar... Seu eu ao menos soubesse quanto faltava pra chegar lá! Por muitas vezes eu quase desisti, desmotivada e cansada. A cada etapa, eu tinha a impressão de que ia cair ou de que meu passo vacilaria, num erro doloroso ou fatal. Confesso que já me demorei dias num mesmo ponto e até cheguei a recuar alguns metros, mas, por algum motivo, continuei.

E, até hoje continuo, enfrentando tempestades e fortes ventos que literalmente balançam meu caminho. Ainda não ando com firmeza, continuo com medo do abismo e tampouco sei quando devo chegar, mas avanço. Por andar, porque quero chegar lá, pelo desafio... ainda não sei! É um mistério pra mim, mas eu procuro não pensar muito e me ocupo observando a paisagem, que é linda. Guardo algumas flores no bolso, algumas fotos de animais simpáticos e até alguns pedaços de madeira velha que se soltam. Quando eu chegar lá, quero me lembrar de tudo!

/* Tá, vou falar: estou muto anciosa, esperando um emprego e uma bolsa de estudos... Não quero ter esperanças e fazer planos, porque a decepção dói, mas... Não consigo não acreditar! Deus me ajude!
Ah, e obrigada pelos coments e pelas visitas novas que recebi no último post. Fiquei muito feliz!
*/

Carnaval Solidão

16 fevereiro, 2010
Jesus que calor! E a previsão do tempo ainda disse que ia chover à tarde durante o carnaval... Doce ilusão! Hoje está um dia daqueles 'maravilindos': eu derrentendo, sozinha e ficando mais míope na frente desse computador. Pra piorar, meu gato está peidando a cada cinco minutos (e nem queira sentir peido de gato) e empestiando a casa toda. Ah, sim e a geladeira está vazia...

Maaas, nem tudo foram espinhos! Teve patinação no gelo na Record...

Ok, foi uma merda mesmo. ¬¬
Ainda bem que já está acabando, daqui há pouco tem a noite, cálida e quente, quando eu vou sofrer deitada tendo pesadelos e suando em bicas. Com certeza vai ser ótimo...

Mas, calma. Ainda tem mais amanhã, a famosa quarta de cinzas. Quem sabe São pedro não tem piedade dos pobres muriaeenses e manda uma chuvinha? Não é bom ter esperanças quanto à isso, mas às vezes rezar um terso funciona...

Indiferença

15 fevereiro, 2010
Cansada de esperar das pessoas o que elas não querem ser, de fazer planos que não me pertencem, de sonhar sonhos que não foram feitos para mim.”

Desiludida era a palavra que melhor descrevia Ana naquele dia. Ali, olhando as estrelas, ela tentava se lembrar de algo que fizesse todo aquele sofrimento valer à pena, ouvira dizer que tudo sempre têm seu lado bom. “Talvez minha vida seja uma exceção”, pensou, rindo-se da ironia. Uma lagrima teimosa tentou nublar sua visão, mas ela concentrou-se no céu azul-marinho, na lua e na Dalva que cintilava. Sorriu sem ver, hipnotizada pelo frescor e pela luz da noite, que amava desde criança.

Alguém apareceu na varanda, era ele. Viu as malas feitas, ficou um tempo em silêncio até que ela percebesse sua presença. Tocou-lhe suavemente o ombro, ensaiando um beijo na nuca, mas foi surpreendido por um “vou embora” repentino, calmo e decidido.

-O que eu fiz?
-Nada.
-Então?
-Nada não é o bastante pra mim.

Lágrimas e Bombons

04 fevereiro, 2010

Lágrimas e bombons não têm um gosto bom juntos. Cris já havia percebido isso, mas não parava de comer nem de chorar. Chorava de ódio por ser tão feia e por ser tão medíocre. Comia porque chocolate parecia ser a única coisa agradável que lhe restava. Já fazia umas doze horas que ela estava trancada no quarto, não tinha a menor vontade de sair, nem de viver, nem de nada.

Ser ‘gordinha’ nunca havia sido um problema em sua vida antes da sétima série, quando o inferno começou. No início eram apenas alguns apelidinhos, que a magoavam um pouco, mas que ela facilmente relevava, às vezes até sorria e fingia achar graça. Mas, logo vieram os insultos, as caricaturas no quadro negro e, o que mais doía, as comparações. “A MAIS feia”, “a MAIS gorda”, “a MENOS atraente”, era o que comentavam maldosamente a seu respeito. Os garotos a olhavam com desprezo e deboche, as garotas às vezes com pena. Não era raro acontecer de toda a classe zombar dela de uma só vez. Cris, ou A Baleia, como era conhecida na escola, tornou-se uma garota triste, mal-humorada e com péssimas notas.

Em casa, a rotina era quase a mesma: chorar, comer pra esquecer e depois vomitar tudo. Às vezes, ela recorria aos laxantes da mãe, temendo engordar mais um grama que fosse. Ter um corpo magro passou a ser uma fixação em sua vida e para isso ela seria capaz de qualquer coisa.

A depressão grave veio cedo, lá pelos 15 ou 16 anos. Cris deixou de ir à escola, quase não se alimentava e raramente saia do quarto. Sua mãe a internou depois de uma tentativa de suicídio, quando ela já pesava metade do que seria o ideal.

Depois disso, ela passou a visitar um psiquiatra, mudou de escola, atingiu um bom peso. Mas, nunca mais foi uma garota normal, sempre refém dos padrões de peso. Transformou-se numa adulta problemática e com a auto-estima muito frágil. As marcas do que sofreu na adolescência persistiram por toda a sua vida.

Coração Lavado

02 fevereiro, 2010


Chovia e cada gota quase doía ao cair sobre a pele de Ângela. Pareciam agulhas frias a fim de penetrar a pele quente. E ela se concentrava nessa quase dor tentando esquecer as feridas abertas em sua auto-estima. Tentava fingir como criança que a água levaria embora seu fracasso, suas dívidas e se esforçava por senti-los escorrer com destino ao bueiro mais profundo que pudesse existir. E mais difícil: tentava creditar nisso.

Pessoas passavam por ela na calçada, se esquivando dos pingos e estranhando sua imobilidade. A roupa transparente atraía alguns olhares e sua bolsa se encharcava, caída para fora do meio-fio e faltando pouco para ser levada pela pequena correnteza que se formava. Mas, como se estivesse surda-muda e cega, ela se mantinha absorvida apenas nas sensações frias de seu corpo. Algo quente subiu seu rosto e em seguida escorreu pelos olhos, trazendo logo um gosto salgado aos lábios. Depois vieram os soluços, as caretas e os gritos mudos.

A chuva foi parando devagar. Ângela resgatou a bolsa e fez o que pode pra disfarçar as transparências. De coração e alma lavados, ela voltou para casa tranquilamente e muito atenta ao que restou da correnteza pluvial. Era bom ver seus problemas sendo engolidos pelas bocas de lobo.