-Porque você não vai embora de uma vez? - A menina viu a raiva nos olhos da mãe, isso foi o que mais a magoou. Não era possível que algo tão banal fosse capaz de transformar o que deveria ser amor em ódio e desprezo! Sentiu alguma coisa congelar no peito, não discutiu dessa vez.
-Tudo bem, disse olhando pro chão e saiu porta afora sem olhar para trás.
Lá fora, com o coração magoado e despedaçado, a garota, mais sozinha que nunca, tentava imaginar uma solução para o enigma obscuro que era sua vida. Se esforçava pra vislumbrar um norte luminoso, como sempre fizera ao longo de sua existência sofrida, mas seus olhos chorosos só conseguiam visualizar portas se fechando, caminhos sem volta, precipícios. Sentia-se cansada, culpada, deprimida. A única coisa que conseguia desejar era conforto e paz, não queria lutar, não sentia indignação ou ira. Apenas um enorme cansaço, cansaço de viver.