Quem se Importa?

12 janeiro, 2011


O ronco incômodo da máquina invadiu a janela de Sarah ainda de manhã cedinho. Todos os moradores já sabiam das modificações previstas para a pequena rua de paralelepípedos. Especulava-se que os próximos planos seriam grandes edifícios no lugar das casinhas de telhado que ainda não tinham virado sobrados.

Sarah parecia ser a única a olhar tudo aquilo com maus olhos, a não achar tanta vantagem assim em morar numa grande metrópole. E, naquela manhã, para sua infelicidade, parecia que tudo ia começar de verdade. A menina foi até a janela observar os montes de terra sendo assentados. Desanimada, ela imaginou o futuro próximo da sua querida ruazinha pacata, o barulho dos tratores parecia até um prenúncio das buzinas e fumaça que fariam parte do seu dia-a-dia logo logo.

Distraída, ela se assustou de repente com o chiado de um megafone: “Atenção! As obras de nivelamento serão suspensas a partir de agora até a retirada das árvores como previsto. Obrigado.” Uma raiva misturada com tristeza passou como uma sombra pelo coraçãozinho de oito anos. Como assim iam arrancar as árvores da sua rua? Isso não era justo! Se queriam tirar as pedrinhas que tirassem, mas o seu verde, não! Foi correndo pra calçada de pijama e tudo, viu o cara do megafone num canto conversando com os pedreiros e o abordou sem nenhuma vergonha, como era de sua natureza espevitada.

–Hei, com licença?

O rapaz abaixou-se e respondeu delicadamente: –Sim, mocinha?

–Bem, é que... Essas árvores aqui –abriu os bracinhos apontando– não podem ser arrancadas!

Ele riu, como se ela tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo: –E porque não?– desafiou.

–Porque elas são importantes, oras! Você não sabia que devemos proteger a natureza?

–Olha, eu sei que te ensinam na escola que a natureza é importante... Mas o progresso é muito melhor para nós, sabia? Essa rua aqui vai ser muito mais movimentada depois do asfalto, o comércio vai crescer, pode até abrir um mercado perto da sua casa. Não é legal?

–Não! Eu não gosto do barulho nem da sujeira que vêm do progresso... Essas árvores fazem sombra para nós e colorem o cinza que vem da metrópole. Eu não quero viver numa selva de pedra! –ela fez bico e cara de choro.

–Calma, não precisa chorar... Onde você mora, menininha?– Ela apontou a casinha da esquina. –É melhor você voltar ou pode cair num buraco. O tio precisa trabalhar, está bem?– A delicadeza sumiu da voz dele, se transformando em impaciência.

Sarah obedeceu ao moço, segura de que as pobres árvores seriam arrancadas de qualquer jeito. Resolveu que odiava as pessoas do progresso, principalmente homens com megafone. Voltou para a cama triste e fechou a janela pra não ouvir o barulho, que daquele dia em diante, nunca mais parou.
Ai gente, juro que tentei diminuir esse texto, mas não deu jeito! Faz tempo que queria falar sobre meio ambiente e ontem, vendo as notícias sobre as enchentes em São Paulo (aquela cidade absurdamente grande e horrivel), tive essa idéia. Fico imaginando até quando esse planetinha vai nos suportar... 

I Promise

03 janeiro, 2011
"Então ela olhou para trás e viu que não era bem assim de nunca ter se arrependido..."

Faz tempo que tenho tentado "arrumar" meu porão interior, aquele onde ficam guardadas todas as lembranças e de onde às vezes saem monstrinhos e coisas esquisitas que não gosto nem um pouco! Me disseram esses dias, que lembranças e pensamentos vêm e vão e que valia à pena tentar observá-los, saber de onde saem e pra onde vão. Talvez ajudasse a não ter tanto medo daqueles cantinhos mais escuros, a saber onde estão escondidos os camaleões e baratas e quem sabe até a conseguir matá-los com uma vassoura - ou então domesticá-los!

Isso ainda não consegui, confesso. Talvez meus pensamentos não gostem muito de ser analisados... Mas, enquanto assitia meus slides de passado -como quem assiste a um filme de terror-, pude reparar alguns erros que nunca tinha visto direito...

Pois bem, eu estava ali observando as lembranças, e descobri que muitas e muitas vezes fui preguiçosa demais e isso custou algumas dezenas de amigos e momentos alegres que me fizeram muita falta. Também vi que, por puro comodismo, perdi muitas 24 horas odiando, reclamando e sendo infeliz enquanto a vida passava leve e solta pela janela... Como se ser infeliz me tornasse especial e não apenas infeliz.

Por isso, nesse novo ano, que pra mim começa depois do meu aniversário, eu prometo ser menos preguiçosa. Não vou ter preguiça de rir, de atender a campainha, de pedir um telefone, de mandar alguém se ferrar, de fazer uma comida saudável, de alugar um filme, de aceitar um convite. Acho que 21 anos de nãos já são mais do que bastantes pro resto da minha vida, por isso, eu não quero mais desistir também, de nada nem de ninguém...

Nem que seja só por hoje, ou só por agora, eu prometo sem dedo cruzado.
Domingo próximo, faço 21 anos e isso significa que mais sete anos se passaram e outros sete começam. Sete é um número importante, sabe? Acho que esperança nunca faz mal, muito menos pensamento super positivo. E desejo a mesma coisas pra vocês nesse 2011, pensamento positivo, pois com esperança a gente consegue tudo, não é mesmo? Tudo de bom e obrigada pela companhia incansável nessas quase 80 postagens que fiz em 2010!

Dentro de Casa

02 janeiro, 2011
Capítulo VI – O que ficou

Toda a calma e paz que aquele jardim transmitia, saiu caminhando atrás dos passos das duas meninas, tão jovens e tão fortes dentro de si mesmas.

A Sra. Que por sua vez, se encontrava sozinha e receosa pelo que encontraria dentro da caixinha amarela, limitou-se a se sentar no banco salpicado de rose e depois de vários segundos se passarem, criou coragem para abrir a caixinha – que talvez fosse o grande tesouro da filha que perdeu para si mesma.

Retirou a tampa devagar, sentido uma enorme tristeza. Ali dentro, encontrou algumas fotos envelhecidas, suas mãos tremiam quando pegou uma delas, onde um bebê bonito e loiro sorria.

Remexeu toda a caixa, observando com atenção cada detalhe das fotografias.
No fundo da caixa, encontrou um bilhete.
A caligrafia redonda e muito clara deixava as certezas do quanto fora difícil escrever aquele bilhete, todo manchado com algumas lágrimas.

Dizia simplesmente:

- Tive eu, que aprender a viver sem você, sem quase ninguém e eu mudei e me transformei de pequenina a muito alta e esguia e você não viu. Eu fui triste e feliz e você não soube. Queria que soubesse que amo esse lugar, acho-o o mais belo e calmo de todo canto por onde já estive e sinto que não tenha me desejado por perto. Mas eu já entendo, a vida é mesmo cheia disso, não existem sempre finais felizes.

Ainda releu o pequeno bilhetinho antes de recolocar tudo novamente dentro da caixinha amarela. Sentia-se terrivelmente triste e desapontada consigo mesma, mas conseguiu sorrir vendo a força, determinação da própria filha que abandonara. Por fim, limpou as lágrimas que lhe sujavam a pouca maquiagem que passara e voltou para a bonita casa onde morava, levando consigo o que, por fim, merecera.
Fim da história que inventei com a Tati.
Espero que tenham gostado, pois foi muito difícil bolar esse final... rsrsrsr!