O ronco incômodo da máquina invadiu a janela de Sarah ainda de manhã cedinho. Todos os moradores já sabiam das modificações previstas para a pequena rua de paralelepípedos. Especulava-se que os próximos planos seriam grandes edifícios no lugar das casinhas de telhado que ainda não tinham virado sobrados.
Sarah parecia ser a única a olhar tudo aquilo com maus olhos, a não achar tanta vantagem assim em morar numa grande metrópole. E, naquela manhã, para sua infelicidade, parecia que tudo ia começar de verdade. A menina foi até a janela observar os montes de terra sendo assentados. Desanimada, ela imaginou o futuro próximo da sua querida ruazinha pacata, o barulho dos tratores parecia até um prenúncio das buzinas e fumaça que fariam parte do seu dia-a-dia logo logo.
Distraída, ela se assustou de repente com o chiado de um megafone:
–Hei, com licença?
O rapaz abaixou-se e respondeu delicadamente: –Sim, mocinha?
–Bem, é que... Essas árvores aqui –abriu os bracinhos apontando– não podem ser arrancadas!
Ele riu, como se ela tivesse dito a coisa mais engraçada do mundo: –E porque não?– desafiou.
–Porque elas são importantes, oras! Você não sabia que devemos proteger a natureza?
–Olha, eu sei que te ensinam na escola que a natureza é importante... Mas o progresso é muito melhor para nós, sabia? Essa rua aqui vai ser muito mais movimentada depois do asfalto, o comércio vai crescer, pode até abrir um mercado perto da sua casa. Não é legal?
–Não! Eu não gosto do barulho nem da sujeira que vêm do progresso... Essas árvores fazem sombra para nós e colorem o cinza que vem da metrópole. Eu não quero viver numa selva de pedra! –ela fez bico e cara de choro.
–Calma, não precisa chorar... Onde você mora, menininha?– Ela apontou a casinha da esquina. –É melhor você voltar ou pode cair num buraco. O tio precisa trabalhar, está bem?– A delicadeza sumiu da voz dele, se transformando em impaciência.
Sarah obedeceu ao moço, segura de que as pobres árvores seriam arrancadas de qualquer jeito. Resolveu que odiava as pessoas do progresso, principalmente homens com megafone. Voltou para a cama triste e fechou a janela pra não ouvir o barulho, que daquele dia em diante, nunca mais parou.
Ai gente, juro que tentei diminuir esse texto, mas não deu jeito! Faz tempo que queria falar sobre meio ambiente e ontem, vendo as notícias sobre as enchentes em São Paulo (aquela cidade absurdamente grande e horrivel), tive essa idéia. Fico imaginando até quando esse planetinha vai nos suportar...