Exercício do Esquecer

29 março, 2010
“As piores batalhas a serem travadas
estão dentro de nós mesmos.”


Olhos fechados, você só ouve aquela música... De preferência aquela que muito te emocione, que te faça viajar ou que lhe seja agradavelmente familiar, aquela que te lembre de bons momentos.

Então, você começa a se lembrar, a materializar todos aqueles sentimentos presos, todas as angústias, todos os momentos vergonhosos. E você os enfrenta, como a tirar satisfações. Você se imagina se levantando de todos os tombos, limpando a poeira da calça e seguindo em frente; apontando o dedo na cara daqueles que lhe machucaram e dizendo-lhes todas as suas verdades, como você se sentiu magoada, como você merece respeito. E então você sorri como se perdoasse e você perdoa de fato. Você não precisa de rancores! E você continua a seguir em frente, ao som da SUA melodia. E você se sente livre. Porque você está livre...


/*Ando tão introspectiva esses dias que estou começando a me incomodar!
Há dias em que eu me sinto tão presa ao passado que tenho que recorrer a certos 'rituais' malucos... Não vejo a hora de inventarem uma pílula do esquecimento ou coisa parecida! :P */

50 Anos...

27 março, 2010
"Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meu ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar"


Parabéns para você... E obrigada pelo imenso legado que nos foi deixado: Sua música, sua poesia, suas fraquezas que tanto nos aproxima. Você que implicitamente nos disse: "Eu te entendo, eu sou como você"; que traduziu nossas revoltas, nossas dores e confusões. Você que há quase 20 anos disse coisas que ainda podemos cantar hoje.

Você me faz me sentir menos só, com seus versos tão humanos, às vezes depressivos, às vezes irônicos, sempre verdadeiros! Nunca lhe esqueceremos, ainda que sejamos poucos. E nunca deixarei de ouvi-lo, ainda que um dia todos esse sentimentalismo à flor da pele dê lugar à maturidade. Porque você é único e eterno, contrariando o ‘para sempre’ que sempre acaba.

/* Hoje Renato Russo faria 50 anos e eu JAMAIS poderia deixar essa data passar em branco... Desde os 13 anos que escuto Legião Urbana e vez ou outra eu 'descubro' alguma música nova pra mim, de forma que acho que vou ter a voz de Renato pra sempre em meus tocadores...
Enfim, fica a homenagem a um dos meus maiors ídolos. */

Ainda Existem Paineiras!

26 março, 2010



Ventava um pouco e as folhas e flores - mais flores que folhas - da colorida paineira se agitavam, fazendo um barulho que eu chamo ‘som da paz’. Algumas flores cor-de-rosa no chão formavam um delicado tapete meio murcho, meio vivo, meio escorregadio, mas com um cheiro bom... Cheiro de vida, de verde.

E eu estava ali, complementando o concreto e observando o lento derreter de um sorvete recém caído no asfalto, preocupada apenas com alguma saçurana cadente que pudesse me surpreender. O sol até que brilhava, mas a sombra fresca tornava aquele pedaço tão ameno...

Ouço sempre as pessoas dizerem o quanto a vida é difícil, e feia, e sofrida, mas às vezes eu insisto em pensar o contrário. "Ainda existem, paineiras!", eu argumento.

Ó pra você, ó

24 março, 2010
"Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch"
(Lily Allen)

Eu sou diferente... Tenho mesmo que admitir. Eu sou sim! Mas, quer saber? E daí? Eu não queria mesmo ser como você! Eu sou única, impar, individual. Enquanto você se esconde nos seus grupinhos, conveniências e sorrisos plásticos. Eu sou carne, sou emoção, sou erros, sou timidez, sou alegria boba.

Eu prefiro sorrir, quando eu quiser sorrir. E falar sobre meus assuntos às vezes tolos e pueris, quando eu quiser falar. E ficar quieta também... A maior parte do tempo se assim desejar. Porque eu prefiro economizar palavras a usá-las em vão.

Eu sou assim, sabe? Se isso for um problema pra você, tudo bem. Você não precisa gostar de mim, nem sorrir. Sério, não precisa. Apenas me respeite... Isso não é pedir muito, é? Acho que não... Aliás, se pra você for mais fácil me ignorar, também não tem problema. Apenas não deboche, nem me olhe com aqueles olhos virados. Porque... sabe? Às vezes eu não respondo direito por mim.

/* Hoje decidi dar um tempo nos projetos que participo... Acho que minha espontaneidade tem ficado meio de lado. Quero escrever mais sobre o que eu sinto e estar mais livre. Eu estava esquecendo que esse aqui é MEU blog... Justo eu, que odeio regras e convenções! */

A Sombra

15 março, 2010

Foto retirada do site We It.


Na faixa de pedestres, Júlia dava longos passos, apressada. Sem disfarçar, espiou o outro lado da rua, preocupada. Sim, a sombra ainda a seguia! Abraçando forte os cadernos, ela passou então a correr, ignorando os cabelos que se embolavam no rosto e o barulhinho estridente das chaves que se batiam, dependuradas em seu bolso.

Ufa! Uma rua movimentada... Finalmente saíra do beco escuro para o iluminado centro. Olhou para trás, agora mais tranquila e não viu mais ninguém a segui-la. Com respiração ofegante, ela deu um risinho de alívio e foi mudando de direção - seu destino inicial. Mas, num fatídico e repentino instante, lá estava a mão tapando-lhe a boca e puxando-a de costas para algum lugar.

Júlia deixou cair os cadernos, socou um pouco o corpanzil que a dominava, até mordeu um pouco a mão macia. Mas aí, ela sentiu o perfume... Numa questão de segundos, o medo virou raiva e a raiva -la se libertar rapidamente.

- Você é maluco, é? - gritou ela, catando os objetos no calçamento.
- Sou - ele disse e a pegou no colo - Maluco por você.

E a beijou, entre socos.

E.T.

13 março, 2010
Até aquele dia, meu segredo era só meu e de mais ninguém. Mas, chegou o momento em que eu não pude mais disfarçar...

O dia começou normalmente, eu fui pra faculdade cedo com aquela velha vontade de ficar em casa dormindo, não cumprimentei quase ninguém na sala e me sentei no meu lugar habitual. Tudo correu bem até eu sentir um comichão incomodo na testa. Não parecia ser nada grave, eu me limitei a apenas coçar. Mas aí eu percebei que alguns colegas me olhavam de soslaio, às vezes cochichando. Até que alguém comentou “Você está meio pálida...”

Devo ter arregalado os olhos e ficado ainda mais pálida ao ouvir isso. Dei um pulo da carteira e corri pro banheiro, fingi que ia vomitar pra ninguém me seguir. Tranquei bem a porta do vestiário e me olhei ao espelho, meio com medo do que veria... Era verdade! Eu estava pálida como papel, quase ficando verde-cera e, da minha testa, duas antenas já se mostravam inteiramente. Entrei em desespero, principalmente quando observei apenas três dedos na minha mão direita... O que eu faria? Iam descobrir meu segredinho...

Abri um pouco a porta, pra ver o movimento no corredor... Ninguém! Respirei fundo e fui andando na ponta dos seis pés, sorrateiramente encostada nas paredes. Parecia não haver ninguém no caminho até a porta de saída. Comecei a correr, esdruxulamente com aquela forma, e já podia ver a luz da rua, quando uma freira (o colégio era católico) apareceu do nada no meio do caminho. “Demônio!”, ela gritou, antes de ser atropelada por mim e ficar pelo caminho gritando. Eu apenas corri e, por pouco consegui me esconder no cemitério que fica próximo à instituição. Vi quando uma ambulância chegou e levaram a irmã, ainda os berros... Tive pena e até rezei um Padre Nosso.

Eu x A Sina

05 março, 2010
Naquele dia, eu senti a presença dela bem cedo, quando meu celular não despertou e eu perdi a primeira aula. Seria habitual eu me levantar desesperada e correr feito uma louca tentando não me atrasar, mas eu fiz diferente: resolvi desafiá-la! Fingi que não estava perdendo uma prova importante e levantei da cama bem devagar, olhando para todos os lados pra não tropeçar em nada. Escolhi a roupa pacientemente no guarda-roupa, reparando se não havia nem um furo ou mancha e testei o fecho ecler e os botões. Tudo em ordem!

Peguei a toalha e fui para o banho. Já adivinhando que me cabelo estaria ‘o bicho’, eu nem perdi meu tempo com escovas, mas fui direto encharcando a juba e usei um quilo de condicionador. Me lavei tranqüilamente, com chinelo de borracha pra não escorregar e telefone fora do gancho.

Pronto! Eu estava linda, bem vestida e inteira! Peguei o material, já conferido e saí, pé ante pé, forçando a perna direita a pisar na rua primeiro. Reparei se o cachorro da vizinha estava preso, se havia caca na calçada, se algum bêbado poderia me agarrar de repente... Nada! Tudo limpo, perfeito, garantido. Saí, portanto, segura e feliz, contando que chegaria à faculdade antes do terceiro horário começar.

Foi aí que meu celular tocou... Eu pensei em não atender, mas vi que era a Dani e parei pra falar com ela, afinal poderia ser algo importante. Eu não sei bem o que aconteceu depois, só lembro que, numa fração de segundos, uma bicicleta desgovernada me atropelou na calçada e eu fui parar na beirada da rua, de cara num paralelepípedo que me quebrou dois dentes. Vi meus livros voarem e todas as folhas do meu fichário se espalhar no chão. Meu celular desapareceu, roubado com certeza. Com a cara suja e sangrando, eu até tentei me levantar, mas acho que depois de alguém tropeçar em mim, eu fiquei inconsciente.

Me contaram depois que o corpo de bombeiros foi acionado e que foi o maior bafafá na vizinhança. Várias pessoas tiraram fotos minhas e eu tive que contar a história mais de vinte vezes, fiquei até meio famosa... Tudo por querer desafiar a sina de um dia ruim...