Dentro de Casa

26 dezembro, 2010
Capítulo V – A missão

- Preciso te entregar isso...

- Me entregar? Você me conhece então, querida?

- Sim... Mamãe! E eu sei há muito tempo que você mora aqui

Na outra extremidade do jardim, a irmã, mantinha os olhos grudados nas duas, como quem assiste a um grande espetáculo.

- E sabe o que mais? - A voz de Nana se torna levemente irritada - Eu não preciso de você, não preciso que cuide de mim, apenas preciso te entregar isto. - E colocou rispidamente a caixa entre as mãos da mãe, que perdera a serenidade do outro momento e se mostrava surpresa e emocionada.

Nana, girou o corpo e começou a andar rapidamente em direção as cerejeiras, com a esperança de que a irmã, ainda a esperasse ali.

Abraçou a única pessoa que te dera apoio por toda a sua vida, sua irmã querida, e as duas foram caminhando de mãos dadas para longe daquele lugar.
Quinto e PEnúltimo capítulo da minha parceria com a Tati.
Está quase chegando à resolução dessa 'mininovela', rs! Esse certamente é o maior texto que já fiz...

A árvore de Natal na casa de Cristo

25 dezembro, 2010
(Dostoiévski)

Havia num porão uma criança, um garotinho de seis anos de idade, ou menos ainda. Esse garotinho despertou certa manhã no porão úmido e frio. Tiritava, envolto nos seus pobres andrajos. Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco, e ele, sentado num canto em cima de um baú, por desfastio, ocupava-se em soprar esse vapor da boca, pelo prazer de vê-lo se esvolar. Mas bem que gostaria de comer alguma coisa. Diversas vezes, durante a manhã, tinha se aproximado do catre, onde num colchão de palha, chato como um pastelão, com um saco sob a cabeça à guisa de almofada, jazia a mãe enferma. Como se encontrava ela nesse lugar? Provavelmente tinha vindo de outra cidade e subitamente caíra doente. A patroa que alugava o porão tinha sido presa na antevéspera pela polícia; os locatários tinham se dispersado para se aproveitarem também da festa, e o único tapeceiro que tinha ficado cozinhava a bebedeira há dois dias: esse nem mesmo tinha esperado pela festa. No outro canto do quarto gemia uma velha octogenária, reumática, que outrora tinha sido babá e que morria agora sozinha, soltando suspiros, queixas e imprecações contra o garoto, de maneira que ele tinha medo de se aproximar da velha. No corredor ele tinha encontrado alguma coisa para beber, mas nem a menor migalha para comer, e mais de dez vezes tinha ido para junto da mãe para despertá-la. Por fim, a obscuridade lhe causou uma espécie de angústia: há muito tempo tinha caído a noite e ninguém acendia o fogo. Tendo apalpado o rosto de sua mãe, admirou-se muito: ela não se mexia mais e estava tão fria como as paredes. "Faz muito frio aqui", refletia ele, com a mão pousada inconscientemente no ombro da morta; depois, ao cabo de um instante, soprou os dedos para esquentá-los, pegou o seu gorrinho abandonado no leito e, sem fazer ruído, saiu do cômodo, tateando. Por sua vontade, teria saído mais cedo, se não tivesse medo de encontrar, no alto da escada, um canzarrão que latira o dia todo, nas soleiras das casas vizinhas. Mas o cão não se encontrava alí, e o menino já ganhava a rua.

Senhor! que grande cidade! Nunca tinha visto nada parecido, De lá, de onde vinha, era tão negra a noite! Uma única lanterna para iluminar toda a rua. As casinhas de madeira são baixas e fechadas por trás dos postigos; desde o cair da noite, não se encontra mais ninguém fora, toda gente permanece bem enfunada em casa, e só os cães,às centenas e aos milhares,uivam, latem, durante a noite. Mas, em compensação, lá era tão quente; davam-lhe de comer... ao passo que ali... Meu Deus! se ele ao menos tivesse alguma coisa para comer! E que desordem, que grande algazarra ali, que claridade, quanta gente, cavalos, carruagens... e o frio, ah! este frio! O nevoeiro gela em filamentos nas ventas dos cavalos que galopam; através da neve friável o ferro dos cascos tine contra a calçada;toda gente se apressa e se acotovela, e, meu Deus! como gostaria de comer qualquer coisa, e como de repente seus dedinhos lhe doem! Um agente de policia passa ao lado da criança e se volta, para fingir que não vê.

Eis uma rua ainda: como é larga! Esmaga-lo-ão ali, seguramente; como todo mundo grita, vai, vem e corre, e como está claro, como é claro! Que é aquilo ali? Ah! uma grande vidraça, e atrás dessa vidraça um quarto, com uma árvore que sobe até o teto; é um pinheiro, uma árvore de Natal onde há muitas luzes, muitos objetos pequenos, frutas douradas, e em torno bonecas e cavalinhos. No quarto há crianças que correm; estão bem vestidas e muito limpas, riem e brincam, comem e bebem alguma coisa. Eis ali uma menina que se pôs a dançar com um rapazinho. Que bonita menina! Ouve-se música através da vidraça. A criança olha, surpresa; logo sorri, enquanto os dedos dos seus pobres pezinhos doem e os das mãos se tornaram tão roxos, que não podem se dobrar nem mesmo se mover. De repente o menino se lembrou de que seus dedos doem muito; põe-se a chorar, corre para mais longe, e eis que, através de uma vidraça, avista ainda um quarto, e neste outra árvore, mas sobre as mesas há bolos de todas as qualidades, bolos de amêndoa, vermelhos, amarelos, e eis sentadas quatro formosas damas que distribuem bolos a todos os que se apresentem. A cada instante, a porta se abre para um senhor que entra. Na ponta dos pés, o menino se aproximou, abriu a porta e bruscamente entrou. Hu! com que gritos e gestos o repeliram! Uma senhora se aproximou logo, meteu-lhe furtivamente uma moeda na mão, abrindo-lhe ela mesma a porta da rua. Como ele teve medo! Mas a moeda rolou pelos degraus com um tilintar sonoro: ele não tinha podido fechar os dedinhos para segurá-la. O menino apertou o passo para ir mais longe - nem ele mesmo sabe aonde. Tem vontade de chorar; mas dessa vez tem medo e corre. Corre soprando os dedos. Uma angústia o domina, por se sentir tão só e abandonado, quando, de repente: Senhor! Que poderá ser ainda? Uma multidão que se detém, que olha com curiosidade. Em uma janela, através da vidraça, há três grandes bonecos vestidos com roupas vermelhas e verdes e que parecem vivos! Um velho sentado parece tocar violino, dois outros estão em pé junto de e tocam violinos menores, e todos maneiam em cadência as delicadas cabeças, olham uns para os outros, enquanto seus lábios se mexem; falam, devem falar - de verdade - e, se não se ouve nada, é por causa da vidraça. O menino julgou, a princípio, que eram pessoas vivas, e, quando finalmente compreendeu que eram bonecos, pôs-se de súbito a rir. Nunca tinha visto bonecos assim, nem mesmo suspeitava que existissem! Certamente, desejaria chorar, mas era tão cômico, tão engraçado ver esses bonecos! De repente pareceu-lhe que alguém o puxava por trás. Um moleque grande, malvado, que estava ao lado dele, deu-lhe de repente um tapa na cabeça, derrubou o seu gorrinho e passou-lhe uma rasteira. O menino rolou pelo chão, algumas pessoas se puseram a gritar: aterrorizado, ele se levantou para fugir depressa e correu com quantas pernas tinha, sem saber para onde. Atravessou o portão de uma cocheira, penetrou num pátio e sentou-se atrás de um monte de lenha. "Aqui, pelo menos", refletiu ele, "não me acharão: está muito escuro."

Sentou-se e encolheu-se, sem poder retomar fôlego, de tanto medo, e bruscamente, pois foi muito rápido, sentiu um grande bem-estar, as mãos e os pés tinham deixado de doer, e sentia calor, muito calor, como ao pé de uma estufa. Subitamente se mexeu: um pouco mais e ia dormir! Como seria bom dormir nesse lugar! "mais um instante e irei ver outra vez os bonecos", pensou o menino, que sorriu à sua lembrança: "Podia jurar que eram vivos!"... E de repente pareceu-lhe que sua mãe lhe cantava uma canção. "Mamãe, vou dormir; ah! como é bom dormir aqui!"

- Venha comigo, vamos ver a árvore de Natal, meu menino - murmurou repentinamente uma voz cheia de doçura.

Ele ainda pensava que era a mãe, mas não, não era ela. Quem então acabava de chamá-lo? Não vê quem, mas alguém está inclinado sobre ele e o abraça no escuro, estende-lhe os braços e... logo... Que claridade! A maravilhosa árvore de Natal! E agora não é um pinheiro, nunca tinha visto árvores semelhantes! Onde se encontra então nesse momento? Tudo brilha, tudo resplandece, e em torno, por toda parte, bonecos - mas não, são meninos e meninas, só que muito luminosos! Todos o cercam, como nas brincadeiras de roda, abraçam-no em seu vôo, tomam-no, levam-no com eles, e ele mesmo voa e vê: distingue sua mãe e lhe sorrir com ar feliz.

- Mamãe! mamãe! Como é bom aqui, mamãe! - exclama a criança. De novo abraça seus companheiros, e gostaria de lhes contar bem depressa a história dos bonecos da vidraça... - Quem são vocês então, meninos? E vocês, meninas, quem são? - pergunta ele, sorrindo-lhes e mandando-lhes beijos.

- Isto... é a árvore de Natal de Cristo - respondem-lhe. - Todos os anos, neste dia, há, na casa de Cristo, uma árvore de Natal, para os meninos que não tiveram sua árvore na terra...

E soube assim que todos aqueles meninos e meninas tinham sido outrora crianças como ele, mas alguns tinham morrido, gelados nos cestos, onde tinham sido abandonados nos degraus das escadas dos palácios de Petersburgo; outros tinham morrido junto às amas, em algum dispensário finlandês; uns sobre o seio exaurido de suas mães, no tempo em que grassava, cruel, a fome de Samara; outros, ainda, sufocados pelo ar mefítico de um vagão de terceira classe. Mas todos estão ali nesse momento, todos são agora como anjos, todos juntos a Cristo, e Ele, no meio das crianças, estende as mãos para abençoá-las e às pobres mães... E as mães dessas crianças estão ali, todas, num lugar separado, e choram; cada uma reconhece seu filhinho ou filhinha que acorrem voando para elas, abraçam-nas, e com suas mãozinhas enxugam-lhes as lágrimas, recomendando-lhes que não chorem mais, que eles estão muito bem ali...

E nesse lugar, pela manhã, os porteiros descobriram o cadaverzinho de uma criança gelada junto de um monte de lenha. Procurou-se a mãe... Estava morta um pouco adiante; os dois se encontraram no céu, junto ao bom Deus.
Eu sei que é um texto enorme e tenho certeza de que pouca gente leu... Mas esse conto melancólico meio que traduz o meu espírito de natal. É estranho, nessas épocas eu sempre lembro dele, dessas historinhas de fantasia, magia e crianças pobres. Não é muito recente pra mim a idéia de gostar do natal, mas tenho até aprendido a apreciar esse 'clima meio esquisito', a achar bonito e especial... Enfim, FELIZ NATAL! Agradeço muito pela companhia de vocês durante esse ano... ^-^

Dentro de Casa

19 dezembro, 2010
Capítulo IV – O Encontro

Nana permaneceu deitada sobre a grama durante todo o resto da tarde, acabou adormecendo ali, misturando-se dentro de si suas ânsias e receios.
Na viração do dia despertou com as mãos de uma senhora a afagar-lhe os cachos dos cabelos. Seu rosto tranqüilo e seu sorriso suave transmitiam-lhe uma paz inumana.

- Olá, minha querida, perdoe-me o atraso de tantos anos. Deixe-me cuidar de você. O que há na caixinha amarela que você não larga de nenhum jeito hein querida?

Nana, ainda meio sonolenta sem se lembrar muito bem o que estava fazendo ali, sorriu com suavidade: - B-bem, é um segredo...

- Eu tenho muitos segredos para lhe contar, amarelo é minha cor preferida.

Nana ficou sem palavras, se sentia tímida sendo abordada assim tão espontaneamente. Levantou-se, arrumou o cabelo e a saia devagar, aprumou-se. Pegou a caixinha com certa hesitação e estendeu-a para a mulher.

Dentro de Casa

12 dezembro, 2010
Capítulo III – A cúmplice


Logo identificou a silhueta familiar vindo em sua direção. Sorriu por dentro, aliviada, enquanto sua irmã - cúmplice se sentava ao seu lado:

- Está tudo aí dentro?
- Sim está! Mas não sei se devo, sabe?

-Bem, é agora ou nunca... Deixe-me ver? - Abriu um pouco a tampa e espreitou pela fresta - Acho mesmo que seria importante fazermos hoje - continuou - Você não está cansada de esperar?

- Acho que sim, estou cansada. Mas isso não justifica minha decisão - talvez, eu devesse esperar um pouco mais - Mirou as águas do lago mais uma vez, como quem observa uma cachoeira de imagens, lembranças.

A irmã entortou o lábio em sinal de impaciência. Conhecia Nana muito bem para saber de sua teimosia irrefutável. Além do mais, percebeu que ela estava prestes a chorar. Pensou se deveria puxar assunto sobre as cerejeiras lindas daquele ano, ou se deveria ir embora. Levantou-se em silêncio, olhou as nuvens por um instante curto e por fim falou: - Você deve fazer isso sozinha, se precisar de mim, sabe onde me encontrar, Baby... - E caminhou rumo à cerejeira que encantava seus olhos, a puxando pra si.

-Mas, devo te lembrar - quase sussurrando - que esta é sua melhor chance. Dito isto, sumiu entre as árvores.

Nana baixou os olhos mirando a caixinha amarela. De fato, assumia pra si mesma, não sabia o que fazer. Ali sozinha, sentiu-se desamparada e com um enorme peso nas costas. Deixou-se cair no gramado e chorou todas as lágrimas de medo que tinha.

Parceria entre eu e Tati. Continua ainda... Desculpem minha ausência nos blogs que costumo comentar e agradeço a quem me acompanha mesmo assim. Grande beijo! ^^

Dentro de Casa

05 dezembro, 2010
Capítulo II – A caixa


A vida tão inundada de cores e sabores parecia que estava a lhe pregar peças. Já se passaram mais de 15 anos e ela ainda revive as mesmas cenas. Sem querer, ela começa a sonhar acordada e as lembranças tomam conta de sua mente e de seu coração. Uma tristeza pequena e persistente passa a coexistir naquele banquinho simples. Recortada pelas frestas do assento, a caixinha amarela que trouxera repousa tranquilamente na grama como que à espera de seu destino.

Lança os olhos para longe das águas do lago, mantendo as pupilas encharcadas que insistem em vazar suas sensibilidades e emoções internas. Encara a caixinha amarela, como quem olha para um espelho – se vê. Riu-se da ironia, pois era ela a senhora do destino naquele dia.

Talvez não fosse tão certa quanto ao destino que a caixinha merecia. Olhou mais uma vez para os marrecos e sorriu.
Haveria de ter outras alternativas melhores do que as primeiras pensadas, talvez ela devesse esperar.

Um barulho macio de passos interrompeu as divagações e lágrimas, Nana se virou assustada, limpando rápido o rosto molhado. Pegou a caixinha instintivamente e apertou contra o peito, sentiu vontade de correr.
Segundo capítulo da minha parceria divertida com a Tati.
Beijos a todos e obrigada pelos coments, que estão cada vez melhores. Adoro a amizade das pessoas daqui, fico realmente feliz!

Dentro de Casa

28 novembro, 2010
"Mas essa menina troca mais de template que de roupa!" É verdade, adimito que sou meio louca com isso... É que eu queria um ambiente menos monocromático, sabe? :) É a primeira ver que pergunto, mas... Ficou legal?
Capítulo I – O jardim



Era primavera, as árvores no jardim de cerejeiras cintilavam em rosa, vez ou outra, tons esbranquiçados passavam por elas. Nana, sozinha num banco salpicado de rose, divagava sobre os piqueniques que seriam possíveis sobre aquele gramado verdejante que a cercava. Imaginou dezenas de toalhas xadrezes espalhadas sob as sombras coloridas, crianças correndo, walkmans e cheiro de hambúrguer. Ouviu um marreco cantar ao longe e por um instante, agradeceu por aquele lugar ser ainda ermo e, de certa forma, um segredo seu e de seu silêncio.

Puxou e soltou o ar seguidas vezes, inalando o cheiro suave que infestava todo o lugar e lançou os olhos ao céu que se estendia todo deslumbrante acima de suas madeixas. Prendeu-se ali por alguns instantes se deixando atingir pelo vento leve e a beleza das nuvens que formavam carneiros e construções. Fechou os olhos.

Por um momento, a lembrança do que viera fazer ali turvou um pouco seu espírito tão cativado pela beleza do lugar. Apertou os polegares e um olhar preocupado apareceu naquele rosto tranqüilo. Procurou com o olhar o lago espelhado e vivo à esquerda, como que tentando afastar tais pensamentos pelo menos por enquanto...
Minha primeira parceria num texto! Eu e a Tati fizemos um conto e esse é o primeiro capítulo. Foi muito divertido, espero que seja o primeiro de muitos, amiga querida! :)

Revolução em Mim

11 novembro, 2010

A menina se levanta para prender a cortina, lá fora faz um severo calor de verão. Enquanto elabora um nozinho na fita, ela se lembra, num lampejo, da raiva que outrora nutria contra o sol e o 'mal' tempo daquela cidade. Suspira aliviada e limpa o suor da testa, sem se esquecer de aumentar a velocidade do ventilador portátil.

Deita denovo na cama e agradece por aquele dia quente, pois se era quente é porque assim a 'natureza' desejava. Agradece também por, naquele momento, conseguir compreender que sua função não era decidir a razão ou o modo dos fatos e das coisas, mas sim aceitar e moldar sua vontade, desejo e determinação à eles. Ainda pensando nisso, tateou a procura da carteira perto do travesseiro: tinha certeza da existência de uma ou duas moedas que bem dariam pra um picolé!
Faz tempo que não escrevo, pelo menos tempo demais para a frequência de postagem que estava mantendo. É que muitas coisas têm acontecido dentro de mim, algumas mudanças muito positivas na minha vida, que provavelmente serão um pouco decisivas para sempre. Acho que sou uma pessoa diferente de quatro ou cinco posts atrás... Isso me assusta!

As fotos são daqui da minha cidade, que tirei com meu celular furreca. A resolução está péssima, mas senti vontade de mostrar o lugar onde moro a vocês. A primeira é de uma praça onde ficava a antiga prefeitura e onde fica o correio da cidade. A segunda é de uma parte que gosto muito do rio (poluído, é verdade) que passa por aqui.

Presente de Grego

28 outubro, 2010


Aniversário de 18 anos é aquela coisa neh? Maioridade, nova vida, milhões de promessas, inclusive a do final da 'vida mansa', início da dureza, da obrigação de decidir quem você será afinal.

A aniversariante, sentada sozinha na cama, admira sorrindo os presentes que ganhou, entre eles vários porta-retratos e caixinhas de música. Ela pega uma delas com curiosidade (quem sabe não tem uma bailarina dentro?) a fim de ouvir a musiquinha, que deveria ser Pour Elise. Mas, a mãe aparece na porta de repente, com um sorriso estranho no rosto, as mãos escondendo algo nas costas.

–Tenho um presente pra você, querida! –e, finalmente, mostra o embrulho vermelho e cintilante, algumas lágrimas começam a empoçar o olho esquerdo.– Abra!

–T-tudo bem, mamãe, obrigada...

A recém-adulta pega nas mãos a caixa bonita, achando meio estranha a cerimônia de entrega. Pensa se não é a chave de um carro ou uma passagem pra Londres, quem sabe? Desfaz devagar o laço também vermelho, o coração acelera um pouquinho. Finalmente abre a caixa... E o susto:

–Mas, o que é isso? –ela se levanta da cama, os olhos arregalados de surpresa.

–Ora filhinha... –a mãe começa a chorar de verdade ainda com o sorriso estranho no rosto.– São os planos e sonhos que fiz especialmente pra minha princesinha! Você bem sabe que não pude realizar muita coisa na minha vida, mas tenho certeza de que você poderá.

Espantada, a garota observa um pouco os sonhos e planos dentro da caixa. Acha-os bonitos até... Mas, nessa altura do campeonato, ela já tinha seus próprios e se sentiu extremamente triste frente à ideia de abandoná-los. Também sentiu uma pontada no peito ao pensar em decepcionar a mãe, que certamente sonhava vê-la realizando-os.

Pensou que era muita crueldade ela ser obrigada a fazer uma escolha dessas, não concordou que aquilo podia ser chamado de 'presente'. Mas, também não parecia lógico que a mãe queria seu mal...

Por fim, deu um sorriso amarelo e abraçou com carinho a pessoa que mais amava no mundo.

–Obrigada, mamãe, foi o melhor presente do mundo! –e fechou novamente a caixa, escondendo uma lagriminha no canto do olho.– Que tal comermos bolo agora?

Acho que não preciso dizer o quanto é frustrante quando alguém tenta fazer planos por mim. Sei lá, me parece muita prepotência pensar conhecer a felicidade dos outros, não? Acho difícil alguém conhecer a própria! Enfim... Fica o desabafo de última hora!

Obs: Tem uma brincadeira muito legal no blog da Rebeca, achei divertida e participei :) Olha lá!

Vingança em Dobro

22 outubro, 2010


"Made In France"... Bruna bem sabia o que essas três palavrinhas significavam. Muito além da tradução para o português, aquela expressão queria dizer "Caro e sofisticado", o que aumentava mais a divertida sensação de vingança.

Com ar de deboche, ela fez biquinho tentando dizer o nome do perfume, enquanto examinava despreocupadamente o vidro preto e bonito. Olhou em volta para o quarto arrumado do irmão, para as janelas que acabara de fechar e calculou, com um pingo de maldade, o tempo que demoraria até alguém conseguir dormir ali denovo...

"Talvez uns dois dias", ela riu-se com jeito malvado e resolveu sentir o cheiro. Arrancou a tampa e encostou o nariz na borda brilhante e fria do frasco. Sinceramente não gostou da fragrância e aumentou a conta que fizera há pouco.

Observou e alisou mais um vez o pequeno tesouro do irmão, leu de novo "Made in france" no rótulo, brincou de jogar de uma mão para a outra, colocou-o contra a luz, percebeu que estava quase cheio... Definitivamente, era ótima a sensação de estar manipulando algo de valor, como se ela fosse realmente poderosa e esperta.

Então, fez um muxoxo para o vidro, olhou pela última vez com carinho sarcástico e jogou o objeto com toda força contra o azulejo do quarto. O liquido espirrou um pouco e depois escorreu de uma vez só de dentro do vidro espatifado, formando uma bola incolor e espelhada no chão. Ela ficou um tempo observando o cheiro caro evaporar-se e tomar conta do ambiente. Pensou que, definitivamente, perfumes franceses não a agradavam! Saiu de fininho, tapando o nariz e fechou a porta atrás de si.

A Sensação

18 outubro, 2010
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta.
(Leoni - Temporada das Flores
)



De repente, eu acordei. E foi como se finalmente eu tivesse dormido uma boa noite de sono e as nuvens negras tivessem sido levadas pelo vento durante meu descanso.

Algo diferente havia dentro de mim, como uma vontade de sorrir e de falar com as pessoas, de descobrir coisas. Percebei que não me sentia mais aborrecida. Aquela sensação boa de ver a vida como uma grande aventura voltou pro meu coração, EU voltei, forte e renovada como um brotinho verde que sai da terra.

Vi o sol dourado entre as folhas, o contorno nítido das montanhas, senti a brisa da manhã a me revigorar passando pelo meu rosto. Ri pra mim mesma como quem dá saudosas boas vindas e me prometi que nunca, nunca mais me deixaria fugir denovo pra dentro das sombras, eu amava a sensação de me ter de volta.

De Fora

15 outubro, 2010

Vera colocou um pedaço de bolo na boca e pensou que o alto do Morro Incofidência era mesmo um lugar legal pra um piquenique. Dali podiam ver metade da cidade, comparar as casinhas, os prédios, decidir quais eram mais bonitas e coloridas. A amiga acompanhante, que olhava meio hipnotizada pra algum ponto começou a falar de repente:

–Sabe de uma coisa? Se eu pudesse ter um único dom, acho que já sei qual escolheria.
–Qual? –Vera perguntou, mais por educação que por interesse.
–O dom de ver meus problemas de fora...
–Como assim? –achando muito chato o dom que a outra escolhera.
–Eu veria o tamanho verdadeiro deles...

Com a boca cheia, Vera fez cara de quem entendeu, sem querer continuar o assunto sobre problemas. Verificou se ainda tinha suco na jarra e fingiu estar concentrada numa abelha que pousava na borda.

–Vê aquela estradinha pequenininha perto da igreja?- Insistiu a garota, na defesa de seu 'dom'.
–É a avenida principal...
–Pois é... Daqui podemos percorrê-la com apenas uma virada de olhos.
–Mas, ela parece enorme quando estamos dentro...
–Exatamente! – Sorriu, triunfante.


Estava pensando exatamente nisso hoje de manhã... Os problemas dos outros parecem sempre tão sem importância comparados aos nossos! Lembrei da tal da Antropologia e do meu professor dizendo que o outro serve sempre como seu próprio espelho. Então percebi que as pessoas também não dão muita importância pros meus problemas... Ou então EU dou muita e os enxergo de maneira distorcida. Nada a ver? Desculpe, é que eu estou lendo O Mundo de Sofia, rs!

Fotossíntese

13 outubro, 2010
Mundos são lugares particulares feitos de pessoas que se encaixem em você por um determinado lado. Algumas pessoas fazem parte de vários mundos seus, outras são como personagens de livros e só existem na sua vida quando você está no mundo a qual ela pertence.

Ultimamente, meus mundos têm se chocado violentamente, algumas pessoas têm debandado de alguns deles, outras têm se intrometido onde não lhes convêm. Penso que a minha vida inteira foi feita de big-bangs, eu nunca consegui manter meus mundos ilesos por muito tempo, alguns sempre se destruíam e outros imediatamente eram formados. E nesses fenômenos, muitas pessoas não se salvam e simplesmente desaparem da minha vida... Isso é o que realmente é triste.

Acho que por isso hoje eu estou tão cansada, sem vontade de entrar em mais mundo nenhum, querendo escolher um planetinha escuro onde ficar morando sozinha para sempre, sem ter que explodir mais ninguém, nem ter que conviver com aqueles seres hostis que sempre saem de algum canto...

Mas, acho que isso não é possivel, alguém disse que a vida é uma interdependência. Maldita inter sei lá o que! Acho que eu me daria bem como platinha autótrofa... Eu faria minha própria fotossíntese e afinal seria feliz, vivendo apenas de sol, água e minha queria terra, elemento terra.

Juro que não bebi nem fumei nada quando fiz esse texto. "Parece cocaína, mas é só tristeza.", já dizia Renato.

Frágil

29 setembro, 2010
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A menina tocou com a ponta do dedo a maria-dormideira, que se enroscou todinha em si mais uma vez. Gostava daquela plantinha estranha que se mexia, desde criança se acostumara a reconhecer e a brincar de observar seu movimento. Mas, naquele momento, há anos de distância da meninice colorida, ela percebia-se tristemente semelhante àquela débil criatura... tão frágil também e tão habituada a retrair-se à vista do que considerava perigo!

Viu algumas outras que tocara segundos antes já se abrindo novamente, valentes e tratou de fazê-las fecharem denovo. Pensou meio humilhada consigo mesma: "Até plantas são mais corajosas que eu...".

Desapego

27 setembro, 2010

Estávamos olhando as estrelas, ou melhor, alguma estrela que vez por outra aparecia entre as nuvens. O céu estava nublado e parecendo assustadoramente mais próximo, mas nem por isso menos bonito. Aquela sensação boa e sinistra de estar olhando para o infinito se completava com o farfalhar das árvores e com o escuro da varanda. Ventava.

Acho que falávamos de pessoas, de amor, como se conversássemos com nós mesmos na verdade. Às vezes acho estranha a sintonia que nós temos, como numa amizade tão profunda que até pensamentos são compartilhados. Não estávamos felizes, talvez um pouco angustiados pela lua encoberta e o vinho não me fizera bem.

Pois é, existem pessoas que só fingem que amam porque precisam sustentar uma bandeira, uma aparência... Ele disse essas palavras com uma calma suspirosa, como se alguma tristeza estivesse escondida no tom tranquilo.

Você não me ama? A pergunta saiu sozinha da minha boca, sem mágoa, sem perspectivas. Por um instante, fiquei surpresa com minha própria sinceridade e coragem. Percebi que não tinha medo da resposta, que, por mais que eu soubesse o quanto minha vida seria vazia sem ele, eu aceitaria se a resposta fosse ‘Pra falar a verdade, não...’. Não entendi direito o que se passava, uma estranha sensação de desapego.

Não sei se foi de propósito, mas ele ficou em silêncio um pouco, com olhos vazios para o céu. Eu fiquei olhando sua expressão meio lívida, pra ver a resposta saindo da boca.

Amo, sim. - Ele disse expontâneamente, mas com convicção.

Hum...

Fugida

20 setembro, 2010
Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(Manuel Bandeira)

Estava decidido, como se decide coisa importante: depois de pensar muito, depois de pesar as consequências e testar a saudade.

Ela ia mesmo embora, fugida. Do pior jeito, é verdade, mas, fazer o que? Se explicasse ninguém ia dar crédito, capaz até que tentassem prendê-la ou internar no hospício de Barbacena. Não! A dor ia ser maior, sabia. Talvez a procurassem pro resto da vida, talvez alguém entrasse em desespero ou apelasse pro programa do Ratinho. Dava até uma pontinha de tristeza pensar no papai, nos avós e no gato que logo ganhariam a alcunha 'abandonados'. Mas, pela primeira vez, reunindo toda a coragem que guardara pro momento, ela resolveu ser egoísta, pensar conforme sempre se gabava fazer: seguindo o coração.

Saiu de fininho, num domingo branco feito pra ela. Deixou um papelzinho 'imado' na geladeira:
"Fui me encontrar. Desculpe! Não dava mais pra viver sem mim...
Obs: Cuida do meu gato."


Acho que ficou meio cômico, mas devo dizer que o que me motivou a fazer esse texto não tem muita graça... Enfim, já estava me afastando daqui denovo, mas não quero que isso aconteça. Amo muito esse mundinho paralelo à minha realidade tosca e cinzenta... Só pra constar, adoro vocês que comentam aí com carinho.

A Vida É Dura

12 setembro, 2010


–E se eu não quiser mais andar entre os espinhos? E se eu viver para observar a paisagem e fotografar o pôr-do-sol?

–Isso não seria justo, afinal a vida é dura...

–Eu poderia sentir o cheiro de hortelã, erva-doce e colher girassóis... Guardaria apenas isso, além das fotografias.

–Isso não é importante, que tolice!

–Mas, eu não quero mais ferir meus pés...

–Esta não é uma opção, sinto muito.

–Olha, eu não consigo.

–Você precisa.

–Por que?

–Porque a vida é dura.

–Quem lhe disse?

–Isso também não é importante...

Olhem Os Passarinhos!

10 setembro, 2010

O sol brilhava com força, mas uma brisa fresquinha vinha tornar a caminhada em torno do rio tão amena... Muitas pessoas apressadas passavam, algumas esperavam seus ônibus, impacientes, outras conversavam empoleiradas no parapeito à sombra da decaída vegetação ciliar.

Mas, havia alguém com um olhar diferente, de cotovelo apoiado na grade e olhar concentrado. Observava o tapete verde que se estendia em algumas partes do rio sujo, parecia impaciente.

De repente, uma movimentação salpicante e uma revoada de pequenos passarinhos coloridos surgia por entre as folhinhas, voando baixo e com graça e depois sumindo noutra nuvem de vegetação flutuante.

“Olha!”, a garota gritou pra ninguém, sem pensar entre pulinhos e risos. Parecia certo que alguém mais estaria ali deslumbrado como ela, foi até meio decepcionante quando constatou que ninguém compartilhava do momento. Desapontada, fez um bico xoxo de vergonha e tornou a observar quieta.

Cinco segundos depois, outro movimento rápido e os pequenos bichinhos surgiam de novo e desapareciam. “Olha!” E mais risos e mais pulinhos.

Preciso dizer que sou eu? É a minha cara pagar 'miquinhos' desse tipo. Fazer o que se a natureza me hipnotiza? Ainda mais pássarinhos fofos, vocês precisavam ver que gracinhas!
Fico feliz e admirada de ainda existir vida no rio Muriaé, tão sujo e fedorento... Acho que se as pessoas prestassem mais atenção a essas pequenas coisas bonitas que acontecem no dia-a-dia, talvez a vida fosse menos dura, quem sabe?

A Antropóloga

07 setembro, 2010
Há uma crença
popular entre os antropólogos que diz
que você deve mergulhar em um mundo
desconhecido a fim de compreender
verdadeiramente o seu próprio.
(O Diário de Uma Babá)


Observar sempre foi um hábito meu, como boa antissocial que tem preguiça de conversar (pelo menos é o que sempre disseram de minha pessoa), até acho divertido analizar quem passa por mim, imaginar seus mundos. Por muitas vezes me pego imaginado como eu seria se tivesse a vida de Sicrano ou quais seriam minhas ideias se eu fosse Fulano.

Isso me levou a outro (bom) hábito, o de sempre ponderar sobre as atitudes das pessoas, que são muito mais difíceis de serem compreendidas apenas do alto de minha própria realidade. Essa reflexão me leva a crer muito menos em bons e maus e muito mais nas circunstâncias que regem todas as existências. Também consigo valorizar mais meu próprio mundo, que, bem ou mal, é feito de minhas próprias escolhas e, diferente de todos os mundos à minha volta, penso que me convém mais que qualquer outro.

Semestre passado, eu tinha aulas de antropologia (Estudo do homem) na faculdade. Confesso que eu não gostava muito do professor, mas achava maravilhosas as coisas que ele dizia, tudo muito lógico para mim -amo a lógica!- e esclarecedor. Na verdade, eu escrevi esse texto porque vi um filme que me despertou esse conceitos. O Nome é 'Diário de Uma Babá'. Eu também não dava nada pelo título, mas gostei muito, me identifiquei com as ideias da personagem. *Se não fossem aqueles traillers que passam antes dos filmes, não sei o que seria de mim, rs!

1, 2, 3, Vamos Limpar...

01 setembro, 2010


Hoje estava observando meu coração. Sempre tive um sério problema com organização, por isso as coisas por lá não andavam nada arrumadinhas. O embaraço era tanto que os sentimentos se atrapalhavam e se confundiam. Foi aí que uma ideiazinha meio maluca surgiu... Sempre amei caixinhas, são ótimas pra arranjar bugigangas... Porque não para organizar toda aquela tranqueira? Levei um punhado pro meu coração!

Na maior que tinha, escrevi 'passado' e lá coloquei quase tudo que estava pelo chão. Ao contrário do que sempre pensei, não houve necessidade de trancá-la com uma chave e jogar fora, pois muito ali poderia servir denovo. Além do mais, tinha tanta coisa bonita!

Em outra caixinha, escrevi 'sonhos' e foi um pouco difícil separar o que pertencia à 'perspectivas' e à 'planos concretos', mas me esforcei muito pra não sofrer tanto nessa tarefa.

Não me dei ao trabalho de deixar uma para 'decepções' e para 'derrotas', achei que esses poderiam ficar na ‘passado’ mesmo. Alguns, com muita alegria, coloquei na 'superados', a mais colorida de todas e minha preferida.

Fiquei em dúvida se deixaria alguma para ‘culpa’, mas tinha uma caixinha tão pequena e sem-graça que não encontrei outra utilidade... De tão feinha, achei melhor esconde-la entre as outras.

Pronto! Estava quase limpinho... Levei até um susto com o tamanho do espaço que ganhei. Alguns entulhos ainda estavam jogados porque eu não soube direito onde colocar. Resolvi que depois eu voltaria pra transformá-los em lágrimas, numa história ou talvez em gritos na montanha russa... Hoje, lembrando, percebi que esses se encaixariam muito bem numa que se chamasse ‘tempo’. Se eu não fosse tão distraída...

Não queria que ficasse grande -sei que a preguiça é muita- mas saiu assim, fazer o que? Queria mandar um grande abraço às pessoas carinhosas que lêem e comentam aqui. Amo muito ler os blogs que aparecem ali do lado, de verdade. Me sinto muito feliz em saber aproveitar essa troca de experiências tão legal que é ser blogueira. No fim, é isso que fica, sabiam?

Cansaço

30 agosto, 2010

-Porque você não vai embora de uma vez? - A menina viu a raiva nos olhos da mãe, isso foi o que mais a magoou. Não era possível que algo tão banal fosse capaz de transformar o que deveria ser amor em ódio e desprezo! Sentiu alguma coisa congelar no peito, não discutiu dessa vez.

-Tudo bem, disse olhando pro chão e saiu porta afora sem olhar para trás.

Lá fora, com o coração magoado e despedaçado, a garota, mais sozinha que nunca, tentava imaginar uma solução para o enigma obscuro que era sua vida. Se esforçava pra vislumbrar um norte luminoso, como sempre fizera ao longo de sua existência sofrida, mas seus olhos chorosos só conseguiam visualizar portas se fechando, caminhos sem volta, precipícios. Sentia-se cansada, culpada, deprimida. A única coisa que conseguia desejar era conforto e paz, não queria lutar, não sentia indignação ou ira. Apenas um enorme cansaço, cansaço de viver.

Orgulho

28 agosto, 2010

"Quantas chances desperdicei
quando o que eu mais queria
era provar pra todo o mundo
que eu não precisava provar nada pra ninguém"



Às vezes fico pensando em como seria encontrar comigo mesma sem todo esse orgulho, eu pura, recém nascida, eu só. O eu que certamente se escondeu quando aprendi o que é certo, errado, bonito, feio, educado... Como será eu sem essa vontade de agradar, de me encaixar, de fazer certo, de não errar português? Como serão as histórias que brotam lá do fundo do meu coração? Será que eu gosto mesmo de ameixa, essas roupas realmente combinam comigo? Ou tudo isso que acho que sou é apenas o resultado de uma centena de adiçoes aleatórias...? A vida chega a perder o sentido com tantas perguntas sem resposta.

Afastem-se! Crise de identidade latente... Posso dizer uma coisa? Estou sentindo meus textos tão vazios, como se estivessem mortos... Não, meu blog não vai entrar em pausa indeterminada (como muitos por aí que tenho visto), mas isso é mal sinal, confesso...

A Busca

22 agosto, 2010


A garota bem-sucedida olha pela janela embaçada do grande prédio de finanças. Lá fora a chuva cai de mansinho, fazendo-a se lembrar vagamente de como gostava dos dias chuvosos e brancos como aquele. Um pequeno –muito pequeno– arrepio de saudade lhe passa pelos pelinhos do braço e ela pensa com tristeza nas mais diversas coisas a que se tornou indiferente ao longo da busca. Vê as sombrinhas coloridas se embaralhando no passeio há 15 andares dela... Tão pequenas! “O mundo é mesmo pequeno”, pensa com desprezo e volta ao seu grande mundo feito de pilhas de papéis.

Hoje estava conversando com o Marcos sobre sucesso e realização pessoal. Comentei com tristeza que talvez eu não saiba correr atrás do sucesso como esse mundo de hoje exige. Coisas que dêem só dinheiro não fazem muito sentido pra mim, entendem? Parece muito cool pensar assim, mas verdadeiramente me sinto é muito ferrada. Abraços a todos!

Sob(re) as Máscaras

14 agosto, 2010
Imagem retirada do clipe Lost Cause - Beck


Não conseguir usar máscaras é um defeito gravíssimo nos dias de hoje, acredite! Quando o que você é não importa muito, é essencial saber se fantasiar do que pode oferecer. O mundo gira em torno de interesses, as amizades idem. E isso não é uma crítica, é apenas um relato: há coisas que são o que são e não podem ser mudadadas!

Ninguém gosta de demonstrar o quanto tem em comum com o próximo porque esse comum geralmente está nas fraquezas, dores, erros. É tão mais interessante mostrar o que se tem de melhor, de superiror, de diferente... Todos somos diferentes é claro! Mas não porque pertencemos a classes sociais diferentes, porque podemos comprar uma roupa exclusiva, porque só nós temos o último ipod. O modo como somos verdadeiramenete diferentes também não é mostrado, porque a essencia de cada um sempre fica para trás, escondida na vontade de poder oferecer algo e assim ter amigos, ser aceito.

Texto chato, eu sei. Praticamente um desabafo... Mas as coisas andam muito bem, obrigada! Quer dizer, tirando a falta de tempo pra blogar, ler e comentar os amigos daqui. Desculpem denovo...

Perfeição

05 agosto, 2010


Perdi as contas de quantas vezes ri do fulano com jeito poser, botinas e cabelo despenteado. O nariz meio grande, os olhinhos tão pretos e arqueados, o abraço magrinho, o sorriso moreno e doce, de chocolate!

Gosto tanto de você, de tudo aquilo que te faz você, do jeito que você mudou a minha vida e a sua, da sua coragem, bondade, malandragem –tudo junto! Seus vícios, manias bizarras, seus milhares de discos, o fone sempre no ouvido, a dança sempre no pé, o ‘igreis’ na ponta da língua, as piadas (quase) sempre engraçadas.

O sangue ‘da terrinha’, sotaque nordestino antes forte e agora cheio de “uais”, a simpatia irresistível que move montanhas, mas que ás vezes se transforma em sarcasmo exagerado. E esse estilo de vida demais: dormir demais, comer demais, internetar demais... Juro que ainda te boto em forma!

As desculpas depois do erro, o eterno ‘eu avisei’ que nem precisa sair da minha boca: você sabe ler meus olhos! É estranho como às vezes eu me irrito e dois segundos depois desirrito. É estranho como você me completa: feijão com arroz, sorvete e cobertura, macarrão e queijo. E, sobretudo, é muito estranho como você com sua imperfeição é tão perfeito pra mim.

(Em resposta a Marcos).

*Desculpas pela falta de educação de não ter respondido ainda os coments anteriores. Volta às aulas vocês sabem como é...

Indiferença de Cada Dia

29 julho, 2010

–O meu maior erro foi...

Pela primeira vez desde que começou a arrumar a mala, a garota encara o rapaz num misto de curiosidade e ironia.

–Por favor, Marissa! –ele titubeia.

Ela vira os olhos e recomeça seu trabalho.
–O seu maior erro foi... –insiste com ar de enfado.

–Por Deus, eu não sei! Não sei por que você está me deixando assim! –ele coça a barba, ela sabe que é um sinal de ansiedade. Ri-se por conhecer tanto aquele homem, suas manias, seus gostos. Estavam juntos há 4 anos! Era mesmo uma pena terminar assim...

–O que eu fiz hoje depois do almoço? –ela se levanta e encara os olhos castanhos. Ele tenta agarrá-la desesperadamente e lhe dar um beijo.

–Me solte! Responda! –ela vira o rosto e o empurra de levinho.

–Que droga de importância isso tem? –ele grita e arranca alguns fios da cabeça.

–Você não sabe, não é? –os olhos duros se desmancham em lágrimas–. Nós passamos o dia todo juntos e você nem o menos se lembra que depois do almoço eu fiquei horas e horas lendo aquele livro –apontou para a capa vermelha sobre a cama–, que você me deu de presente.

Ele olha o livro e se lembra vagamente dela dizendo que ia ler. Mas a sua memória seletiva logo excluiu o fato, substituiu pelo telefonema que tinha que receber, pelos amigos que encontraria, pelo jantar importante que teria daí a dois dias. Percebeu qual foi seu maior erro, que cometeu durante anos e anos.

Ela termina de fazer a mala, está chorando. Ele pensa em ainda pedir que ela fique, mas não o faz. Prefere lhe dar um abraço de alento como tantas vezes fez e beija uma das bochechas molhadas.

–Eu sempre soube que você não se contentava com pouco –diz baixinho–. Sinto muito por não te merecer... –E dá as costas, indo pra bem longe da porta de saída.

Hoje eu descobri uma coisa muito importante: eu não sabia usar o travessão (ainda não sei, mas já comecei a aprender pelo menos)! Acho que muita gente também tem dúvidas, usa hifen no lugar ou não sabe colocar direito na frase. Quer aprender? Aqui tem uma boa explicação com exemplos.

Ilusão Preferida

27 julho, 2010


Eu corro pelo campo, sentindo o vento e o sol que se misturam tão bem na primavera. Há flores roxas, brancas e pequeninas amarelas que vez por outra roçavam pela minha mão e eram agarradas e depois soltas ao ar. Descubro que a liberdade tem mesmo cheiro de ar fresco. Paro pra observar o céu azul, decifrar as formas brancas e macias das nuvens como se esse fosse o maior dilema a ser resolvido no mundo; volto a correr quando quero, tiro os sapatos, sujo as mãos na terra, pulo, descanso, sento, cantarolo desafinada, solto os cabelos. E eu não tenho medo, nem de que esse momento se acabe. Eu não tenho medo de nada, sou livre.

"O que fazer para abandonar a história que nos contaram?
Repetí-la em voz alta nos seus menores detalhes. E, à medida que contamos, nos despedimos do que já fomos e abrimos espaço para um mundo novo, desconhecido" - O Zahir

À Seco

19 julho, 2010

A garota senta-se na beira do lago, espeta o espelho d’água com a ponta do dedão cor-de-rosa. Um frio percorre-lhe a espinha, afunda o pé inteiro e cria uma correnteza, sente alguns peixes escorregarem pela sola. Vê uma pequena flor amarela nascida na margem, toca-lhe as pétalas. ”Que lindo, não?”, ela pensa, no fundo tentando convencer-se. A verdade era que nada daquilo tinha a cor devida, nem mesmo azul do céu. O mundo parecia às vezes tão pálido e estático que ela mal tinha vontade de respirar. Sentiu ímpetos de chorar. “Seria bom”, pensou com o rosto seco e um sorriso amarelo espelhado nas águas agora turvas.

Eis que tenho perdido pouco a pouco a capacidade de chorar... Tem dias que me pareço um outono seco e fosco. Isso é triste, eu acho.

Obrigada pela companhia de todos :) Adoro ler meus blogs seguidos, vocês são muito sensíveis, sabiam? hahaha! Que patético ¬¬

Ótima primeira semana de férias! :*

Caps Look

15 julho, 2010
Tlac tlac tlac... Alguém teclava nervosamente, incomodando o sono de Joice, que se revirava na cama com o travesseiro sobre a cabeça. O barulho parecia ter o poder de entrar na sua mente e ecoar como irritantes sinos.

_Já chega! – gritou pra ser ouvida e pulou da cama bem capaz de esganar alguém.Pisando forte, ela foi até a sala e empurrou a porta com toda violência e estrondo.

_Olha aqui, Ângela! Isso são horas de... Ângela? – A sala estava vazia e sem o menor sinal do zumbido de vida de seu computador. Estava desligado, apagado, e silencioso... Exceto pelo insistente tlac tlac que continuava a tamborilar na sua mente.

Chegou mais perto, devagar, com medo. Tocou no monitor, que estava frio, o gabinete idem... Não podia ser! Engoliu seco e puxou com receio a tábua que sustentava o teclado. Não esperava ver nada, mas para seu espanto suas mãos tremiam, o barulho aumentava exponencialmente, fazendo doer seus ouvidos.

Não viu nada de anormal nas teclas pretas, mas um segundo depois uma luzinha amarela se pronunciou: “Caps Look”! Joice arregalou os olhos, beliscou-se, piscou várias vezes, não era sonho! A luz oscilava como uma sirene, ficando mais forte a cada segundo. A garota, meio hipnotizada ficou olhando o brilho crescer. “Estou louca!”, pensou, com cansaço, o suor escorria das têmporas. Percebeu sem espanto que algumas letras se movimentavam e depois todo o alfabeto dançava freneticamente. Sentiu seus olhos se revirarem, uma espécie de ira cansada se injetava em sua espinha.

Num acesso de loucura, pôs-se a socar o computador, machucando a mão sem se importar. Jogou com violência o monitor no chão, chutou. Pegou qualquer coisa e martelou o teclado até quebrá-lo, mordeu os fios, atirou algumas peças contra a parede. Sentia uma raiva incontrolável.

Por fim, admirou a débil sucata morta no chão da sala. Sua mão ensanguentava, mas o alívio era tudo o que sentia. Respirou satisfeita e voltou para a cama em silêncio.

...Menos eu

17 junho, 2010

Ser teimosamente uma exceção as vezes incomoda muito, principalmente quando a solidão dá as caras e aponta o dedo na cara. "...Menos você", ela repete intermináveis vezes, encaixando todos os complementos possíveis. É humilhante, endurece o coração e traz uma vontade imensa de destruir todos os mundos de que não consigo fazer parte.

Ontem entrei numa comunidade: "Ser igual é para os fracos". Mas, no fundo eu acho mesmo que ser igual é para os sortudos.

Mar de Outono

15 junho, 2010

A brisa salgada e fria vem congelar meu hálito, eu nunca pensei que um dia desejaria tanto estar de calças jeans numa praia deserta (e daí ser deserta?). Esse vento intruso bagunça meu cabelo insistentemente e, nossa! Que areia fria... Mas, meu Deus, como é mágico esse barulho do mar revolto! E só pode ser divina Essa mistura bifásica de água e ar chamada horizonte... Lá é onde termina o mundo?

- Acho que já tirou a foto - Uma voz que parecia demasiado distante sussurrou.
Às vezes me acontece de sonhar acordada e perder a noção do tempo. Abraços à beira da praia no outono trazem sensações meio inebriantes... Ou o tempo parou mesmo?!
Estava dando uma olhada nos meus seguidores e vi uma atualizção da Desi, em que ela postou fotos de umas praias lindas. Bateu uma inveja... Resolvi fingir que estava lá! (hehehe!) Peguei essa sem permissão... Tomara que ela não se incomode. Se for o caso é só me dizer que tiro a foto, tá, Desi? ^^

Manhã de Inverno

10 junho, 2010
As manhãs de inverno sempre tiveram seu encanto e sempre me lembrarão a infãncia plácida e doce. A cerração cobrindo as montanhas contiua a mesma... Talvez se eu ignorar o tráfego, escute os mesmos cabritinhos berrando. E, quem sabe aquela cortina azul pintada à mão pela minha mãe não esteja ainda lá no fundo do guarda-roupas? Eu sempre digo que 'até uva passa', mas às vezes fico pasma com o movimento da vida. Seria tão bom acordar sentindo aquele velho cheirinho de café pro resto da vida! É triste pensar que algumas coisas se perdem para sempre, quer queiramos ou não... Seria tão bom ter escolha!

Palidez

08 junho, 2010

Um vulto esguio se recortava contra a luz branca e gélida da lua cheia. Há 20 0u 30 metros do chão, via-se um garota equilibrando-se na fina beirola dum sobrado. Figura estranha, que fazia gelar o coração dos transeutes, brincando de corda-bamba. Por vezes até arriscava um rodopio lento com pose de bailarina, os bracinhos livres e graciosos no ar.

Logo vieram os holofortes, os gritos megafonados e a aglomeração. "Desça já!", gritou alguém, enquanto outro secretamente tramava laça-la por trás. Como a criança que era e aborrecida pelo fim da brincadeira, ela parou um instante com as mãozinhas na cintura. Ouviu-se uma doce garagalhada infantil e o baque repentino do pequeno corpo pousando agressivamente no capô de um carro, que nunca antes fora vermelho. Depois, fez-se um silêncio sepulcral e só restou a palidez da lua e dos rostos.

Momento Cheio

01 junho, 2010
"Sou um astronauta,
Em outro lugar e tempo.
Eu creio que estou procurando por um lugar novinho em folha,
Existe uma vida melhor para mim?"
(4 Non Blondes - Spaceman)


São tão raros os momentos em que eu me sinto em casa, não sozinha e estranha como um alienígena, mas alegre como se tivesse descoberto um tesouro só meu.

Hoje eu estava pensando se as coisas poderiam ser mais fáceis, mas não consigo me sentir ingrata pela vida que levo. Mesmo quando vejo tudo tão cinza pela janela do ônibus, eu acredito em destino e justiça. E até acredito em futuro, ainda que não possa desenhá-lo.

Quando a vida se torna morta e enfadonha demais, vêm os sonhos bons e a doce esperança vinda de não sei qual canto. Se isso não for justo, o que é?

Timidez, louca timidez!

29 maio, 2010
Alguém se aprensentava para a classe, sua colega. O assunto lhe parecia interessante, mas era quase impossível assimilar suas palavras, Lais mal as escutava. O tamborilar ensurdecedor do seu coração era quase insuportável, as mãos suavam e se esfregavam sob a carteira, os pés se debatiam. Tentava usar a expressão de tédio de seus colegas como encorajamento. “Eles também não ligarão para o que eu disser, não se importam”, pensou.

 De repente, houveram palmas e a colega voltou para seu lugar. Chegara a sua vez! Sentiu suas pernas suplicarem para saírem correndo porta a fora, mas apenas se levantou vacilante para a frente.

Como estava petrificada e muda, a professora tentou ajudar:
_Qual é o tema do seu trabalho?
_Ahm? Ah... Meu trabalho é sobre... Bem, é sobre a Civilização Grega e... ham... eles...

O suor lhe escorria nas têmporas, ela tentava desviar o olhar para qualquer lado como se pedisse socorro. Para seu total desespero todos lhe prestavam a maior atenção e fitavam-na com curiosidade. Se alguma vez na vida desejara desaparecer, com certeza foi naquele dia! Teve impulsos de chorar, nem uma linha do texto que decorara lhe vinha à língua... Branco! Desespero! Porque era tão difícil?

Sua mãos tremiam e ela tratou de escondê-las atrás das costas. Olhou para o chão tentando lembrar, apertou os olhos, esboçou palavras confusas, titubeou. Os olhos curiosos continuavam a fitá-la, agora com uma sobra de riso ou pena. Por fim, como numa atração fatal, ela se viu correndo em direção à porta aos prantos. Correu muito, sem olhar para trás. Alguém a descobriria na última cabine do banheiro? Um lampejo infantil passou-lhe pela mente: Poderia ficar ali para sempre...

Quem diria heim? Eu de volta e participando do Blorkutando. Estava com muitas saudades... As coisas estão se ajeitando devagar, mesmo não estando fáceis...

Gostei muito do tema 'timidez', Ser tímido por vezes é uma maldição, atrapalha a vida. Ontem mesmo conversava com um amigo sobre isso. A vida inteira lutei contra esse mal, mas hoje - felizmente - aprendi a coinviver com essa "qualidade". E, acredite quem quiser, sou uma tímida feliz! :D

Pré-Derrota

23 abril, 2010
Depois de muitos rodeios na tentativa de se convencer que era o melhor caminho, Alice decidiu pelo não. Não estava pronta, não era o momento, não! Não ainda...

Apertando a carta surrada, virou novamente as costas para a grande porta de vidro, sentindo uma espécie de aperto no peito. Olhou meio indecisa para o papel, lendo pela milésima vez “Carta de Recomendação”. Amassou-a num impulso de raiva pela coragem que não tinha, se arrependendo em seguida. Em casa passaria um ferro, pensou, enquanto se afastava, sentindo o peso da pré-derrota.

Do outro lado da rua, alguém esperava para atravessar. Alice nem reparou na garota comum, sem nada de especial. Mal sabia que aquela garota, que talvez nem tivesse um currículo tão bom, agarraria a sua tão sonhada chance.

/* Chances, chances... quem nunca amarelou? Todos sabemos quanto é bom o gosto de conseguir ir além dos nossos limites, mas o caminho até lá não é nada fácil. Às vezes chega a ser árduo! Devo manifestar minha compreensão à Alice, principalmente porque a derrota de nunca ter tentando é muito mais dolorosa... */

O Mundo Lá Fora

16 abril, 2010

“Fique aí, fique aí...”

A moça franzina metida num tailleur prendia a respiração, tentando conter a lagriminha danada que insistia em ameaçar pular para fora de seu olho direito. Imaginava o quão seu rosto deveria estar vermelho; o que aconteceria se ela desandasse a chorar ali? Quem era aquele homem pra falar daquele jeito? Uma avalanche de pensamentos desordenados que não a ajudavam em nada.

-Espero que eu tenha sido claro - terminou finalmente o homem engravatado à sua frente, com ar impessoal demais.
-Sim senhor - ela disse antes de se dirigir meio apressada para a porta.

No corredor, ela não resistiu... Desabou literalmente com papéis e tudo, manchando algum documento importante na sua choradeira.

Solidão... Mara se sentia só e desamparada naquele mundo em que ela era apenas mais uma peça descartável e sem importância. Aquelas palavras duras que acabara de ouvir pareciam dirigidas a um robô ou objeto programado sem sentimentos, não a uma pessoa. Pessoas erram e sentem dor. Pessoas merecem respeito à dignidade. Mara era uma pessoa, mas se sentia um lixo.

-O que foi? - Alguém saído duma das tantas portas se assustou, vendo-a estirada no azulejo branco.
-Nada, eu só caí...

Olha eu aí, heim? Que saudade...
Enfim, esse texto aí expressa meu total
medo do 'mundo lá fora'. Tantas pessoas brilhantes desistem de seus sonhos por
encotrarem pelo caminho gente incompreensiva e arrogante! Não compreendo como
alguns se poem tão acima quando na verdade todos nós vamos pro mesmo lugar...
Sei lá... Odeio muito tudo isso!
Beijos e obrigada pelos comentários no
último post. Talvez eu demore (mais ainda!?) pra respondê-los, mas estou
realmente muito grata!

Sonho Mágico

03 abril, 2010

Fazia frio, mas a pequena lareira improvisada esquentava um pouco os corpos gelados encolhidos pelo carpete. Lá fora, a neve caía em pequenos flocos e se acumulava no parapeito da janela. Mia, sentada num canto, assistia a lenha se encolhendo e estalando ao poder das labaredas dançantes. Quieta e concentrada, a garota esforçava-se para ‘ver’ algo no fogo, como era possível em seus livros de princesas, magos e encantamentos. Mia acreditava em magia, no ‘tudo é possível’. Sonhava com o dia em que aprenderia a dizer palavras poderosas capazes dos mais inimagináveis truques.

Naquele momento, o mais conveniente seria que algum alimento surgisse na mesa vazia de sua família ou então que aquela fome que castigava sua barriga desaparecesse. Seria bom também que houvesse cobertores para todos os seus irmãos e que seu pai se curasse da bebida. A pequena menina pensava em tudo isso com um sorriso no rosto, como se fosse algo que apenas dependesse do futuro, do tempo necessário até ela dominar a magia.

Assim, com os olhinhos apertados, ela persistia na árdua tarefa de ‘ler’ o fogo. O primeiro passo, segundo seus doces contos de fadas.

Exercício do Esquecer

29 março, 2010
“As piores batalhas a serem travadas
estão dentro de nós mesmos.”


Olhos fechados, você só ouve aquela música... De preferência aquela que muito te emocione, que te faça viajar ou que lhe seja agradavelmente familiar, aquela que te lembre de bons momentos.

Então, você começa a se lembrar, a materializar todos aqueles sentimentos presos, todas as angústias, todos os momentos vergonhosos. E você os enfrenta, como a tirar satisfações. Você se imagina se levantando de todos os tombos, limpando a poeira da calça e seguindo em frente; apontando o dedo na cara daqueles que lhe machucaram e dizendo-lhes todas as suas verdades, como você se sentiu magoada, como você merece respeito. E então você sorri como se perdoasse e você perdoa de fato. Você não precisa de rancores! E você continua a seguir em frente, ao som da SUA melodia. E você se sente livre. Porque você está livre...


/*Ando tão introspectiva esses dias que estou começando a me incomodar!
Há dias em que eu me sinto tão presa ao passado que tenho que recorrer a certos 'rituais' malucos... Não vejo a hora de inventarem uma pílula do esquecimento ou coisa parecida! :P */

50 Anos...

27 março, 2010
"Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meu ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito ninguém vai conseguir quebrar"


Parabéns para você... E obrigada pelo imenso legado que nos foi deixado: Sua música, sua poesia, suas fraquezas que tanto nos aproxima. Você que implicitamente nos disse: "Eu te entendo, eu sou como você"; que traduziu nossas revoltas, nossas dores e confusões. Você que há quase 20 anos disse coisas que ainda podemos cantar hoje.

Você me faz me sentir menos só, com seus versos tão humanos, às vezes depressivos, às vezes irônicos, sempre verdadeiros! Nunca lhe esqueceremos, ainda que sejamos poucos. E nunca deixarei de ouvi-lo, ainda que um dia todos esse sentimentalismo à flor da pele dê lugar à maturidade. Porque você é único e eterno, contrariando o ‘para sempre’ que sempre acaba.

/* Hoje Renato Russo faria 50 anos e eu JAMAIS poderia deixar essa data passar em branco... Desde os 13 anos que escuto Legião Urbana e vez ou outra eu 'descubro' alguma música nova pra mim, de forma que acho que vou ter a voz de Renato pra sempre em meus tocadores...
Enfim, fica a homenagem a um dos meus maiors ídolos. */

Ainda Existem Paineiras!

26 março, 2010



Ventava um pouco e as folhas e flores - mais flores que folhas - da colorida paineira se agitavam, fazendo um barulho que eu chamo ‘som da paz’. Algumas flores cor-de-rosa no chão formavam um delicado tapete meio murcho, meio vivo, meio escorregadio, mas com um cheiro bom... Cheiro de vida, de verde.

E eu estava ali, complementando o concreto e observando o lento derreter de um sorvete recém caído no asfalto, preocupada apenas com alguma saçurana cadente que pudesse me surpreender. O sol até que brilhava, mas a sombra fresca tornava aquele pedaço tão ameno...

Ouço sempre as pessoas dizerem o quanto a vida é difícil, e feia, e sofrida, mas às vezes eu insisto em pensar o contrário. "Ainda existem, paineiras!", eu argumento.

Ó pra você, ó

24 março, 2010
"Fuck you (fuck you)
Fuck you very, very much
Cause we hate what you do
And we hate your whole crew
So please don't stay in touch"
(Lily Allen)

Eu sou diferente... Tenho mesmo que admitir. Eu sou sim! Mas, quer saber? E daí? Eu não queria mesmo ser como você! Eu sou única, impar, individual. Enquanto você se esconde nos seus grupinhos, conveniências e sorrisos plásticos. Eu sou carne, sou emoção, sou erros, sou timidez, sou alegria boba.

Eu prefiro sorrir, quando eu quiser sorrir. E falar sobre meus assuntos às vezes tolos e pueris, quando eu quiser falar. E ficar quieta também... A maior parte do tempo se assim desejar. Porque eu prefiro economizar palavras a usá-las em vão.

Eu sou assim, sabe? Se isso for um problema pra você, tudo bem. Você não precisa gostar de mim, nem sorrir. Sério, não precisa. Apenas me respeite... Isso não é pedir muito, é? Acho que não... Aliás, se pra você for mais fácil me ignorar, também não tem problema. Apenas não deboche, nem me olhe com aqueles olhos virados. Porque... sabe? Às vezes eu não respondo direito por mim.

/* Hoje decidi dar um tempo nos projetos que participo... Acho que minha espontaneidade tem ficado meio de lado. Quero escrever mais sobre o que eu sinto e estar mais livre. Eu estava esquecendo que esse aqui é MEU blog... Justo eu, que odeio regras e convenções! */

A Sombra

15 março, 2010

Foto retirada do site We It.


Na faixa de pedestres, Júlia dava longos passos, apressada. Sem disfarçar, espiou o outro lado da rua, preocupada. Sim, a sombra ainda a seguia! Abraçando forte os cadernos, ela passou então a correr, ignorando os cabelos que se embolavam no rosto e o barulhinho estridente das chaves que se batiam, dependuradas em seu bolso.

Ufa! Uma rua movimentada... Finalmente saíra do beco escuro para o iluminado centro. Olhou para trás, agora mais tranquila e não viu mais ninguém a segui-la. Com respiração ofegante, ela deu um risinho de alívio e foi mudando de direção - seu destino inicial. Mas, num fatídico e repentino instante, lá estava a mão tapando-lhe a boca e puxando-a de costas para algum lugar.

Júlia deixou cair os cadernos, socou um pouco o corpanzil que a dominava, até mordeu um pouco a mão macia. Mas aí, ela sentiu o perfume... Numa questão de segundos, o medo virou raiva e a raiva -la se libertar rapidamente.

- Você é maluco, é? - gritou ela, catando os objetos no calçamento.
- Sou - ele disse e a pegou no colo - Maluco por você.

E a beijou, entre socos.

E.T.

13 março, 2010
Até aquele dia, meu segredo era só meu e de mais ninguém. Mas, chegou o momento em que eu não pude mais disfarçar...

O dia começou normalmente, eu fui pra faculdade cedo com aquela velha vontade de ficar em casa dormindo, não cumprimentei quase ninguém na sala e me sentei no meu lugar habitual. Tudo correu bem até eu sentir um comichão incomodo na testa. Não parecia ser nada grave, eu me limitei a apenas coçar. Mas aí eu percebei que alguns colegas me olhavam de soslaio, às vezes cochichando. Até que alguém comentou “Você está meio pálida...”

Devo ter arregalado os olhos e ficado ainda mais pálida ao ouvir isso. Dei um pulo da carteira e corri pro banheiro, fingi que ia vomitar pra ninguém me seguir. Tranquei bem a porta do vestiário e me olhei ao espelho, meio com medo do que veria... Era verdade! Eu estava pálida como papel, quase ficando verde-cera e, da minha testa, duas antenas já se mostravam inteiramente. Entrei em desespero, principalmente quando observei apenas três dedos na minha mão direita... O que eu faria? Iam descobrir meu segredinho...

Abri um pouco a porta, pra ver o movimento no corredor... Ninguém! Respirei fundo e fui andando na ponta dos seis pés, sorrateiramente encostada nas paredes. Parecia não haver ninguém no caminho até a porta de saída. Comecei a correr, esdruxulamente com aquela forma, e já podia ver a luz da rua, quando uma freira (o colégio era católico) apareceu do nada no meio do caminho. “Demônio!”, ela gritou, antes de ser atropelada por mim e ficar pelo caminho gritando. Eu apenas corri e, por pouco consegui me esconder no cemitério que fica próximo à instituição. Vi quando uma ambulância chegou e levaram a irmã, ainda os berros... Tive pena e até rezei um Padre Nosso.

Eu x A Sina

05 março, 2010
Naquele dia, eu senti a presença dela bem cedo, quando meu celular não despertou e eu perdi a primeira aula. Seria habitual eu me levantar desesperada e correr feito uma louca tentando não me atrasar, mas eu fiz diferente: resolvi desafiá-la! Fingi que não estava perdendo uma prova importante e levantei da cama bem devagar, olhando para todos os lados pra não tropeçar em nada. Escolhi a roupa pacientemente no guarda-roupa, reparando se não havia nem um furo ou mancha e testei o fecho ecler e os botões. Tudo em ordem!

Peguei a toalha e fui para o banho. Já adivinhando que me cabelo estaria ‘o bicho’, eu nem perdi meu tempo com escovas, mas fui direto encharcando a juba e usei um quilo de condicionador. Me lavei tranqüilamente, com chinelo de borracha pra não escorregar e telefone fora do gancho.

Pronto! Eu estava linda, bem vestida e inteira! Peguei o material, já conferido e saí, pé ante pé, forçando a perna direita a pisar na rua primeiro. Reparei se o cachorro da vizinha estava preso, se havia caca na calçada, se algum bêbado poderia me agarrar de repente... Nada! Tudo limpo, perfeito, garantido. Saí, portanto, segura e feliz, contando que chegaria à faculdade antes do terceiro horário começar.

Foi aí que meu celular tocou... Eu pensei em não atender, mas vi que era a Dani e parei pra falar com ela, afinal poderia ser algo importante. Eu não sei bem o que aconteceu depois, só lembro que, numa fração de segundos, uma bicicleta desgovernada me atropelou na calçada e eu fui parar na beirada da rua, de cara num paralelepípedo que me quebrou dois dentes. Vi meus livros voarem e todas as folhas do meu fichário se espalhar no chão. Meu celular desapareceu, roubado com certeza. Com a cara suja e sangrando, eu até tentei me levantar, mas acho que depois de alguém tropeçar em mim, eu fiquei inconsciente.

Me contaram depois que o corpo de bombeiros foi acionado e que foi o maior bafafá na vizinhança. Várias pessoas tiraram fotos minhas e eu tive que contar a história mais de vinte vezes, fiquei até meio famosa... Tudo por querer desafiar a sina de um dia ruim...

Dia Branco

27 fevereiro, 2010


Naquele dia o céu estava tão branco que parecia feito de açúcar... E como isso agradava àquela garota! Dias brancos tinham o poder de lhe retomar sentimentos passados, como se todos os seus dias felizes, tristes - marcados, tivessem sido brancos. E, por isso, ela se sentia feliz, inspirada, às vezes triste. Mas, quem disse que a tristeza é de todo ruim? Naquela branquidão, até a melancolia tinha seu tom suavizado para o aconchegante. Como se a vida fosse um daqueles filmes românticos em rosa pastel...

/* Definitivamente os dias brancos foram feitos para mim! Se eu pudesse desejar algo nesse mundo, seria ter dias brancos ao menos 200 vezes por ano (com o perdão dos amantes do sol). */

A medida de 'Amar'

25 fevereiro, 2010



“Sabe, eu te amo...”

Aquelas quatro palavrinhas ecoavam insistentemente na mente de Carla, às vezes mescladas à lembrança recente daqueles olhos, tão brilhantes e sinceros.

Agora que via Henrique lá longe, dobrando a esquina, meio cabisbaixo, ela podia raciocinar direito. As pernas ainda tremiam um pouquinho e o coração faltava pouco pra bater normalmente, mas o gostinho amargo do arrependimento, ou, talvez, da culpa, ainda estava acentuado em sua boca.

Em contrapartida, ela repetia insistentemente pra si mesma que fizera a coisa certa. Era quase uma questão ideológica pra ela: “Eu te amo” não é coisa que se diga sem ter certeza! Mesmo que ela também não tivesse certeza que não amasse...

Afinal, qual é a medida certa de ‘amar’? Isso ela não sabia, mas julgava que saberia quando o momento mágico acontecesse.

O tão aclamado amor não podia ser assim, tão simplesmente, numa ruela qualquer e muito menos declarado como uma puxada de assunto banal e tímida. E onde estavam a sensação de flutuar, as flores cor-de-rosa e a poesia? E as tais borboletas no estômago?

É, porque o máximo que ela sentiu foi uma alegriazinha de leve, vá lá uma tremurazinha ou um friozinho no estômago.

Ah! E teve também aquela vontadezinha de dizer ‘eu também’, mas que morreu no silêncio, assim como aquele primeiro beijo daquele que poderia ter sido o seu primeiro amor - mas não foi!

/* Alguém assistia Gilmore Girls (Tal Mãe, Tal Filha) quando passava no SBT? Lembro de um episdio em que o namorado da Rory (filha) disse que a amava, mas ela não disse 'eu também'. Eles chegaram a terminar por causa disso, ela ficou na fossa, enfim...

Acho que não esxiste regra nenhuma pra expor sentimentos. As pessoas já têm tantos problemas com isso, pra que complicar mais?

Te amo pode significar muita coisa, tudo depende de como e por quem é dito. Cabe às pessoas saberem interpretar, coisa que, acho, não é difícil...
*/