Distimia

19 outubro, 2009
"Eu nem sei porque me sinto assim
Vem de repente, um anjo triste perto de mim"

O sol parecia queimar a minha pele de propósito, como se zombasse do meu ridículo dia ruim. Algumas pessoas paradas na calçada conversavam ou olhavam alguma virtrine; alguém me perguntou como chegar à loja x, minha boca respondeu mecânicamente: "vá direto e dobre alí". Estranhamente, tudo parecia estar num mundo paralelo ao meu, as vozes entravam por meus ouvidos e se transformavam em ecos distantes. A maldita bolha me envolveu denovo na sua névoa sombria. Eu me sentia leve e pesada ao mesmo tempo, como se estivesse caminhando em saltos pela crosta lunar.

"Queria ser como os outros
E rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor"

Um vazio intenso e frio era tudo o que existia ali dentro. Lá fora, a vida se movia como num sonho brilhante, inacessivel e contrastante com meu universo preto-e-branco. Quase todos os meus sentimentos deixaram de existir, como numa falência múltipla e os que restaram ocuparam todos os espaços vazios... Medo, culpa, desesperança. Enquanto eu caminhava para casa, pensava no meu futuro e presente, fazendo uma equação louca em busca de respostas. "Futuro? Futuro?" A minha propria existência se projetou na minha mente como uma disforme massa, tão maleável a ponto de escorrer entre os meus dedos. "Quem roubou minha serotonina?" Meus olhos choraram lágrimas secas.

"Só me deixe aqui quieto... Isso passa
amanhã é um outro dia, não é?"
(Via láctea - Legião Urbana)