Amarrando as Chuteiras

02 julho, 2009

Uma noite dessas, eu sonhei que levava vários tiros, entre eles um fatal. Parecia tão real o momento do último disparo, consigo lembrar ainda da cena de desespero: Eu pedia por favor ao marginal que não me matasse, mas ele não teve piedade e apontou a arma pro meu rosto... Acho que eu morri, não tenho certeza pois foi quando acordei suando em bicas e chorando. Acendi a luz pra ter certeza de que estava no meu quarto, inteira e logo pude suspirar aliviada... Tinha sido só mais um pesadelo. Voltei a dormir com dificuldade, a ideia de morte estava fixa em minha mente. Sobretudo parecia muito irônico aquele meu desespero diante do fim iminente, eu não me lembrava de ser tão apegada à vida assim. Sem contar que o sonho trazia outras circunstâncias terríveis, como a morte de pessoas queridas... Porque eu imploraria pela vida daquela forma? Parece meio esquisito fazer tantas divagações acerca de um pesadelo bobo, mas às tantas da noite e ainda meio zonza pelas horas de sono, a importância real das coisas não fazia o menor sentido. Além do mais, sei lá, mas esse sonho parecia fazer algum sentido pra mim, como uma lição de vida ou coisa parecida (e essas coisas me assustam). Mas aí eu acabei dormindo de novo e não cheguei a conclusão nenhuma, como era de se esperar.

Pois que hoje, me deparando com esse tema fúnebre, a primeira coisa que me veio à mente foi esse episódio imaginário (mas muito real por meu gosto). Será que eu me comportaria daquela forma se tivesse que enfrentar a morte cara-a-cara? Eu teria tanto medo assim? Pra falar a verdade, bate um medinho só de pensar, mas acho que esse medo é mais da dor do que da morte em si. Talvez seja um medo parecido com aquele de minutos antes de arrancar um dente ou de tomar uma injeção. Tem gente que não tem medo dessas coisas, mas eu tenho, e muito! Acho que se alguém me apontasse uma arma eu ficaria pensando naquela bala perfurando meus órgãos e não no que aconteceria depois. A morte, morte mesmo é muito abstrata para nós, acho que foge ao nosso entendimento. Talvez não seja mesmo pra compreendermos, talvez não haja nada além da perda de nossos corpitchus... Quem saberá? A única coisa certa é que todos passaremos por isso, seja bom ou ruim. E, enquanto o grande momento não chega, acho que eu, como qualquer outra pessoa, estarei refém dos meus instintos pró-vida que talvez me farão implorar algum dia para permanecer aqui, mesmo que isso não faça o menor sentido. Afinal, antes de um homo sapiens pensante, há aqui dentro um ser humano frágil e cheio de heranças genéticas dos homens das cavernas que enfrentavam mamutes gigantes e feras implacáveis. Imagina se eles não tivessem medo de morrer?!