Frescuras de Mulher

16 outubro, 2009
Dia cheio! Jéssica subiu as escadas do apartamento ainda limpando as lágrimas que insistiam em manchar seu rosto de vermelho. Pegou o molho de chaves na bolsa e logo estava na sala, onde se jogou pesadamente no sofá. Ouviu sons de televisor vindos do quarto e sentiu-se aliviada por não estar só em casa. Até se animou a andar até o outro cômodo onde André, seu marido, assistia a um jogo de futebol. Pareceu não perceber a presença da mulher, que se aproximou, intencionando abraçá-lo.

-Amor...
-Hum?-respondeu ele, secamente, fazendo um gesto incomodado de 'chega pra lá'.
-Sabe, meu dia não foi dos melhores - continuou ela, persistente.
-É mesm... Olha o gol, olha o gol!!

O jovem casal vivia sob o mesmo teto há quase três anos e podia-se dizer que eram felizes. Porém, há três ou quatro meses, Jéssica andava meio triste, cabisbaixa e às vezes dizia sentir-se deprimida. André percebeu a mudança da mulher, mas não deu muita bola, achava que era pura 'frescura de mulher' ou algum teatrinho pra chamar a atenção. Seus amigos sempre lhe diziam que as mulheres eram assim mesmo e que não se preocupasse. Reforçavam a tese contando seus próprios casos domésticos.

-Amor... - Algumas lágrimas voltaram a cair de seus olhos.
-Oi? - sem tirar os olhos da TV.
-Olhe pra mim! - Ela virou a cabeça dele suavemente em direção a seu rosto.
-O que foi?! Será que eu não tenho nem mais o direito de assistir meu futebol em paz? - Fez um gesto brusco, se desvencilhando das mãos dela.
-Eu só queria conversar...
-Você não pode esperar um pouco? - Gritou ele, muito irritado.

Jéssica não respondeu, apenas se levantou em silêncio e lágrimas e saiu do quarto. André se sentiu aliviado por finalmente poder ver seu time jogar. Logo que a partida terminasse, pediria desculpas à esposa manhosa e tudo ficaria bem...

Fim do jogo! A partida tinha sido emocionante, decidida em favor do seu time nos últimos segundo de acréscimo. Satisfeito, ele foi até a cozinha beliscar algo na geladeira e aproveitar pra embromar a mulher. Mas, Jéssica não estava na cozinha... nem na sala! Talvez ela tivesse saído ou ido ao banheiro. Foi conferir por via das dúvidas.

“Amor... Você está aí?". Ouviu sons de chuveiro ligado e abriu a porta, que estava destrancada. Lá estava ela, mas não como ele imaginava. Havia muito sangue no chão do box, formando uma pequena piscina vermelha que envolvia o corpo seminu dobrado no chão. A água fria do chuveiro caía sobre o colo que apoiava o pulso rasgado. Uma navalha enferrujada repousava entre os dedos de Jéssica.

André agiu mecanicamente como se aquela cena fizesse parte de um sonho. Desligou o chuveiro e tocou o pescoço de sua esposa em busca de batimentos. Nada... Ficou paralisado um instante, olhando o rosto pálido e molhado. Ainda havia sons de televisor no apartamento do 3º andar quando alguém pulou da janela.