Férias...

19 dezembro, 2009
Ahm, estou oficialmente de férias desde a última terça-feira... Normalmente, isso deveria ser legal, mas, está sendo péssimo. É engraçado como a gente (eu) quer sempre aquilo que não tem.

Antes, quando eu tinha que acordar cedo todos os dias, rezava para chegar logo o maldito fim do ano, pra eu ter tempo de fazer as coisas que gosto. E agora, eu to aqui, reclamando, estragando a minha coluna e minha vista na frente dessa tela imprestável e me sentindo mórbida e doentia por não ter mais nada pra fazer. E, o pior: insatisfeita! Talvez seja porque eu não goste de fazer nada...

Mar/Morte

14 dezembro, 2009


O mar estava revolto, a tempestade não demoraria a chegar, carregada pelos fortes ventos que uivavam e faziam dançar os cabelos pretos de Natali. O espetáculo de raios, trovões e nuvens negras sempre a encantou, mas havia um encanto a mais quando tudo isso se juntava a um mar raivoso. Sentada ali na areia fria, ela não parecia se importar que as ondas e o pó invadissem seu vestido. Era quase um passatempo observar a maré invadir a praia e tomar seu espaço seco.

Um coco caiu do seu lado, derrubado pelo vento forte e fazendo um barulho seco na areia fofa. Sem da muita importância, ela apenas o pegou e colocou à deriva como se fosse um barco de papel. Viu-o sendo levado pelo vai e vem da correnteza até sumir na imensidão do horizonte cinza. Sentiu inveja. Queria ser assim tão leve a ponto de poder ser levada. Seria mais fácil...

Dando um suspiro de enfado, ela se levantou, desgrudando o pano preto das pernas. Olhou para todos os lados sem muito interesse, apenas pra se certificar que não havia ninguém além dela ali. Não havia. Passou a olhar só para frente e ainda sentiu mais um pouco o vento nos cabelos, levantando um pouco o queixo e fechando os olhos. Abriu os braços sem ver e foi andando lentamente em direção ao mar aberto.

A água estava muito fria, fazendo-a se sentir um pouco desconfortável e a areia lhe fugia dos pés, mas os passos continuaram avante. Vez ou outra alguma tira de alga se enroscava em suas pernas ou algum ‘lixo’ do mar vinha em direção do seu rosto. Ela sempre temera os mistérios do mar, sentia asco das criaturas que imaginava viver por lá. Virou-se tentando calcular a distância da praia, percebendo que já andara bastante. A água lhe batia quase nos ombros e seus dentes se agitavam com o frio. Um fio de pânico percorreu-lhe as entranhas. E o arrependimento...

Tentou voltar, mas já era tarde demais. Uma onda a derrubou, tirando de vez o chão debaixo de seus pés. A água salgada invadiu seu corpo em goles que lhe feriam a garganta. Alguns gritos de socorro ainda saíram de sua boca, mesmo com a certeza de não haver ninguém na praia. Outra onda raivosa rebentou, dessa vez a levando pra bem mais longe, onde não podia mais alcançar a superfície. A última coisa que viu foram seus próprios cabelos como uma nuvem preta no universo verde encardido, antes de não conseguir mais respirar.

Under the Bed

07 dezembro, 2009


O ruído ameaçador vinha de debaixo da cama. Tábata, assustada, se encolhia o mais que podia embaixo do edredom. “É só minha imaginação”, repetia para si mesma, tentado voltar a dormir. Já estava quase se convencendo quando sentiu seu cobertor deslizando e lhe descobrindo devagar. Arriscou segurá-lo, sem sucesso. Alguém o estava puxando! Cobriu a cabeça pateticamente com os braços e gritou. Chamou pela mãe, pelo pai, pelo cachorro. Ninguém respondeu. Um silêncio ameaçador invadiu o escuro, ela se sentiu numa cena horripilante de suspense e ficou esperando o mostro, ou qualquer coisa que fosse, consumar o ato de terror. Mas, nada aconteceu nos minutos seguintes.

O barulho de seus batimentos acelerados era ensurdecedor no quarto calado. Ela tentou pensar em algo lógico que explicasse o ‘fugimento’ do cobertor. Talvez ele só tivesse caído... Lembrou-se das muitas vezes que pensou ter visto e ouvido coisas inexistentes. “É só minha imaginação”, concluiu.

Com alguma coragem, a menina, assustada, foi se sentando no colchão, tentando não fazer barulho. Seus olhos, já acostumados com o escuro, não viram nada de anormal em torno da cama. O cobertor estava no chão. Com um certo alívio, mas cuidadosamente, ela se abaixou e estendeu o braço para pegá-lo. A mão, trêmula, tocou o algodão macio e já ia puxá-lo quando algo se agarrou no antebraço e puxou a garota violentamente. Ouviu-se um grito de horror e um baque de algo se chocando contra o chão. Depois, novamente o silêncio.

Livre pra Sonhar

03 dezembro, 2009


Ela não estava enjoada dos pais, nem do convívio familiar. Não se tratava de rebeldia, nem de desagrado. Era simplesmente o destino. A vida a empurrara porta a fora, fez com que seu quarto cor-de-rosa ficasse pequeno demais para seus sonhos de mulher.

“401”, mostrava o rabisco mal feito na porta branca diante de Hilda. O lugar não a inspirava muito, era estranho... Sentiu um ímpeto de voltar e deixar pra mais tarde. “Você não precisa fazer isso”, se lembrou do que disseram seus pais. Mas, algo mais forte que o receio fez a chave ser colocada na fechadura e girada. Entrou. As malas com toda a sua ‘tralha’ e um colchão foram colocados dentro, ela pisou forçadamente com o pé direito primeiro. “Pra dar sorte”, pensou.

Viu um mundo vazio à sua volta, como uma folha em branco esperando para ser escrita. O desamparo foi o primeiro sentimento... Imediatamente ela sentiu saudade de sua casa, provou do gosto gélido da solidão, teve medo.

Alguma lágrima tentou cair, mas a sua velha e amiga esperança tratou de ampará-la. Com algum esforço, os sonhos guardados começaram timidamente a ganhar forma e logo corriam loucamente pelo cubículo. A imaginação tratou de fazê-la ver quadros nas paredes, uma mobília num canto e até cortinas floridas na única e pequenina janela do aposento. Hilda viu-se cercada por todos os seus desejos e planos, que finalmente puderam mostrar-se a seu coração. Ela quase pode tocar a liberdade, sentiu que era livre, como sempre quisera. Livre pra sonhar! Não pode evitar sorrir pra si mesma. Um misto de emoções (algumas estranhas) invadiu seu peito...

Quis gritar - e gritou. Quis pular - e pulou. O colchão cor-de-rosa era o melhor pula-pula do mundo! Uma música estranha ecoou na sua mente - e ela cantou: “Livre! Livre! Livre! IN-DE-PEN-DEN-TE!”

Alguém bateu na porta: O vizinho debaixo tinha um bebê.