Fugida

20 setembro, 2010
Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(Manuel Bandeira)

Estava decidido, como se decide coisa importante: depois de pensar muito, depois de pesar as consequências e testar a saudade.

Ela ia mesmo embora, fugida. Do pior jeito, é verdade, mas, fazer o que? Se explicasse ninguém ia dar crédito, capaz até que tentassem prendê-la ou internar no hospício de Barbacena. Não! A dor ia ser maior, sabia. Talvez a procurassem pro resto da vida, talvez alguém entrasse em desespero ou apelasse pro programa do Ratinho. Dava até uma pontinha de tristeza pensar no papai, nos avós e no gato que logo ganhariam a alcunha 'abandonados'. Mas, pela primeira vez, reunindo toda a coragem que guardara pro momento, ela resolveu ser egoísta, pensar conforme sempre se gabava fazer: seguindo o coração.

Saiu de fininho, num domingo branco feito pra ela. Deixou um papelzinho 'imado' na geladeira:
"Fui me encontrar. Desculpe! Não dava mais pra viver sem mim...
Obs: Cuida do meu gato."


Acho que ficou meio cômico, mas devo dizer que o que me motivou a fazer esse texto não tem muita graça... Enfim, já estava me afastando daqui denovo, mas não quero que isso aconteça. Amo muito esse mundinho paralelo à minha realidade tosca e cinzenta... Só pra constar, adoro vocês que comentam aí com carinho.