Palidez

08 junho, 2010

Um vulto esguio se recortava contra a luz branca e gélida da lua cheia. Há 20 0u 30 metros do chão, via-se um garota equilibrando-se na fina beirola dum sobrado. Figura estranha, que fazia gelar o coração dos transeutes, brincando de corda-bamba. Por vezes até arriscava um rodopio lento com pose de bailarina, os bracinhos livres e graciosos no ar.

Logo vieram os holofortes, os gritos megafonados e a aglomeração. "Desça já!", gritou alguém, enquanto outro secretamente tramava laça-la por trás. Como a criança que era e aborrecida pelo fim da brincadeira, ela parou um instante com as mãozinhas na cintura. Ouviu-se uma doce garagalhada infantil e o baque repentino do pequeno corpo pousando agressivamente no capô de um carro, que nunca antes fora vermelho. Depois, fez-se um silêncio sepulcral e só restou a palidez da lua e dos rostos.