Caps Look

15 julho, 2010
Tlac tlac tlac... Alguém teclava nervosamente, incomodando o sono de Joice, que se revirava na cama com o travesseiro sobre a cabeça. O barulho parecia ter o poder de entrar na sua mente e ecoar como irritantes sinos.

_Já chega! – gritou pra ser ouvida e pulou da cama bem capaz de esganar alguém.Pisando forte, ela foi até a sala e empurrou a porta com toda violência e estrondo.

_Olha aqui, Ângela! Isso são horas de... Ângela? – A sala estava vazia e sem o menor sinal do zumbido de vida de seu computador. Estava desligado, apagado, e silencioso... Exceto pelo insistente tlac tlac que continuava a tamborilar na sua mente.

Chegou mais perto, devagar, com medo. Tocou no monitor, que estava frio, o gabinete idem... Não podia ser! Engoliu seco e puxou com receio a tábua que sustentava o teclado. Não esperava ver nada, mas para seu espanto suas mãos tremiam, o barulho aumentava exponencialmente, fazendo doer seus ouvidos.

Não viu nada de anormal nas teclas pretas, mas um segundo depois uma luzinha amarela se pronunciou: “Caps Look”! Joice arregalou os olhos, beliscou-se, piscou várias vezes, não era sonho! A luz oscilava como uma sirene, ficando mais forte a cada segundo. A garota, meio hipnotizada ficou olhando o brilho crescer. “Estou louca!”, pensou, com cansaço, o suor escorria das têmporas. Percebeu sem espanto que algumas letras se movimentavam e depois todo o alfabeto dançava freneticamente. Sentiu seus olhos se revirarem, uma espécie de ira cansada se injetava em sua espinha.

Num acesso de loucura, pôs-se a socar o computador, machucando a mão sem se importar. Jogou com violência o monitor no chão, chutou. Pegou qualquer coisa e martelou o teclado até quebrá-lo, mordeu os fios, atirou algumas peças contra a parede. Sentia uma raiva incontrolável.

Por fim, admirou a débil sucata morta no chão da sala. Sua mão ensanguentava, mas o alívio era tudo o que sentia. Respirou satisfeita e voltou para a cama em silêncio.