Transparente

06 março, 2011
"Desculpe, eu sou ruim com as palavras..."

Verdadeiramente, nunca disse essa frase, mas nem consigo contar quantas vezes ela surgiu na minha mente, traduzida por olhar patético, implorante que a pessoa tenha entendido o que eu tentei dizer.

Acontece que não nasci com supremo dom da comunicação, vim ao mundo pra criar, executar, construir... E que outro venda tudo isso!

O engraçado é que no tenho o menor problema em me comunicar normalmente, pedir um pão-de-queijo na padaria ou conversar sobre a coleção de primavera com o vendedor da loja de calçados; essas coisas faço com simpatia e até conquisto muitas amizades. Meu dilema começa quando preciso calcular palavras, limitar a espontaneidade, tomar cuidado pra não falar demais nem de menos.

Nem gosto de lembrar da minha curta carreira de atriz, feliz da vida e serelepe entre as coxias e o palco nos ensaios, mas duramente reprovada num teste para um filme por esquecer totalmente como se falava. Quanto a isso, posso pelo menos dizer que tentei contornar o problema... No teatro, fazia exercícios incansáveis para o 'bem falar' e me saía muito bem neles, era divertido! O que me faz pensar que meu 'probleminha' não está propriamente na fala, o que ocorre é que não sei dissimular, omitir. Quando tento, as frases tomam vida própria e parece que seu passatempo preferido é me deixar em saias justas.

Frequentemente, quando me meto a 'promotora', embolo palavras, dou voltas e mais voltas, sem, no entanto, chegar ao ponto principal. E, os esperados "o que?", devido à minha fala macarrônica são sempre um agravante à ansiedade e frustração frente a essa tão aparente limitação.

Quando mais nova, me culpava muito por ser assim, tentava mudar, ser menos 'transparente'. Hoje, ainda tento, mas já chego a pensar se o defeito é mesmo meu ou se as pessoas é que se acostumam rápido demais a ser desonestas umas com as outras. Se é estranho ouvir a verdade e ser espontâneo, acho que alguma coisa bem maior está fora de lugar... E arrisco a dizer que não é a minha língua!