Salvador de Estrelas

20 fevereiro, 2011


No litoral de alguma cidadezinha pacata, vivia um velho e famoso escritor, que se inspirava no mar e tinha o hábito de, todas as manhãs passear pela orla deserta e, à tarde escrever lindas histórias.

Certo dia, no seu passeio solitário, ele avistou mais adiante o que parecia ser alguém jogando coisas ao mar. Curioso como alguém que se interessa por tudo nessa vida, ele apertou o passo para ter com a figura que nunca vira antes por ali.

Chegando mais perto, pode perceber que se tratava de um rapaz e que o que ele atirava eram estrelas de volta às ondas. Achando aquilo totalmente estúpido, sentiu-se obrigado a interpelá-lo: –Meu garoto, o que acha que está fazendo?

–O que parece que estou fazendo? –O jovem ofegava um pouco e parecia chateado por ser interrompido.– Estou salvando essas estrelas do ressecamento. –E pegou mais uma e mais outra.

O escritor pos as mãos sobre os olhos, fazendo força para olhar ao longe. E, até onde podia enxergar, havia estrelas na areia.

–Mas, há milhares delas... Você acha que seu esforço fará alguma diferença?

O rapaz pegou mais uma, olhou por um segundo para os tentáculos alaranjados e a jogou ao mar: – Pra essa, eu fiz.

O velho deixou o garoto em paz e continuou seu caminho. Naquela tarde, não escreveu história alguma, mas, na manhã seguinte, como em todas as outras que se seguiram, passou também a salvar estrelas.
Essa história foi contada numa palestra que assisti no sábado e agora recontada pelas minhas palavras. Achei muito comovente a lição dela. Nos dias de hoje, quando tudo e todos viram números, o valor de cada vida acaba sendo esquecido... Isso é algo realmente triste, pois muitas coisas preciosas se perdem, engolidas pela lei cruel 'do que é mais importante'.