Lágrimas e Bombons

04 fevereiro, 2010

Lágrimas e bombons não têm um gosto bom juntos. Cris já havia percebido isso, mas não parava de comer nem de chorar. Chorava de ódio por ser tão feia e por ser tão medíocre. Comia porque chocolate parecia ser a única coisa agradável que lhe restava. Já fazia umas doze horas que ela estava trancada no quarto, não tinha a menor vontade de sair, nem de viver, nem de nada.

Ser ‘gordinha’ nunca havia sido um problema em sua vida antes da sétima série, quando o inferno começou. No início eram apenas alguns apelidinhos, que a magoavam um pouco, mas que ela facilmente relevava, às vezes até sorria e fingia achar graça. Mas, logo vieram os insultos, as caricaturas no quadro negro e, o que mais doía, as comparações. “A MAIS feia”, “a MAIS gorda”, “a MENOS atraente”, era o que comentavam maldosamente a seu respeito. Os garotos a olhavam com desprezo e deboche, as garotas às vezes com pena. Não era raro acontecer de toda a classe zombar dela de uma só vez. Cris, ou A Baleia, como era conhecida na escola, tornou-se uma garota triste, mal-humorada e com péssimas notas.

Em casa, a rotina era quase a mesma: chorar, comer pra esquecer e depois vomitar tudo. Às vezes, ela recorria aos laxantes da mãe, temendo engordar mais um grama que fosse. Ter um corpo magro passou a ser uma fixação em sua vida e para isso ela seria capaz de qualquer coisa.

A depressão grave veio cedo, lá pelos 15 ou 16 anos. Cris deixou de ir à escola, quase não se alimentava e raramente saia do quarto. Sua mãe a internou depois de uma tentativa de suicídio, quando ela já pesava metade do que seria o ideal.

Depois disso, ela passou a visitar um psiquiatra, mudou de escola, atingiu um bom peso. Mas, nunca mais foi uma garota normal, sempre refém dos padrões de peso. Transformou-se numa adulta problemática e com a auto-estima muito frágil. As marcas do que sofreu na adolescência persistiram por toda a sua vida.